A MILIONARIA E O MENDIGO

Da janela de seu luxuoso apartamento a milionária observa o mendigo esmolando no jardim da praça. Área nobre da grande metrópole. Cujas casas todas tombadas pelo patrimônio histórico. Com intensa movimentação de turistas vindos de todas as partes do mundo.

Maltrapilho, sentado próximo ao pedestal de um monumento homenageando o fundador da cidade. No seu velho e surrado chapéu virado servindo de coleta as moedas tilintavam jogadas umas sobre as a outras. Aquele infeliz passava os dias enfrentando as intempéries climáticas, fizesse sol ou chuva. Não importava as condições do tempo, La estava ele no seu posto.

Certo dia, de sua janela a milionária viajando no tempo, analisava a paisagem deduzindo o que teria sido a vida e as ações de todos aqueles que construíram e se ocuparam daquele conjunto de obras ao longo dos anos no decorrer da historia. Casas centenárias, monumentos e tudo mais, que compunha a paisagem, guardando historias de tantas vidas de um distante passando.

Rematou seu Turner imaginário deitando o olhar sobre o mendigo, dizendo pra si mesma -, e este pobre mendigo-, como será a vida deste infeliz? Afinal já é décadas essa rotina de vida miserável do pobre homem! Enquanto me sobra tanto conforto, poder e luxo, o pobre homem se arrasta na miséria, deve morar em péssimas condições comendo apenas migalhas sem o mínimo de conforto. A partir de amanhã de tudo aquilo que for servido na minha mesa, esse mendigo terá... Afirmou ela com toda convicção.

No dia seguinte deu ordem para a sua criada: - sabe aquele mendigo que vive esmolando ai na praça já há muitos anos-, a partir de hoje você vai servi-lo da mesma forma que somos servidos, que ele também se sirva, leve tudo até ele.

As ordens foram cumpridas e na medida em que o tempo passava à milionária se sentia responsável pelo pobre homem, não conseguia perdoá-la pelas péssimas condições em que vivia o miserável, La no seu muquifo, segundo a imagem criada por e sua imaginação.

Com o pensamento fixo na tragédia vivida pelo miserável, decidiu que deveria investigá-lo a fim de lhe dar condições dignas de moradia. Embora nunca tivesse trocado com ele si quer uma palavra estava decidido. Deveria haver tantos outros vivendo na mesma, ou até em pior condição, mas pelo menos aquele ela ajudaria.

À tarde do mesmo dia deu ordem ao seu motorista que preparasse o carro iria dar umas voltas pela cidade visitariam algumas obras de arte. Assim que o mendigo encerrou seu expediente e apanhou a feria do dia embrulhado-a em trapos velhos, ela mandou seu motorista segui-lo, dois ou três quarteirões a frente ele entrou no numa garagem enorme, um luxuoso estacionamento rotativo. Ela logo imaginou-, tudo bem, pelo menos há alguém caridoso, deve lhe dar abrigo aqui. Voltou para casa, mas continuou intringada com o fato. Não satisfeita resolveu segui-lo por alguns dias a mesma rotina até que decidiu abordar o porteiro do estacionamento. Notou que o porteiro não lhe era estranho. - Nós nos conhecemos? - Sim senhora Adelaide! Já fui seu mordomo não se lembra? – Ah é você Alfredo que imenso prazer reencontrá-lo! Preciso de uma informação sua-, é sobre o mendigo você o conhece?

- Sim, mas olha, ele não pode saber que eu contei â senhora, senão me demite, ele é meu patrão. Sai todos os dias pela manhã, disfarçado de mendigo indo para seu trabalho voltando neste horário, todos aqui acham que é um mendigo. Que o patrão acolhe, deixando dormir no estacionamento, mas é puro disfarce, esperto ele, não acha? O homem morre de medo de assalto, já me disse que tem vários imóveis pela cidade, mora numa bela mansão num dos bairros mais nobres, tem até segurança com ele, sai disfarçado e entra do mesmo jeito, daqui a pouco ele vai sair na Ferrari que comprou semana passada. Entra nela pela manhã e sai disfarçado logo após, levando para o banco o faturamento do dia anterior.

Pê da vida e usando sua influência política, a milionária acionou a justiça. Levou o mendigo á presença do juiz e promotor.

Quer dizer que seu Horácio vive pedindo esmola explorando a caridade alheia? – Em absoluto doutor, nuca pedi um centavo a ninguém sou um cidadão cumpridor do meu dever pago meus impostos em dia, nada devo a justiça! – Como explica se ha mais de vinte anos está no mesmo local se esmolando! – Minha história doutor é muito simples e tenho orgulho dela-, trabalhava eu, naquela praça como jardineiro, vivendo na miséria.

Casado tentando dar conforto minha esposa e meus três filhos, mas o mísero vencimento não cobria as despesas. Orei muito e roguei a Deus por ajuda, e ele me houve. Certo dia enquanto eu podava um arbusto meu chapéu caiu na calçada virada de boca aberta em posição de coleta, de repente os turistas começaram a jogar moedas e cédulas algumas até de maior valor, dentro dele, ninguém dizia nada, muito menos eu. Ao término de minha jornada de trabalho tinha um valor maior do que meu salário mensal. Durante muito tempo, ao chegar ao trabalho pela manhã, eu colocava meu chapéu na mesma posição, e enquanto executava meu trabalho os transeuntes o enchiam de dinheiro. Nunca pedi nada. Denunciaram-me, fui demitido do meu trabalho. - Não consegui emprego de forma nenhuma tentei muito, foi impossível. Lembrei-me da generosidade daquela gente e sem opção me disfarcei de mendigo voltei á praça escolhi o local com maior freqüência de turistas e lá coloquei meu chapéu nunca pedi, apenas agradecia e assim consegui meus bens que são todos declarados. Estou em dia com o fisco, nada tenho a temer!

Façam o que julgar melhor. Peço-lhes apenas uma coisa, façam com justiça, por que sou um cidadão honesto tenho várias empresas muitos empregados, todos bem remunerados. Prometo-lhes que a partir de amanhã ninguém mais me verá naquela praça. Estou renunciando de uma profissão voluntária exercida com honestidade e nobreza há muitos anos.

A milionária que a tudo assistiu, sem palavras, não sabia se odiava ou se aplaudia o mendigo. Acabou optando por lhe dar um abraço o parabenizando por sua aventura. E propondo serem amigos, no que foi aceito de bom grado pelo Horácio.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 24/01/2011
Código do texto: T2748744
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.