CABRA MACHO

Seu Raimundo tinha uma pequena casa de comercio, numa vila nos arredores da pacata cidade no interior do estado de São Paulo, era um misto entre boteco e mercearia a qual ele identificava orgulhosamente como sendo um Secos & Molhados. Nordestino ferrenho, se orgulhava de sua origem e de como venceu na vida, deixando as áridas terras onde nascera e se aventurando por terras estranhas até chegar a este pequeno lugarejo e se vangloriava por ser um nordestino paulista. Certo dia contou seu Raimundo, chegaram uns conterrâneos e adentrou em seu modesto estabelecimento. Conversa vai, cachaça vem, cachaça vem, conversa vai e os homens já estavam bem alto quando um deles começou a roncar papo de valentia, falando em alto e bom tom:

___ Sou cabra macho, sou nordestino da peste, sou cabra macho, comigo ninguém tira a farinha que já corto na pexera, pra mata um ou dois num me custa nada, sou cabra macho sô.

O dono do boteco não se conteve, o amigo estava muito abusado, em terras paulistas, onde estava ganhando a vida, vem falar besteiras sem conhecer os costumes e modos deste povo e como bom nordestino não podia se calar diante do que ouvira do freguês e botou a colher no meio:

___ Pois óia conterrano, cá pra mim, cabra macho num presta, num sabe?

Seu Raimundo disse que viu a viola em caco depois dessa, o homem virou bicho, já riscou o chão com o facão e chamou seu Raimundo pra briga:

___ Como se atreve cabra da peste, dize que cabra macho num presta, pois sou cabra macho memo, e daí?

Disse Seu Raimundo que procurou manter muita calma neste momento delicado, pois ninguém poderia imaginar o que um homem com algumas doses da branquinha na cachola e uma peixeira na mão pudesse fazer numa situação dessas, o dono do boteco perguntou:

___ E tu homi, já viste cabra macho dá leite?

Ante este questionamento a suposta briga acabou em risos e a conversa terminou com mais uma rodada de cachaça para todos, gentileza de Seu Raimundo que achou mais prudente, fechar o boteco antes que houvesse mais contratempo, pedindo licença a todos, alegando cansaço do dia de trabalho.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 17/01/2011
Código do texto: T2735675
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