O RÁDIO
Tonico chegou, apeou, puxou o cavalo até o cocho de vinhático, debaixo da gameleira e pós pra egua beber. Verificou no curral, se estava tudo ajeitado de seu jeito, voltou, puxou o cavalo desarreou, e a arreata pendurou num gancho dentro do quartinho ao lado do paiol, soltou seu cavalo no pastinho no fundo do curral soltou a egua no pastinho, que era o mais verdinho de toda fazenda. Empurrou a porta da sala que estava serrada e encostada com a mão de pilão, quando ia cair num golpe certeiro estava com ela na mão. Entrou e de novo encostou a porta, pra cozinha caminhou , já era mais de onze horas, hô Lica tô cuma fome daquelas, ué cadê os home, - hô antoim , todo mundo já vorto lá pra roça a trabaiá uai. Ta bão Lica, Lica sê sabe muie, nois tá é no fim do mundo sá. Vê ocê, eu pasano lá peirto da casa da sogra, bem lá na rua quinze, ”um comercio de armarinhos que em Dores do Indaiá tinha” o Zezé me chamou, fomos até a casa dele, e bem na sala ele ligou uma caxa, assim quadrada, dum dois lado tinha filó, dos outros treis era só taba, e a danada da caxa começo a fala. Eu fiquei ‘la mui tempo escuitano, gente inté de uma tá de sum paulo tomem tava lá falano. Fiquei assim meio desconfiado, mais ele intão me conto de uma tá de novidades, que o povo tava inventano, intão creditei, mais tomem, falei prêle, que vo leva océ, lá pra iscuita tomem. E é bao tomem que assim ocê num fica pensano que tô mintino. Hô antoim cê é memo um bocó nem sô, onde sê já se viu de caxa fala, só ocê memo home de deus credita em tudo que os otros te mostra! , ta bão lica, tá bão, um dia ocê tomem vai escuitá. Passaram uns dias, Antônio Izaias, pra cidade tinha que ir, e dona Lica também tinha. Levantou bem cedo, ajudou a tirar o leite , avisou pro Marico que hoje o creme na cidade era ele que levava. Chamou a dona Lica, as latas na charrete se encontrava , pra cidade seguiram. Entregaram todo o creme, Lica fez o que tinha na cidade a fazer, e na hora de voltar, Antônio Izaias falou, vem cá hô minha veia, bem ali na rua quinze vo mostra a tá de caxa que fala. Dexa disso anToim, já é mais de deis hora, tenho que o armoço fazê. Não Lica, agora ocê vai tê que me escuita, pra dispois num falá que sô de novo um bocó. Chegando na casa da sogra, Sô Antônio cumprimentou o Zezé, e logo foi lhe falando o motivo daquela visita, somente pra ele ligar aquela caxa que fala e a Lica ali mesmo pudesse comprovar que ele não estava mentindo e que também não era bobo. Zezé atencioso chamou dona Lica, levou juntamente com sô Antônio Izaias pra sala e poder demonstrar. Dona Lica ressabiada, entrou , puxou um tamborete e bem ao lado da caixa que fala sentou. Zezé então ligou, e logo em pouco tempo, as velas esquentaram, e a caixa começou a falar, dona Lica levou um susto, puxou a caixa prum lado e começou a procurar e nada de encontrar, cochichou no ouvido de Antônio Izaias e pra ele falou, tô te falano sô, tem gente lá dentro daquela caxa. Sô Antônio então pra Lica falou, fica calada muie, se não eu vô mais vergonha passá. Não antoim, tem gente dentro da caxa. Zezé dali pertinho, então pode ouvir, e abrindo toda a caixa, pra dona Lica mostrou e com ela falou, Dona Lica, isto é apenas um rádio dona Lica. Dona Lica pegou no braço de sô Antônio Izaias, despediu-se de Zezé, e com Antônio Izaias falou: vamo bora antoim, pois não é, que tamo no fim do mundo.