O NAMORO DO CAIPIRA E A LAMBRETA
Desde criança o caipira Zeca era tido como um garoto levado e sem pudor. Ele não media as palavras ao se pronuciar. Espirituoso e espontâneo faltava-lhe o que a tradição conservadora exigia, respeito e moral. No fundo era um bom sujeito, mas não adequava ao desejo de seu Liborio que escolhia a dedo seus genros e noras. Imagina Dorinha a caçula dos dez filhos, casada com um cara que iria manchar a reputação daquela família que se preparava para cumprir o termo bíblico “cresçei e multiplicai.”
Contrariado Liborio ia engolindo seu orgulho moral por livre e espontânea pressão de Maroca a esposa que dizia: - no coração da tua filha tu não mandas velho nojento.
Naquele pacato vilarejo sem energia elétrica de ruas desalinhadas sem saneamento, com sua população de costumes primitivos, usando ferramentas rudimentares-, a moral e a dignidade era o ponto alto. O progresso já sinalizara, mas encontrava certa resistência por aquela gente conservadora, que dizia ser coisa do diabo os bens de consumo que começaram a surgir a exemplo do radio a bateria a lambreta e outros mais. Zeca com sua curiosidade esbiutava tudo de novo que a tecnologia oferecia. Sem poder aquisitivo de compra, vivia sonhando com tais modernidades. Seu maior sonho; comprar uma lambreta. Mais um motivo para o sogro opor no seu enlace com a, adorável Dorinha. Sobrevivendo da produção rural e do artesanato, nos pobres casebres do pequeno vilarejo, mais caipira que urbanos balaios e mais balaios de algodão eram transformados em linha que caprichosamente enfeitavam os a varais secando ao sol, tintos em cores azul do índigo, amarelo da quaresminha e outras, extraídas de tantos outros vegetais oferecidos ás artesãs pela mãe natureza.
Desconfiado das más intenções do Zeca que agora sonhava em comprar uma lambreta, seu Liborio vendo frustrar a oposição ao jovem, resolveu apertá-lo.
Sentado no lugar costumeiro pajeando o namoro da filha, na sala mal iluminada no claro da lamparina, disse ao genro: - Olha seu Zeca como tu bem sabes nunca aprovei seu namoro com minha filha, mas já que não tem remédio vou te dar três semanas para que tome uma atitude e providencie o casamento.
– Tudo bem seu Liborio, só que três semanas são muito poucas eu não tenho dinheiro suficiente. Façamos o seguinte o senhor me dê mais um tempo eu ajudo no querosene que o senhor diz estar muito caro e logo que a coisa melhorar a gente casa.
Sem mais discutes Zeca despediu e se foi. O velho já com pouca visão e vivendo de pulga atrás da orelha vigiando o namoro da filha, permaneceu de pé na porta. Na segunda casa a frente uma cabrita pastava. Zeca se lembrou do seu tempo de moleque das vezes que deleitou com as cabras, decidiu fazer um chamego na bichinha. Pegou-a pelos dois chifres quando o negócio injambrou a cabra arrancou a mil por hora rua afora berrando e gemendo, passou à frente de seu Liborio, ele gritou:- oh fedelho desgraçado dinheiro pra casar com minha tu não tens, mais pra compra porcaria de lambreta tu arranjais seu filho da mãe!
O pobre Zeca arrastado pela cabra passou entre as cordas de arame farpado e fincou de ponta cabeça dentro de uma taxa cheia de meadas e tinta de anil em ponto de tingir. A dona da casa levantou assutada, quando viu o estado das linhas, chamou o delegado. Alem de pagar o prejuízo o pobre coitado todo rasgado de arame, e tinto, ganhou como castigo o apelido de bode azul.