Os primeiros goles de Coca-Cola.
Este é mais um "causo" verdadeiro ocorrido em uma cidade do interior da Bahia; não vi, mas os pais dos amigos contavam: chegou a Coca-Cola! bebida que se tomava saboreando: nos bares, na noite, no almoço, nas festas e nos clubes com Rum Montila ou Bacardi e limão; só não levavam a garrafinha dentro de mochilas para a "merenda" da escola porque mochilas os alunos não usavam e não usavam porque não existiam; cada um tinha uma pasta cara ou não; bonita ou nem tanto, a depender do status da família. Mas isto é outro "causo".
Todos os bares, botequins, mercearias, salões de bilhar, barraca de feira, quermesse de festa de igreja, brindavam seus visitantes com o esperado refrigerante. Era só garrafinha de Coca Cola prá lá e prá cá, em todos os balcões e até nas mesas de dominó sob árvores e ao pé dos coretos.
Um conhecido e abastado pecuarista e fazendeiro da região, Seu Deocleciano, costumava ir ao melhor e mais sortido bar da cidade para bater bapo, contar seus feitos e vantagens de homem conhecido e respeitado na região, apesar de analfabeto, mas com dinheiro que não acabava mais nas contas (assim diziam os banqueiros e bancários).
Certo dia, seu Deocleciano chegou ao bar, apeou do cavalo, entrou e gritou:
Neco! Traz uma tar dessa Coca-Cola que eu tô doidin prá exprimentar. E não demora, tô com pressa!. E cum gêlo qui tá um calô da gôta serena! Neco, prestativo e respeitando o Seu Deocleciano, freguês importante, deixou os outros no balcão esperando e foi num pé, voltou no outro, com a Coca Cola geladinha. Seu Deocleciano virou a garrafa de vidro, baixinha e rechonchuda e glub, glub, a bichinha preta desceu com dois goles.
Bateu a garrafa vazia no balcão e gritou: traz outra! E de novo, mais dois goles. Novamente gritou! Mais uma!, e dipressa qui tô atrasado prum cumprumisso!
Depois de beber tres Coca-Colas, um ruído estrondoso sai de sua boca, e, em seguida... outro arroto.. alto e em bom som.
Espalmando uma das grandes mãos sobre o peito largo, seu Deocleciano olha para os lados, observa a platéia e diz, estapeando a barriga proeminente com a outra mão num gesto teatral de saltimbanco, e estalando a língua:
-“se essa danada não tivesse gosto de sabão Ariscolino*, eu ia era beber mais três! Té logo, Neco, vou ficar freguêis dessa tar de Coca-Cola !”
* Sabão Aristolino - sabão líquido para caspa, quem lembra dele? meus pais usavam
Causo contado em família e recontado por Yara (Cilyn) Lima Oliveira
Este é mais um "causo" verdadeiro ocorrido em uma cidade do interior da Bahia; não vi, mas os pais dos amigos contavam: chegou a Coca-Cola! bebida que se tomava saboreando: nos bares, na noite, no almoço, nas festas e nos clubes com Rum Montila ou Bacardi e limão; só não levavam a garrafinha dentro de mochilas para a "merenda" da escola porque mochilas os alunos não usavam e não usavam porque não existiam; cada um tinha uma pasta cara ou não; bonita ou nem tanto, a depender do status da família. Mas isto é outro "causo".
Todos os bares, botequins, mercearias, salões de bilhar, barraca de feira, quermesse de festa de igreja, brindavam seus visitantes com o esperado refrigerante. Era só garrafinha de Coca Cola prá lá e prá cá, em todos os balcões e até nas mesas de dominó sob árvores e ao pé dos coretos.
Um conhecido e abastado pecuarista e fazendeiro da região, Seu Deocleciano, costumava ir ao melhor e mais sortido bar da cidade para bater bapo, contar seus feitos e vantagens de homem conhecido e respeitado na região, apesar de analfabeto, mas com dinheiro que não acabava mais nas contas (assim diziam os banqueiros e bancários).
Certo dia, seu Deocleciano chegou ao bar, apeou do cavalo, entrou e gritou:
Neco! Traz uma tar dessa Coca-Cola que eu tô doidin prá exprimentar. E não demora, tô com pressa!. E cum gêlo qui tá um calô da gôta serena! Neco, prestativo e respeitando o Seu Deocleciano, freguês importante, deixou os outros no balcão esperando e foi num pé, voltou no outro, com a Coca Cola geladinha. Seu Deocleciano virou a garrafa de vidro, baixinha e rechonchuda e glub, glub, a bichinha preta desceu com dois goles.
Bateu a garrafa vazia no balcão e gritou: traz outra! E de novo, mais dois goles. Novamente gritou! Mais uma!, e dipressa qui tô atrasado prum cumprumisso!
Depois de beber tres Coca-Colas, um ruído estrondoso sai de sua boca, e, em seguida... outro arroto.. alto e em bom som.
Espalmando uma das grandes mãos sobre o peito largo, seu Deocleciano olha para os lados, observa a platéia e diz, estapeando a barriga proeminente com a outra mão num gesto teatral de saltimbanco, e estalando a língua:
-“se essa danada não tivesse gosto de sabão Ariscolino*, eu ia era beber mais três! Té logo, Neco, vou ficar freguêis dessa tar de Coca-Cola !”
* Sabão Aristolino - sabão líquido para caspa, quem lembra dele? meus pais usavam
Causo contado em família e recontado por Yara (Cilyn) Lima Oliveira