O PREÇO DA TRAIÇÃO
Numa casinha de barrote caído,
Vivia o caboclo, no mundo esquecido
Mas era feliz em sua solidão
Mas quis o destino da vida marcada
Dar novo alento a sina traçada
E o amor tomou conta de seu coração.
São os percalços que a vida anuncia
Ninguém imaginava que algum dia
O impossível ali fosse realizar.
Que aquela jovem tão encantada
Que por tanto jovens era cobiçada
Pelo quarentão fosse se apaixonar.
Ele embora de idade avançada
Sentiu no momento, a hora chegada
E da jovem também se enamorou
Aquele rústico peão, caboclo sertanejo
Perdido no mato, em seu desejo
Sem pesar duas vezes com ela casou
Transformou sua vida do nada
Aquela formosura tão desejada
Mudou pra sempre o destino malvado
Da água pro vinho, sua vida mudou
Novo status no bairro homem ganhou
Passou a ser um homem respeitado.
Um botão de rosa, formosura em pessoa
Por ser tão bela, carinhosa e boa
E formavam o casal um lindo lar.
Vivia a vida que pediu a deus
Encontro a mulher dos sonhos seus
Que mais um homem pode desejar?
Assim viveram felizes por anos a fio
Num lar de concórdia, amor e brio
Sem sombra de duvidas qualquer
Só que filhos o casal não tiveram
Embora desejassem, eles não vieram
Por que era estéril a bela mulher.
No passar do tempo, o homem evoluiu
Com a ajuda da esposa, conseguiu
Fazer de sua terras uma fazenda exemplar.
Homem trabalhador, não tinha preguiça
Mas foi alvo de estranha cobiça
Partindo de onde jamais podia imaginar
Com muitos anos na vida vivida
Bem casado das labutas da lida
Dos negócios resolveu se afastar
Para poupar a esposa querida
O homem só viu uma saída
Alguém para seus bens administrar
O fazendeiro contratou um rapaz
Uma pessoa honesta e muito capaz
Pra tomar conta de sua propriedade.
Ele foi na ponta de dedo escolhido
Homem novo, forte, destemido
E com comprovada idoneidade.
Assim pela idade avançada
Para descansar da bela jornada
No aconchego do lar se acomodou
Porem pela sorte ele foi traído,
Pelo homem novo, forte e destemido
A sua bela esposa se encantou.
Brio e fidelidade num instante se vão
E se entregam a volúpia da paixão,
Viver a vida é o que importa agora
E o velho, a paixão da juventude
Passa ser visto em outra amplitude
Precisa ter um fim e sem demora
Projeto diabólico sai na surdina
Entre a realidade que se descortina
Não dá pra esperar com naturalidade
Alem do mais é dele toda fortuna
E a quem a vida lhe foi oportuna
Não soube viver na fidelidade
Tramam a morte do pobre coitado
E era preciso de casa ser tirado
Para praticarem o desfecho final?
Meiga a carinhosa ela se aproxima
Retira de si um resto de estima
Movida pela mente quase infernal.
Entre promessas, ele jamais imagina
Que a esposa com mente assassina
Trama sua morte de maneira cruel.
Sem demonstrar nenhum receio
Ele os acompanha para um passeio
Levado pelos braços da esposa infiel.
Algum tempo depois, um alarde foi dado
Na delegacia um B.O. foi lavrado
Que o homem havia desaparecido.
Dias mais tarde, num lugar diferente
Fora encontrado o corpo d’um indigente
Morto a paulada e ali escondido.
Depois de muito discussão, afinal
Lá no instituto medico legal
O corpo do fazendeiro foi reconhecido
A esposa em prantos reclamava
Da triste sorte que sobre ela desabava
Mostrando em tudo o coração comovido
Como nada no mundo fica escondido
Entre os depoimentos que fora ouvido
chamou atenção um fato novo:
Porque a relação entre patroa e empregado
Em nenhum momento fora informado,
visto que já andava na boca do povo.
A investigação teve novo rumo
Chegando a conclusão em ressumo:
Que os assassinos foram os amantes
Mais que depressa ele se cuidou
Com um tiro no ouvido, se suicidou
Conduta de vadio e ignorante
Ela porem foi pelo júri condenada
Numa sela fria foi trancafiada
Pegando vinte anos de reclusão
Por bom comportamento, liberada
Mas sem lar , sem casa, sem nada
Perdeu até o uso da razão
Marcada pela justiça sem clemência
Hoje vive perdida em sua demência
Passando por relances de cruel lucidez
Vagando sem destino pela rua
Maltrapilha, molambenta, quase nua
Arrependida imensamente do que fez.