O Caso da Testemunha Feliz
I
Esta história foi contada no balcão de uma das Secretarias da Capital por uma advogada conhecida. Questionada, confirmou a procuradora acerca da veracidade do caso.
II
Disse-me a ilustre advogada que se encontrava aguardando a chegada do reclamante na ante-sala de espera das audiências. O seu cliente chamava-se Miguel e fora contatado por um seu sócio do escritório “Machado, Almeida e Faria Advogados Associados”. Ela, portanto, desconhecia tanto o aspecto físico quanto a fisionomia do homem.
Ao chamamento do datilógrafo de audiência, algumas pessoas se levantaram das cadeiras em que se encontravam sentadas e se encaminham para a sala de audiências. A advogada então se dirige a uma delas e lhe pergunta:
- O senhor é o Miguel?
- Sim, sou eu mesmo - respondeu-lhe o sujeito.
- Estava te procurando, continuou ela. Vamos indo que já é a nossa audiência!
Em seguida, patrono e cliente adentram a sala das audiências e se sentam em suas respectivas cadeiras.
III
Terminada a audiência, reclamante e advogada seguem mais uma vez juntos e conversando. Param por um momento diante da porta do elevador e aguardam a chegada do mesmo.
Haviam realizado um acordo não muito razoável, acreditava a advogada, sem que conseguisse tirar aquilo da cabeça. No entanto, estranhara mesmo fora a reação do reclamante: este se mostrara sempre muito satisfeito e contente para com todos e com tudo durante a audiência.
Ele permanecera ali muito tranqüilo e com um humor excelente. Aquilo não ficara muito claro para ela, principalmente levando-se em conta que o seu sócio anotara na ficha de registro do cliente que a proposta mínima para a aceitação de um acordo se situaria na faixa de dois mil a dois mil e quinhentos reais.
- E então senhor Miguel – diz-lhe a advogada - apesar do senhor se mostrar sempre tão satisfeito durante toda a audiência, vejo que o valor do acordo não chegou nem perto da nossa proposta inicial!?
- Não, não, doutora. Para mim esteve tudo ótimo, tudo correu de maneira mais que perfeita! Eu quero, inclusive, que a senhora saiba – continuou o sujeito com cara de menino lambão – que quando necessitar que eu venha testemunhar em outros processos, que não se acanhe e nem se faça de rogada de jeito algum. Sempre que precisar do meu depoimento é só me comunicar que eu aqui estarei a sua inteira disposição. Ainda mais agora que estão até nos pagando pra isso!
Foi só nesse momento que a advogada compreendeu que havia “errado” de “Miguel”. Havia trocado um reclamante por uma testemunha. E o pior de tudo é que o infeliz ainda pensou que as parcelas do acordo fossem o “pagamento” que iria receber por toda aquela “trapalhada”...!