O Caso do Micro Estragado
I
Este caso aconteceu com um dos servidores da Diretoria da Secretaria de Informática da cidade de Belo Horizonte. Aproveitamos o momento para homenagear - na pessoa do nosso colega Mário que nos enviou essa história – todos os demais companheiros daquela Diretoria.
II
Certo dia os funcionários do atendimento em informática aos usuários da 2ª Instância da Justiça do Trabalho estavam como de costume se dedicando às suas tarefas e atividades do dia-a-dia, ou seja, atendendo aos mais variados chamados e pedidos de ajuda ou consertos referentes a todos os possíveis problemas relacionados à informática, ao uso, funcionamento e montagem de computadores e seus sistemas.
Foi num dia habitual de trabalho que um dos servidores daquela diretoria recebeu por telefone um urgente pedido de socorro vindo de uma assistente de Juiz (atualmente se diz: Desembargador) do Tribunal.
Ela se achava muito nervosa, pois – como dizia - deveria entregar ainda naquele dia um voto para o Juiz Relator de um determinado processo e não poderia atrasar-se em hipótese alguma.
Entretanto, parecia ter dado uma pane geral em seu computador: ele se recusava terminantemente a funcionar, como se estivesse iniciando naquele momento uma verdadeira “revolta das máquinas”.
Dessa forma ela solicitava que um dos funcionários se encaminhasse com urgência até ao local aonde ela se encontrava para detectar o referido problema e proceder ao imediato conserto do seu micro.
Vai abaixo - na íntegra e palavra por palavra - o diálogo travado ao telefone entre o servidor da Diretoria de Informática e a assistente em apuros:
III
Trim... Trim... Trim...
(Som repetitivo de chamada em um dos telefones localizados numa das salas da informática)
- Muito boa tarde. Informática. Em que posso ajudar?
- Eu sou a assistente do juiz Fulano de Tal. O meu computador parece não estar funcionando muito bem. Gostaria que mandassem com urgência algum funcionário para consertá-lo!
- Pois não! Em que andar se localiza o gabinete do juiz Fulano de Tal?
- Não, não, eu não estou no gabinete. Estou trabalhando em minha residência devido à necessidade e urgência. E – me faz um favor - peça que venham o mais rápido possível, pois tenho que entregar esse voto ainda hoje!
- Bem - minha senhora - lamento informá-la que não podemos deixar o prédio do Tribunal para proceder ao conserto de computadores pessoais nas residências de funcionários ou de juízes...
- Como não?! Mas então como é que eu vou fazer para concluir o meu voto?
- Bom, aí eu não sei dizer não senhora...
- “Não sabe dizer”?! Mas você ao menos sabe com quem está falando???
- A senhora já me disse que é a assistente do juiz Fulano de Tal. O problema é que as ordens da Administração do Tribunal são bastante claras e rígidas a esse respeito: de maneira alguma podemos nos ausentar dos nossos postos e locais de trabalho para realizar qualquer tipo de assistência técnica nos computadores dos senhores juízes ou funcionários. Ainda mais que – e a senhora mesma pode imaginar - somos solicitados a cada momento e durante todo o expediente a efetuar inúmeros e variados reparos e consertos em nosso próprio sistema de informática e nos computadores localizados nas Diretorias e nos Gabinetes dos juízes...
- Mas...
-...e se nos ausentarmos do prédio, quem realizará os referidos serviços? Mas se a senhora me disser o que está acontecendo com o seu micro, talvez eu possa ajudá-la a descobrir o provável defeito do aparelho de modo a solucionarmos juntos a dificuldade...
- Bem, se é assim, vamos lá! O caso é que o meu micro não liga, não quer ligar de jeito nenhum. Já tentei de tudo e nada!
- Certo! Vamos então começar do início. Primeiramente me faça a gentileza de verificar se o filtro de linha está conectado...
- Desculpe-me, meu senhor, mas eu não sou nenhum experto nem tenho grandes conhecimentos em informática! Como é que vou saber se o filtro de linha está conectado se nem sei o que vem a ser ou onde se localiza um “filtro de linha”...
- Mas não tem mistério não: filtro de linha é o local onde a tomada de energia do deu micro deve estar conectada...
- Ah, sim, agora entendi. Já estou vendo... Só mais um instante: ela se encontra bem debaixo da mesa e está um pouco escuro na minha sala. Ah, achei: o tal filtro de linha se parece muito com uma grande tomada, não é mesmo?
- Sim, é exatamente isso.
- Só mais um momento, então... Pronto, já vi. De fato a tomada do meu micro está ligada ali... no tal filtro de linha.
- Por favor, verifique agora se há uma luzinha acesa na superfície superior do filtro de linha.
- Uma luz acesa? De que cor?
- Geralmente é uma lâmpada bem pequenininha. Algumas vezes a sua cor é avermelhada e noutras é verde. Fica localizada na parte de cima do...
- Não sei, não está dando para ver direito...
- Ahn...?! Como assim? Não tem meio termo não, minha senhora: ou a luzinha está acesa ou apagada! E fica localizada na parte de cima do filtro de linha...
- Ah, é que a energia aqui de casa está desligada desde que amanheceu o dia. A Companhia de Luz anda realizando uns reparos na rede elétrica do meu bairro e suspendeu a energia de muitas ruas. É por isso que está bastante difícil enxergar qualquer coisa debaixo da mesa do computador...
Silêncio.
Silêncio prolongado e perturbador.
Após alguns segundos de espera, o funcionário volta ao telefone:
- Pois então é isso, minha senhora: sem energia elétrica não tem mesmo jeito de o seu micro funcionar! Não tem jeito mesmo!
Novo silêncio de ambas as partes.
Logo depois:
Tu, tu, tu, tu, tu...
(Som repetitivo do telefone desligado)