Bente Altas
Carrego uma lembrança da minha infância que no mínimo causa inveja em muita gente; a das brincadeiras do interior de Minas.
A minha meninice não fora coberta de abastanças, como a de outras crianças, mas envolta a bênçãos por ter tido um lar de coompreensão entre os irmãos e de muita solidariedade com a vizinhança.
Brincadeiras de todos os tipos, praticávamos: garrafão, roubar bandeiras, bola de gude, bola de meia, passar anel …
Próximo à minha casa havia/há um Hotel para servir aos ingleses que vieram trabalhar na mineração de ouro – Hotel dos Ingleses. Acostumado a frequentá-lo com meu pai - ele trabalhava na mineração com os ingleses – ficava deslumbrado com o ambiente.
Portas altas, vidros belgas, possuia o hotel. Dois pavimentos ostentavam a bela construção. Em forma de ferradura, um jardim com várias plantas vindas de Londres, adornava a construção em seu interior. Dálias, crisandálias, boca-de-lobo, papoulas, rosas, lírios e tantas outras plantas desfilavam suas cores e perfunes.
Um salão de festas com o piso revestido por tacos, ora servia para comemorações dos ingleses, ora era emprestado ao Estrela Futebol Clube para realizar seus bailes.
Quando o hotel fora desativado, demos serventia ao salão. Fizemos dele uma quadra poliesportiva. Uma bola de meia rasgava seu chão taqueado e só parávamos quando a mãe, de um dos colegas, viesse chamar algum de nós.
Depois do futebol – este era o’concour, pois ficava uma renca de moleques de fora, aguardando sua vez – a brincadeira que mais nos chamava a atenção era o “Bente Altas”.
Herdada dos ingleses, esta brincadeira consistia em dobrarmos gravetos (bent) e com eles formarmos uma casinha. Com duas duplas de colegas, ficávamos protegendo esta barraquinha com um toco na mão. A bola de meia era arremessada (out) tentando furar a nossa guarda e derrubar os gravetos.
Com o toco, cada qual defendia sua casa. Quando isso não acontecia, aquele que deixou a bola passar e derrubar os gravetos, saía em disparada para resgatá-la.
Enquanto isso a outra dupla, os parceiros trocavam de lugares, um com o outro. Era uma verdadeira corrida de Fórmula I, pois o salão bem encerado, transformava-se em um real escorregador para os parceiros atingirem o alvo. Quanto mais davam voltas, mais pontos conseguiam.
Ali passávamos horas e horas sem preocuparmos com nada – principalmente no período de férias do verão que era mais delongado.