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Você acredita em milagres? Em carma?

Uns creem. Eu, acho que eu não. Não dá pra afirmar com certeza, e nem refutar com propriedade. Mas tudo indica que tais coisas são meros instrumentos didáticos, que usam da figuração pra ganhar força. Pois, sim, os que creem no último costumam utilizar-se de um famoso provérbio para ilustrar a coisa:

“Quem planta, colhe”.

Você provavelmente já ouviu isso antes. É uma variação de valor idêntico e, sendo assim, uma extensão moderna daqueles outros dois ditos mais antigos. Você também deve conhecer os outros dois, por isso tanto faz se eu os cito aqui ou não.*

Entretanto, e embora pareça-me desleal usar do rigor contrapontístico argumentativo para esmuiçar estas coisas didáticas, ilustrativas, como são os provérbios, ou, melhor dizendo, esmiuçar sua validade real, o que aconteceria, por exemplo, sendo agora igualmente proverbial, se /a terra em questão (onde se planta) estivesse gasta...?/ [Isto é, exaurida pelo uso contínuo e mal-feito das gerações anteriores...] Bom, certamente, nada, pois nada que ali fosse plantado cresceria. Ou seja, seria apenas esforço e tempo jogados fora, e a fome e a miséria aumentando.

Levanto esta questão pois, há um ano e meio atrás, conheci um cara que disse-me não acreditar em nada. A entender bem, e ainda em suas palavras: /em nada daquilo que não pudesse ser provado./ Eu próprio andava um tanto em cima do muro na época... Daí, ao acompanhá-lo (fisicamente) pra cá e pra lá, em andanças ou passeios de carro, acabei por fim convertendo-me, em parte, à sua “não-crença”ou “não-religião”.

Ele se dizia ateu. Eu, agora, era agnóstico.

Um dia, numa conversa corriqueira sobre assuntos pouco corriqueiros, os de sempre, ouvi da boca dele o seguinte, livremente reformulado por mim agora: “Eu morreria facilmente por uma crença, ou ideal.” Na hora, digo-o sem vergonha, pareceu-me um DISPARATE, dos maiores imagináveis, e causou-me bastante revolta. Não aceito muito bem ser contrariado, mesmo que em meus princípios. “Quem é que dá a vida assim a troco de nada...?” Eu que não. Mas ele insistia, e esmiuçava a questão.

No entanto, este rapaz, de nome CXXX (não direi-o para preservar-lhe a memória) um dia resolveu provar sua teoria. Não como se espera, numa situação de iminente decadência, tipo aquelas onde você sabe que vai ser fritado e então resolve dar uma de herói, mas numa época onde já não precisaria mais brincar com essas coisas. Bom, pensávamos que não. Não entendo, até hoje, o que moveu-o a isto.

Contarei-lhes agora que este cara fez.

O Que não Sabemos

Bom, pra tanto, ele deve ter gasto uns dois bons anos planejando. O que quer dizer que já devia pensar em algo do tipo bem antes de conhecermo-nos.

Cabeça de cu alada
Enviado por Cabeça de cu alada em 14/01/2011
Reeditado em 14/01/2011
Código do texto: T2729552