PALAVRA DE HONRA

Hilarião. Este é o nome do personagem dessa história. Ganhara este nome por insistência da avó materna por ser ela devota a esse santo que poucos, muito poucos, conhecem e nem sabem de um milagre a ele atribuído.

Hilarião era o filho mais velho de um bem sucedido ladrão de cavalos e que anos atrás, num ato de covardia, havia matado o capataz de uma fazenda.

O pai só encontrou sossego quando da sua morte, pois vivia dizendo que o espírito do infeliz lhe aparecia até durante o dia.

Hilarião cresceu ouvindo o martírio do pai e outras histórias de assombração

que acabou ficando tal o pai. Temia tanto que não saía à noite nem para fazer suas necessidades, preferia a janela.

Mas tudo na vida tem sua hora e Hilarião não pode faltar a um compromisso de visitar a irmã moribunda distante algumas léguas e soube da noticia já no fim da tarde. Encilhou dois cavalos, carregou os dois 3 oitão e convocou o caboclinho Elias, peão de serviços eventuais, para ser seu guarda-costas naquela viagem. Hilarião se benzeu, colocou no bolso do paletó uma dúzia de santinhos protetores e obrigou Elias a jurar fidelidade.

Madrugada e cansados, Hilarião propôs descanso num velho rancho abandonado e implorou a Elias que não fechasse os olhos nem por um instante e diante de qualquer suspeita, lhe acordar.

Um vulto se aproxima, poderia ser um animal, mas não era. Era um homem alto e forte e tinha nas mãos um reio usado para surrar animais. Não pensou duas vezes, sacou seus dois revólveres e doze estampidos ecoaram dentro da noite. Um tiro raspou o braço de Elias que de dor, gritou feito um animal o que fez com que Hilarião voltasse a si.

Envergonhado, o valente perguntou a Elias onde estava o intruso e recebeu como resposta que não havia intruso algum, que o patrão estava delirando, que sua palavra de honra fora cumprida, não cochilou nem um tiquinho.

Moral da história: O medo ainda é o maior inimigo do homem. (Machado de Assis)