ZÉ VENETA

ZÉ VENETA

(Levy P. Menezes)

José Tranquilino Amoroso da Paz, mais conhecido por “Zé Veneta”, procurou uma clínica oftalmológica, pois notou que um dos seus olhos estava precisando de cuidados médicos. Na clínica havia somente quatro pessoas, cinco com ele, que foi o primeiro a chegar. Dez minutos depois ali já se encontravam mais de vinte pessoas.

Número um, gritou uma atendente. Lá se foi o Zé Veneta, tão apressado quanto um cágado. Ao chegar ao balcão a atendente lhe perguntou:

- Como se chama ?

- Eu vim aqui somente para fazer um exame de vista e você já quer saber a minha graça?

- Graça! Que graça? Eu quero é saber o seu nome.

- Pois é. Além de tudo, é parva. “Graça” é nome de batismo.

- Então, por obséquio, senhor, como é o seu nome de batismo ?

- Que importância tem o meu nome, já que o problema está na vista ? Se me chamo Pedro, Francisco ou Genuíno o diagnóstico não será o mesmo ?

- Senhor – disse de maneira cândida a atendente – o seu nome é necessário para que eu possa fazer a sua ficha.

- Ah, a tal da ficha! Isso é coisa de polícia ou de banco. No banco você tem que ser fichado, para que o gerente analise se você precisa ou não de empréstimo.Se você precisar, ele não empresta. Se você não precisar, ele empresta. Agora a mania das fichas chegou às clínicas. Mas, como eu não tenho a quem apelar, meu nome é José (com “s” e acento no é) Tranquilino Amoroso (tem gente que grafa com “z”, mas é com “s”) da Paz (“p”, “a”, “z” e não “pais”.

- O senhor já é paciente... A moça não terminou de falar e o Zé Veneta foi logo dizendo: - se eu já sou paciente! Já sou, não, eu sou paciente desde que nasci. Se não fosse já teria explodido com tanta pergunta idiota. Além do mais...

- Senhor, por favor, peço a sua atenção – disse a atendente, quase suplicando. Paciente, na terminologia médica, é aquele que padece, que está doente, que está (ou estará) sob cuidados médicos. Assim, o que eu quero saber é se o senhor já consultou o médico ou é a primeira vez.

- Olha só! Por que não fala as coisas às claras? Eu já tive sarampo, caxumba, febre amarela, etc., e, conseqüentemente, já consultei médicos. Não é a primeira vez. Isso tem alguma conseqüência a meu favor ou desfavor ? E se for a décima vez, tal fato tem alguma relevância ?

Nesta altura, uma outra atendente, percebendo a encrenca em que se metera a colega, resolveu acudi-la, dizendo-lhe que um chefe a chamava.

- Por favor, senhor – disse a nova atendente – qual é a sua idade ?

- Sabe que você é mais inconveniente do que a outra ? Não gosto de falar sobre idade. Tenho trauma de infância. Minha mãe me levou a um colégio para matricular-me. A Diretora perguntou a minha idade, ao que respondi que tinha 12 . Doze ? – intrometeu-se um guri ruivo, já matriculado. 12 é metade de 24. 24 é veado. Então, você é meio veado. Fui expulso antes de ser matriculado, pois quebrei a fuça do enxerido.

Com muita conversa, habilidade e paciência, a nova atendente conseguiu do Veneta a informação de que tinha 48 anos. Foi aí que o caldo entornou, pois um gaiato, já fulo com o “mala”, gritou lá dos fundos: Ô cara. É você mesmo – e apontou-lhe o dedo - acaba de baixar em mim o espírito do guri ruivo. Você, agora, com 48, pela lógica do Guri, é duplamente veado, sabia ?

O tumulto foi grande. Muito barulho e palavras impublicáveis transformaram o ambiente numa bagunça indescritível. Minutos depois...

- Senhor Veneta – disse a atendente – terminamos. Sua ficha está pronta. Agora é só esperar. Mas, por favor, um pouco de humor não faz mal, tá?

- Tá, vou tentar. Mas, por falar nisso, como é o nome do médico?

- Dr. Firmino Podestá, informou a atendente.

- Obrigado. Posso entrar no consultório ?

- Não, seu Veneta, o médico só chega às 14 horas.

- Sei lá, às vezes ele podestá, não

E saiu com um sorriso sarcástico, gaiato.

levy pereira de menezes
Enviado por levy pereira de menezes em 02/11/2006
Código do texto: T279775