Eu sempre vou te amar
__ Você não vai, Monique!
__ Ah, mãe! O pessoal todo da escola vai, só eu que não vou?
Luisa sentou ao lado da filha, tentando convencê-la.
__ Filha, você só tem 16 anos. Eu não quero você metida nessas festas de boate... é perigoso!
__ Mãe não enche!__ disse Monique, levantando-se do sofá__ Já tô cheia de você, dessa vida!__ Jogou a almofada no sofá__ Quero morar com meu pai!
Foi correndo para o quarto. Senti-se oprimida pela mãe. Refém da situação de ser adolescente.
“Não vejo a hora de fazer 18 anos”, pensava ela. “Tô cansada de ser mandada pelos outros. Não sou mais nenhuma criança!”
Toc, toc.
__ O que é?__ gritou ela, entre um soluço e outro.
__ Filha, temos que conversar__ disse Luisa, do outro lado da porta.
__ Me deixe em paz! Quero ficar sozinha!
Estava sendo manipulada pelo ódio, pior sentimento que se pode sentir por outra pessoa; pior ainda quando essa pessoa é sua mãe.
Mesmo a contragosto da filha, Luisa atreveu-se a entrar no quarto. Tinha que conversar com ela. Não aceitava que aquela criança que saíra de seu ventre, que ela embalara e outrora ensinara a desvendar os segredos da vida, agora voltava-se contra ela, sua própria mãe.
__ Monique, você sabe que eu não ligo de você sair__ sentou-se na beira da cama__ Mas ir pra boate? Ainda mais aquela boate!
__ O que tem “Aquela boate”?
__ Toda semana tem uma reportagem nova sobre alguma briga lá!__ colocou a mão nos cabelos da filha.__ Até mortes já ocorrerem lá, Monique.
__ Esse é o pessoal que vai pra lá a procura de briga, mãe. Mas a gente não. A gente só vai pra se divertir!
__ Eu sei, mas muitas pessoas inocentes acabam sendo prejudicada com as brigas.
__ Ai, mãe! Você não entende!__ gritou a garota, aos prantos__ Tchau, não quero mais conversar sobre nada.
__ Desculpe, filha.__ disse Luisa, levantando-se da cama__ Mas eu já dei minha palavra final.__ caminhou até a porta__ Você não vai pra essa festa.
Monique chorou alto. Britava, esperneava.
Porque sua mãe era assim, tão careta? Porque tinha que ela tinha que voltar das festas meia-noite? Porque não podia fazer uma tatuagem? Porque?
Esses porquês sempre assombraram sua cabeça. Sentia-se manipulada pelos pais, um brinquedinho.
__Eu odeio você!__ gritou ela, com toda a foça que tinha.
Ao ouvir essas palavras tão fortes, Luisa sentiu-se sem chão.
Sentou no sofá, ligou a TV. Mas não conseguia prestar atenção. Não conseguia pensar em mais nada além daquela três palavrinhas: EU ODEIO VOCÊ.
Lembrara de quando a filha era pequena, quando podia levá-la para onde queria, quando se abraçavam, quando ouvia a frase: “Te amo, mamãe!”
O mundo é impiedoso. Toma nossos filhos, muda suas mentes. Dita como eles devem agir e pensar.
Porque a vida era assim? Tão imparcial, tão dura.
“Cachorra”, pensava ela. “Vida cachorra!”
Pegou o telefone, discou alguns números. Hesitou.
“Melhor não. Como sempre, ele irá me culpar”, pensou, “Vai dizer que eu não dei a criação adequada a ela.”
Sentiu-se perdida. Colocou o telefone no gancho. Deitou no sofá e não conseguiu mais conter o turbilhão de sentimentos que agitavam seu coração.
Chorou. Chorou como nunca havia chorado antes.
Acabou dormindo ali mesmo.
Acordou no dia seguinte atrasada. Sorte que era Sábado e não precisaria fazer café para a filha.
Arrumou-se rapidamente. Foi até o quanto de Monique; estava dormindo. Deu um beijo em sua testa.
__ Aconteça o que acontecer, eu sempre vou te amar...__ sussurrou no ouvido dela.
Limpando algumas lágrimas, apressou-se para o trabalho.
Enquanto dirigia pensava na filha, como estava linda, crescera tão rápido. Quanto mais velha, mais chata ficava.
“Coisa de aborrecente”, pensou ela, com um sorriso entre os lábios.
Em um piscar de olhos surgiu um carro na sua frente. Tentou frear, lutou contra o carro, mas já era tarde demais.
__ Alo, é da casa da Sra. Luisa de Sá Figueiredo?
__ É__ respondeu Monique__ Mas ela não está, foi trabalhar.
__ Sabemos.
O homem do outro lado da linha então explicou que se chamava Dr. Martins e que sua mãe havia sofrido um acidente de carro. Uma batida.
Instantes depois, estavam Monique e o pai no local do acidente. Luisa deitada no chão, ensangüentada.
__ Mãe!__ gritou a jovem, correndo em direção a mãe.
Abraçou-ª Estava fria, seu corpo estava rígido.
Olhou assustadoramente para o pai. Não queria acreditar no que estava acontecendo.
__ Infelizmente não pudemos salvá-la. Morte instantânea. Não sentiu nenhuma dor.
No velório, Monique lembrou das últimas palavras que dissera a mãe. Tão duras, impiedosas.
Desperdiçou a última chance de estar com a mãe. Ao invés de dizer que a amava, preferiu dizer que a odiava. Por isso devemos sempre deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, não sabemos quando será a próxima vez que as veremos, ou se haverá essa próxima vez.
Abraçou o pai. Tinha medo de perdê-lo também.
__ Fica tranqüila, vou estar sempre com você. Aconteça o que acontecer eu sempre vou te amar__ disse ele, dando-lhe um beijo no rosto dela.
Ela ficou pensativa. Ouvira estas palavras em algum lugar.
“Acho que foi o anjo do sonho da noite passada”, pensou ela.