Antes do baile
ANTES DO BAILE
A vizinhança toda comentava sobre o baile que aconteceria naquela noite. A sra Catarina Bezerra iria apresentar à sociedade sua filha Yara Bezerra de 15 anos. Menina que todos sabiam da existência, porém nunca fora vista por ninguém da vila.
Vacas foram mortas para o churrasco, caminhões de bebidas paravam a todo momento na porta da casa de dona Catarina para descarregar a encomenda.
A vizinha ao lado não se aguentava de tanta curiosidade, tinha até um vestido novo para a festa. “Será que ela é bonita?” A jovenzinha se perguntava, invejando mesmo sem conhecer. “Deve ser uma deusa, se não, por que viveu escondida a vida toda?”
O vilarejo de Serra Anônima tinha um ar de festa, felicidade, curiosidade, as pessoas se movimentavam apressadas, temendo não dar conta das próprias obrigações até a hora da festa. Todos foram convidados, sem exceção, pois dona Catarina fazia questão da presença de toda a cidade, já que ela era sempre cobrada por causa da filha, mas respondia que a menina seria apresentada o dia em que fizesse 15 anos.
Yara nunca foi à escola “Eu ensinei tudo a ela” garante a mãe em confissão ao padre.
- Mas a senhora não pode isolar uma criatura de Deus – dizia o sacerdote, tentando convencê-la a tirar a menina do casulo – nem Ele faz isso.
- Engano do senhor, padre, Deus não precisa isolar suas criaturas porque deu inteligência ao homem e espera que nós o façamos, pelo menos para livrar do perigo.
Essas discussões eram intermináveis e sem flexibilidade de dona Catarina.
Carros de boi, carroças, bicicletas, carros de luxo, pessoas a pé. Todos começaram a chegar. Tudo pronto para o baile. As pessoas iam chegando, acomodando-se, o salão enorme fora adornado para a grande festa. Os abastados tinham lugares apropriados, ali mais na frente, pois era também um dia de arrumar marido para a debutante.
Dona Catarina estava radiante, recebia os convidados com muito entusiasmo. Ao lado de seus funcionários de confiança, Geraldo e Dona Floripa fazia as vezes da dona da casa.
Tudo pronto, os convidados nos seus lugares e havia gente chegando ainda, mas como atrasados que estavam, tinham de se ajeitarem.
Os convidados de honra foram até o centro onde aconteceria a primeira dança de Yara e todos aguardavam ansiosamente.
- Floripa, pode ir buscar a menina – ordenou Catarina – está na hora.
As pessoas começaram a falar, mesmo que num tom baixo, alarmavam no salão. Era o grande momento.
Houve instantes de tensão, mas dona Catarina administrou a pouca demora como desajeito da menina, mas mesmo assim cuidou de ir pessoalmente aos aposentou verificar o que acontecia.
Quando adentrou o corredor do andar superior da casa, ouviu conversas altas dos empregados e ao encontrar Floripa completamente desesperada, confirmou suas suspeitas de mãe:
- Onde está Yara?
O silêncio foi a grande resposta.
Sob o olhar da mãe e do vilarejo, o cortejo fúnebre seguiu.