Laranja Baiana
Roberto Mateus Pereira

Recordo-me como se fosse hoje, quando ainda adolescente, assistia à saída de inúmeras caravanas de pescadores que deixavam Paraguaçu Paulista com destino ao Mato Grosso.

Aquilo aguçava minha imaginação, me transportava para terras desconhecidas, selvagens, de onde eu pescava grandes peixes, dezenas de vezes maiores do que aqueles "mirradinhos" lambaris que estava acostumado a pescar nas águas do "Burrinho".

Muitas histórias destas caravanas acabaram se transformando em assunto obrigatório nas rodas de amigos, principalmente daqueles que adoram dar um "banho na minhoca" e o Durma com essa foi buscar no fundo do baú um causo ocorrido com um grupo de pescadores de Paraguaçu Paulista. Estávamos participando de um "bate-papo" com alguns amigos pescadores quando um deles comentou uma, verídico, ocorrido com alguns pescadores de nossa cidade.

No início dos anos 60, os amigos Tersilo Gregolette, Mozart Barbosa, Antonio Gonçalves Neto e outros, resolveram realizar uma pescaria numa fazenda localizada na região de Andradina, Mato Grosso, de propriedade de Osvaldo Duarte.

Naquela época a pesca era abundante e nenhum pescador perdia a viagem, seja pescando no Mato Grosso ou no São Mateus.

Após alguns dias de farta pescaria, os nossos personagens resolveram tomar o rumo de casa, pois tinham muita poeira para "engolir" para chegarem até a "Princesinha da Alta Sorocabana".

Na hora da partida o fazendeiro Osvaldo Duarte resolveu presentear os amigos com um "baita" saco de laranja baiana o que foi aceito sem pestanejar.

A viagem de retorno foi tranqüila até o Porto Quinze, onde a caravana teve que fazer uma parada obrigatória para que a Polícia Florestal realizasse a fiscalização de praxe.

Tudo ia às mil maravilhas, até que um dos policiais chegou aos amigos e lhes disse que o saco de laranja baiana não poderia seguir viagem, o que deixou todos boquiabertos.

- O que fazer? Como deixar para traz tão bonitas laranjas? - todos fizeram a mesma pergunta.

Após muita confabulação, o grupo se aproximou dos policiais, apanhou o saco de laranja e o arrastaram até uma grande sombra que havia nas proximidades.

Todos se sentaram ao redor daquele imenso saco de laranja baiana e passaram a chupar uma após outra, acabando com o seu conteúdo em pouco tempo e o enchendo com as cascas e bagaços o saco vazio, enquanto que os policiais olhavam estupefatos, não acreditando no que viam.

- Porque vocês chuparam todas as laranjas? - perguntou o incrédulo policial.

- O senhor disse que o que o saco não seguiria viagem. Não é verdade?

- Perfeitamente. - respondeu o policial

- Pois é, já que ele não pode passar cheio, nós resolvemos deixar somente o bagaço, fica mais leve para transportar.

E lá se foram eles rindo com a peça que pregaram nos florestais.

Escritor Paulista
Enviado por Escritor Paulista em 17/02/2011
Código do texto: T2798104
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