Triste época aquela

Triste época aquela. Eu não era eu mesma. É possível isso? Eu não ser eu mesma? Possível ou não, eu conseguia.

Frase que nunca saíra da minha mente:

__ Anda logo, tem cliente.

A partir desse momento passava a não ser eu mesma. Escondia-me dentro de mim, no mais oculto canto de minha alma.

Aquelas palavras ecoavam na minha cabeça. Sentia-me humilhada, suja, a amais podre das criaturas. Tinha nojo de mim mesma.

“Não sou eu que está aqui, não sou eu que está aqui”, mentalizava até conhecer meu “cliente”. Eram das mais variadas formas e jeitos: Altos ou baixos, gordos ou magros, jovens ou velhos, bonitos ou feios, cheirosos ou fedorentos. Bastava Ter dinheiro para pagar.

Independente da aparência, “o cliente tem sempre razão” diz a célebre frase do mundo comercial. Tinha que fazer suas vontades, realizar seus desejos, concretizar suas fantasias.

Como era humilhante pra mim sentir aquelas mão desconhecidas deslizarem pelo meu corpo, aqueles lábios nunca antes vistos por mim tocarem os meus como se fosses suas propriedades. Ter o corpo de alguém desconhecido em cima do meu.

“Não sou eu que está aqui, não sou que eu está aqui”

Escondia-me onde podia, no coração, na mente na alma.

Pensava em coisas boas, minha época de infância, em meus pais. Pensava em tudo, até que aquele momento passasse. Como era duro pra mim Ter que fazer algo tão repugnante.

Rebaixava-me à mais insignificante das criaturas, pior que um verme. Um ser sem descrição, infeliz, com a missão de satisfazer às mais bárbaras formas de prazer que possam estar guardadas dentro de um homem.

Quando tudo acabava, vibrava por dentro. Sentia-me a mulher mais feliz do mundo. Estava livre. Agradecia a Deus por aqueles momentos de angústia e terror terem passado.

Chegava em casa e ia direto para o banheiro. Ligava o chuveiro, ficava horas ali. Esfregava-me até a pele ficar vermelha. Tentava daquela forma, purificar minha alma. Levar-me de toda nódia ou mancha daqueles momentos insanos em que eu não era uma mulher e sim uma escrava sexual.

Triste época aquela em que eu era uma prostituta.

Igor P Gonçalves
Enviado por Igor P Gonçalves em 14/01/2011
Código do texto: T2729247
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