TOIM DO BONECO

TOIM DO BONECO

Família tradicional da cidade, fazendeiros de médio e grande porte, o Toim como os outros irmãos tinha uma boa fazenda, bons gados de corte e muitas vacas leiteiras. Sua vida era fazenda cidade, cidade fazenda a cuidar de seus afazeres. Na cidade tinha uma grande casa, conhecida como casarão do Toim do boneco, ao lado do grupo e pertinho da praça matriz.

Ali vivia sua esposa e filhos, todos na idade escolar. Seus amigos o intimaram, para que nestas eleições fosse candidato pela legenda do prefeito atual. Toim resistiu e dizia que não era homem de envolver com políticas, acabaria prejudicando seus negócios. A insistência de seus amigos persistiu e Toim acabou aceitando, disputar uma vaga no legislativo. No transcorrer da campanha, Toim do boneco apareceu em nossa casa, foi pedir votos ao Sô Marico, meu pai era muito conhecido pela lealdade ao afirmar seu voto, poucos políticos pediam seu voto por saber que já tinha definido seu candidato. Sô Marico agora tem uma máquina de beneficiar arroz, e o Toim, todo arroz que precisava, beneficiava lá. Neste dia chegou cumprimentou o velho, e foi logo dizendo.

- Sô Marico hoje eu não trouxe arroz para beneficiar.

- Uai Toim se ocê num troce arrois pra limpá, inton se tá precisano de arguma coisa.

- Sô Marico, hoje eu vim aqui pedir o seu voto e o da D. Terezinha, nas eleições para vereador.

- Ué Toim intom, ocê e memo candidato sô, eu num sabia, mais como eu ainda não arssumi compromisso cum ninguem, pode contá com o meu e o da minha muié, cum estes dois votos cê pode contá.

- Hó Sô Marico o senhor me deixa muito satisfeito, só não pode fazer o mesmo que o pessoal do Zeca raso fez comigo.

- Uai Toim que queles fizero.

- Sô Marico, não sei se o senhor conhece a fazenda dele.

- Não Toim num conheço.

- Lá é assim Sô Marico, a família toda mora em volta da sede, ajuntando todos que são eleitores são para mais de vinte votos, ai resolvi pedir os votos lá mesmo na fazenda.

- É Toim seno tanto voto assim vale a pena né.

- Pois é, cheguei lá, chamei Sô Zeca, logo num instante no terreiro da sala não cabia tanta gente, era filhos, filhas, genros, noras, até netos que já votava tinha. Pensei comigo mesmo, vou lavar a égua aqui na casa do Zeca raso de tanto voto. Pedi o voto a todos eles, e eles na maior simplicidade, me garantiram, só faltou jurar, que nas eleições o voto para vereador seria meu. Satisfeito, agradeci a todos entrei na camioneta, peguei a estradinha que sai do terreiro da sala, entrei na estrada que liga a fazenda, numa curva a uns cem metros olhei pelo retrovisor, Sô Marico fiquei muito desapontado sô, pareciam que tinha combinado de fazer aquela coreografia, todos ao mesmo tempo, levantaram o braço esquerdo de punhos cerrados segurando com a mão direita o músculo do braço esquerdo, viraram em direção a camioneta e repetiram umas três vezes este gesto, não contei mais, pois acelerei a camioneta e a poeira levantou, assim não dava para eu ver, agora nem coragem de voltar lá tenho.

- É Toim coitado doce uai, te deram foi banana, aqui im casa pode fica sussegado, que gosto muito docê nunca vô, fazê isso.

Passou as eleições Toim não foi eleito, más também, Toim hoje, não quer nem ver falar em candidatura. Sempre lembra, como outras vezes lembrou ao Sô Marico, dos votos que lavou a égua na casa do Sô Zeca raso.