CHICO RÔLA

Zacarias chega gritando, ó pessoal tá na hora vamos embora antes do dia clarear. Isto já era umas três e meia da madrugada de uma quarta feira.

Nas margens do Rio Pará com destino a Dores do Indaiá, uns oito peões com seus cavalos, mais quatro mulas carregadas com os apetrechos necessários pra toda comitiva. Seguiram viagem, muito sol, ora uma chuvinha fina, mais nada que impedisse a comitiva a continuar sua viagem. Passaram por Pompéu em cada parada sempre uma boa acolhida, às vezes até o jantar o pessoal da comitiva era oferecido, por todos os lugares onde passava, por aquelas gentes humildes, fraternas e hospitaleiras como sempre, foram naquela região. Quando a comitiva partia deixava muitas lembranças a esse povo, viola, violões, e as rodas de viola que acompanhava a peonada. Os animais já sabiam até o caminho a seguir tantas vezes ali passaram. Na viagem às vezes silencio, às vezes cantarolar de um peão solitário, o cantar da juriti, uma sombra perto de uma aguada para um pequeno intervalo e assim ate chegar em Abaete, logo à frente numa fazenda perto do velho Chico, nas mediações da marmelada e dos veados ali tinha um fazendeiro com muita terra, terras boas, cultura pura, muitas cabeças de gado, homem forte, rigoroso com seus negócios, honestidade acima de tudo tinha uma certa idade e por todos ali da região respeitado. Mas tinha um problema todos da região conheciam por Chico rôla, só que ninguém se atreveria ou teria a voraz vontade de chamá-lo por Chico rôla, somente sô Chico, se chamassem; já tinham visto falar, que o homem virava uma onça com vontade de matar, quem quer que seja se esta palavra pronunciasse. A comitiva já sabia do fato, logo os peões chegaram na fazenda, pois sempre que por ali passassem era lá a hospedagem. Apearam e procuraram por Sô Chico, e pediram a permissão pra peonada pernoitar, Sô Chico recebeu os bem e logo foi adiantando que naquela noite por problemas de lotação, não havia vagas na fazenda, mais como de praxe resolveu oferecer a comitiva, consultar um novo vizinho bem perto dali talvez ele garantisse a pernoite a comitiva. Com muita alegria, todos seguiram Sô Chico a este novo fazendeiro.

Luizão caboclo forte, com sangue de aventureiro, resolveu por ali naquelas redondezas tentar algum dinheiro numa nova propriedade e ainda que casado de novo com a jovem Lúcia, mulher bonita, tímida muito prendada e como todas da região não faltava hospitalidade. Só que Luizão advertira; cuidado, quando Sô Chico aqui estiver não pronuncie Chico rôla se não ele vira uma fera. Logo a comitiva foi chegando Sô Chico cumprimenta Luizão, apresenta todos, a peonada apeia e também cumprimentam Luizão, que convida a todos, pra casa grande prum cafezinho tomar. Todos acompanham Luizão, por espanto da peonada a casa era deveras muito grande, varanda por todos os lados, muitas janelas grandes daquelas de duas bandeiras, a sala era enorme onde toda peonada nos bancos se acomodou. Lúcia na cozinha um café ia preparando e toda turma na sala proseando, conversa vai, conversa vem, Sô Chico logo falou do motivo da visita, Luizão com ares de satisfeito ofereceu a comitiva todos os quartos necessários, que na casa se encontrava vazios. Lúcia na cozinha preocupada; sô Chico ta li, mais eu não posso chama ele de Chico rôla se não ele briga, é Chico rôla eu não posso chama, só posso chama de sô Chico, menos rôla. Preparou a cafeteira, a bandeja com as xícaras e a sala foi entrando e servindo o cafezinho, por sinal muito cheiroso, a luz da sala muito fraca, pois a lamparina pendurada acima da mesa, numa travessa da cumeeira, não permitia que sô Chico percebesse que a xícara não tinha asa, e com os dedos correndo em volta da boca da xícara procurava e não encontrava, nisto Lúcia vendo a dificuldade de sô Chico, foi logo dizendo sem ao menos perceber a gafe que teria dado. pode pegar Sô Chico que esta não tem rôla não, foi um silencio profundo até a respiração da peonada se houvia, Lúcia com o rosto vermelho de vergonha pra cozinha retornou, sô Chico agradeceu Luizão e disse, a prosa ta muito boa mais tenho que ir, pois tenho muito que fazer, a peonada foi pra fora, desarreou os cavalos, soltou no pasto e logo caçou cama, nisto Luizão apagou a lamparina e foi dormir. Até hoje, ninguém comentou o fato daquele dia, somente Zacarias há pouco tempo lembrou.