MISTÉRIOS DO PARANAPANEMA
Quatro horas da manhã. Os peixes começavam a escassear e já bastante cansados, eu e meu companheiro resolvemos dar um tempo. Subimos o barranco, tomamos uma talagada da “marvada”, acendi um “paieiro”, deitei-me na rede e ficamos conversando. O amigo por seu turno, sentou-se á mesa rústica feita pelos pescadores. Sobre ela, nada mais que um copo, um litro de cachaça e um litro de refrigerante vazio, com um pouco de areia dentro, servindo de base para uma vela, funcionando na forma de um lampião improvisado, o qual usávamos na pescaria. Conversamos sobre os acontecimentos da noite por uns quinze minutos, quando então bucho quebrado(apelido do amigo) resolve ir para a barraca tirar um cochilo.
— Você não vai? Perguntou ele.
— Não, vou ficar mais um pouco aqui. Logo vai amanhecer, quero ver o Sol nascer.
— Está bem, até daqui a pouco.
Assim que ele entrou na barraca, um fato impressionante aconteceu, foi coisa de segundos, mas eu vi. Eu estava ali e vi tudo.
Bastante impressionado, mas com uma serenidade fora do comum, gritei.
— Oh bucho quebrado! Corre aqui!
— O que foi? Voltou ele rapidamente.
— Onde você deixou o “litrão”?
— Ora, aqui em cima da mesa, ué!
— Eu sei, mas em que lugar da mesa?
— Aqui nesse canto. Disse ele apontando o canto esquerdo da mesa.
— Pois é, e onde ele está agora?
— Aqui. Apontou o outro canto. Por que pergunta?
— Foi só para confirmar. Ah! Você me viu levantar da rede?
— Não, você não levantou da rede, eu tenho certeza disso, não deu tempo.
— Eu também. Então, como esse litro foi parar aí!?
— Sei lá! Ta acontecendo alguma coisa aqui que eu não saiba?
— Está. Se eu contar o que vi aqui, você promete que não vai contar pra ninguém?
— Prometo, mas por que eu não devo contar?
— Ora! O que aconteceu, contando, ninguém vai acreditar.
— Está bem. Prometo.
— Muito bem, você entrou na barraca, eu continuei deitado na minha rede, fumando e pensando. Foi quando, de repente aconteceu. O litro de cachaça se elevou sobre a mesa, fez um movimento como se tivesse colocando uma dose num copo, apesar de não ter derramado nada, permaneceu no ar por alguns segundos que para mim parecia uma eternidade e depois pousou novamente sobre a mesa, só que dessa vez do outro lado, aí onde está agora. É como se uma pessoa invisível, tivesse pegado o litro e tomado um trago.
— Meu Deus! Exclamou ele. E você não ficou com medo?
— Com medo fiquei. Arrepiei todo, mas fazer o que?
— Sei lá! Eu é que não fico mais aqui. Vou pra dentro do barraco. Você não vai não?
— Vou não, vou ficar aqui e ver se acontece outra vez.
Fiquei lá até amanhecer, tendo como testemunhas as últimas estrelas e aquele maravilhoso e misterioso rio, que continuava sua caminhada a seu objetivo final, mas nada mais aconteceu. No outro dia, retornamos para a cidade e meu companheiro, na empolgação de uma boa pescaria, contou pra quase toda a cidade o que tinha acontecido inclusive o que ele havia prometido não contar.
Voltamos muitas vezes no local, mas nunca mais tive uma pescaria tão recheada de mistérios. Mistérios do Paranapanema.