O EMIGRANTE

Quando estive no Marrocos, fui almoçar no Kasbah Aït Benhaddou, entre o Deserto do Saara e Marrakesh. O local onde degustei iguarias marroquinas tem mais de 2 mil anos e para todo lugar onde eu olhava enxergava história pura.

Num destes locais dentro do Kasbah encontrei um poeta que me perguntou de onde eu vinha; eu lhe respondi que do Brasil! Ele me perguntou o que eu fazia num lugar tão remoto e se eu mensurava quão longe eu estava de casa; eu lhe disse que fui buscar sabedoria e que sim, mensurava que minha casa distava muito dali, mas que aquele lugar, naquele instante, me dizia muito mais do que muitos dos meus lugares. Ele então pegou uma caneta e num papel escreveu versos em árabe e me deu de presente. Eu lhe perguntei o que aquelas palavras diziam e ele, Ahmed, saudando Alá, me disse que eu traduzisse na hora certa!

Recente eu levei os escritos do poeta árabe para a tradução e eis o que descobri!

Ei emigrante! Onde você pretende ir?

Eventualmente você deve voltar, e como muitas pessoas inábeis devem ter lamentado isso antes de mim! Quantos países enormes e terras vazias você já passou e viu? Quanto tempo você já desperdiçou e quanto mais você ainda precisa perder?

Diz-me aonde você vai e se pretende voltar!

Você sabe me dizer o que está acontecendo nas nações alheias?

O destino e o tempo precisam seguir seu curso, mas se seu coração é triste, vá enfrente, ignore-os e siga apenas o seu caminho, porque se voltares verá claramente a pobreza da alma; pois aqui os dias não duram, assim como a sua juventude e a minha não duraram!

Muitos de nós perdemos a chance de sair, viajar e conhecer outras terras; você não teve este percalço e deve seguir adiante; mas não se esqueça que em todo caminho há calmaria, antros e perigos!

Vá emigrante amigo, mas não se esqueça de voltar para nos contar tudo sobre as terras estranhas; não esqueça que nós precisamos saber daquilo que tu enxergou, para que possamos alinhar nossos mapas!

Se me seguires em conselhos, dou-te apenas um: - Siga em frente imediatamente e não perca mais tempo, amigo emigrante; porque o tempo é sábio e não espera pelos que não têm respostas!

A minha resposta ao velho amigo Ahmed, poeta do Kasbah Aït Benhaddou, morador do Deserto do Saara e sábio; eu voltarei para deixar as minhas respostas, pois depois do Marrocos, muitas foram às terras por onde passei; muitas foram às alegrias e muitas também foram os dissabores que tive e cada uma delas serão expressado em minha carta. Espero poder vê-lo novamente, firme, forte e sábio!

Salaam Aleikum

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

O amigo Emigrante!

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 18/02/2011
Reeditado em 18/02/2011
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