CONVERSA DE PESCADOR

CONVERSA DE PESADOR

Tião o compadre teve uma idéia genial, convidar o Sr. Onofre de Lima para uma pescaria mais distante, porque pescaria pequena eles faziam por ali mesmo nos inúmeros córregos e riachos que banham a cidade. Bom de anzol, de papo, de cachaça nem se fala, de tratamento, que beleza, todo mundo era quase irmão; relação pública nato levava todo mundo na conversa.

- Compadre Onofre tive pensando uma coisa. Lá pelas bandas do Rio dos Índios está chagando um cardume de Pintado, já passou um de Matrinchã e outro de Piau. Ta na hora da gente dar uma chegadinha lá, não acha?

-Sim eu adoro, ainda mais que todas as coisas aqui em casa estão indo bem, vou conversar com a Dona Das Dores e amanhã eu confirmo.

-Moço tem esse negócio de pedir a mulher não, lá em casa quem manda sou eu. Mulher não dá palpite. Eu falo já vou, to indo, e pronto.

-Eu sei compadre, você não tem filhos eu tenho filhas, sair assim pode nos dar problemas, vou conversar com ela com calma, as pescarias daqui ela sempre concordou. Vamos e voltamos logo, agora viajar, tenho as vacas, , o encarregado da chácara não gosta e nem sabe tirar leite.

- Deixa meu irmão o Wilson tomando conta, ele é meio doidinho, mas isso ele faz bem.

-Tudo bem compadre amanhã eu lhe respondo.

-Então até amanhã...

-Até compadre...

Já a noitinha, depois de seu banho de córrego e antes do Direito de Nascer, Onofre colocou Dona Das Dores a par do convite do compadre Tião com ricos detalhes e todas as soluções já arranjadas.

Certo que a mulher já estava concordando com tudo, foi buscar uma cadeira para ficar próximo do rádio RCA-Victor, a fim de ouvir mais um capítulo da emocionante novela. Quando se ajeitou, percebeu a esposa dar pequenos "tremiliques" e falar:

-Vai não, mais num vai mesmo, não vai de jeito nenhum...

-Mas Das Dores o compadre e tão bonzinho.

-É sim bonzinho, cachaceiro, mulherengo safado, Mas não vai de jeito nenhum.

Percebeu que a mulher estava irredutível, não adiantava insistir. Se ela havia falado não, era não mesmo. Consola-se com os Lambaris, Trairas e Chorões daqui mesmo.

Bem o compadre Tião pegou a estrada com mais alguns amigos e rumou para as bandas da Capital Velha. Onofre continuou a sua vidinha. Das Dores se acalma mais ainda quando sua irmã Margarida falou:

-Já foram pescar e que vão com Deus...

Passados três dias, Maria da Silva, a "Maria minha irmã" , dona da fazenda "Rios dos Índios" chega a Anicuns, com seu marido Joaquim , trazendo sua filha Camila para deixa-la passar alguns dias com a tia, pois eles tinham alguns afazeres na Capital. Colocou-a por dentro dos acontecimentos envolvendo o compadre Tião ou melhor tem-lhe como principal fato gerador. Pernoitaram partindo no outro dia junto com os primeiros acordes da passarada.

Bastou que assentasse a poeira do carro na primeira esquina, Das Dores, armada com uma vassoura partiu para cima de Onofre, que já estava com os baldes de tirar leite nas mãos , correu na frente para não apanhar, deixando para trás a mulher com seus gritos histéricos:

-Vem cá vagabundo, cafajeste, safado, mulherengo. Espera para apanhar, você sabe o que Tião fez lá em Goiás, fechou o cabaré ficando três dias na vadiagem com os seus colegas e é isso que você queria né? Vem cá vagabundo.

E Onofre, que não é bobo nem nada, dono de um invejável fôlego, continuou a correr para não apanhar mais.

Goiânia, 31 de JANEIRO de 2011.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 31/01/2011
Reeditado em 31/01/2011
Código do texto: T2762666
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