O AVIÃO

Sô Marico assim falou, que isto aconteceu na fazenda do ti Deco. Uma fazenda grandona, muito gado, uma manga coalhadinha de porcos, uma lavoura de café com mais de dez mil pés, oito casas de agregados, mais de vinte camaradas a trabalhar, na hora do almoço , todo mundo na casa de ti Deco ia almoçar. Um farturão, as tuias todas repletas de arroz, feijão. O paiol lotado de milho, muitas latas de gorduras cheinhas de carne cozida. Estava na época da colheita do café, o sol brilhando como só, e todos camaradas na lavoura, puxando cada galho carregadinhos de frutos, estes no pano caindo esparramados ao pé. Guilhermina na cozinha preparando um café com aqueles biscoitos de pêta, pra servir pro pessoal, que no cafezal estavam fazendo a apanha. De repente o gado todo espantado, os porcos na manga assustados, correndo de um lado prá outro, as galinhas com os pescoços empinados, parecendo que viram cobra, os cavalos relinchavam e todos que no cafezal estavam apanhando café, num minuto já estavam na beirada do curral. Pelo ronco que ouviram, alguns até tentaram aos outros se acalmar, talvez isto seja um açude arrebentado, pode ser também uma boiada estourada. Guilhermina, que da cozinha assistia, foi na sala e apanhou todas as armas que tinha. Era uma mulher decidida, pra ti Deco foi dando a melhor das carabinas e pra ele foi falando, seja o que for Deco atira, atira pra matar, pra nunca mais aqui voltar e fazê agente arrepiar. Zé guilherme olhou pro céus e gritou Guilhermina tio Deco, veja lá nos céus. E Guilhermina com outra carabina pro céus sai atirar e gritando pro ti Deco , atiiiiiira deco não dexa ele passá, atiiira deco e o montro dos ares, no horizonte sumiu. Só depois de muito tempo que souberam que aquilo que eles viram era um tá de aeroplano, que pra nós hoje, é o avião.