Uma luz no meio do caminho

Seria uma noite muito especial! E pela aparência, sem nuvens carregadas, estrelas a brilhar e brisa a aliviar o leve calor do entardecer, tudo indicava que seria inesquecível.

Sabazinho e seu irmão Miguel estavam muito felizes, pois como recém chegados ao lugar tinham uma oportunidade única de fazer novas amizades, quem sabe até arrumar umas namoradinhas...

Era época de novena de Nossa Senhora dos Remédios e todos os moradores das proximidades se reuniam na Comunidade Bom Jesus. Naquela noite haveria além das orações de praxe, leilões, brincadeiras e vendas de comidas típicas, afinal a igreja precisava de dinheiro para continuar as obras.

Os dois irmãos, ansiosos pela noitada que teriam, desde cedo puseram as melhores roupas, que não eram lá essas coisas, pois os tempos eram de “vacas magras” e a renda mal dava para o sustento familiar. Com a chegada da bela noite, partiram rumo à Comunidade a cinco quilômetros de distância.

Lá chegando, rezaram, olharam e foram olhados, pois eram relativamente “estranhos no pedaço”, mas participando das atividades que se desenvolviam, logo iniciaram amizades.

Depois das orações, muitos olhares e nenhum namoro, só restava o caminho de casa, ou como diziam na comunidade: “o camim do fei é por ondi vei!”

No caminho de volta para casa, Sabazinho e Miguel tiveram a companhia de Seu Chico Vidal e os irmãos Preto e Mardone. Assim, com uma boa conversa, como gostam as pessoas do interior, a longa distância pareceria menos cansativa. Mas não eram somente estas companhias que os dois teriam! De repente, lá distante, havia mais alguém segurando uma tocha de luz. Logo saíram vários comentários:

_ Ali vem alguém com uma lanterna.

_ Não, aquilo é uma pessoa com uma lamparina.

_ Não, aquilo é um farol de um trator.

Preto, já bastante vivido por aquelas bandas, lembrou:

- Ah, rapaz! Aquilo é uma visagem que aparece nesta estrada. Já deu muitas carreiras em gente por aqui.

Disse isto e juntamente com seu irmão e Seu Vidal se desviaram e seguiram por outro caminho, pois moravam ainda bem distante.

Quando Sabazinho e Miguel, já com todos os cabelos arrepiados, olharam para trás e viram aquela luz sem que ninguém a segurasse, deram-se as mãos e correram desesperados para casa e quando lá chegaram nem conseguiam explicar o que havia acontecido. D. Rita, a mãe, desesperada perguntava:

_ Foi um lobisomem, uma matinta pereira ou o curupira? O que foi isso meus filhos?

Quando conseguiram, disseram:

_ Foi uma luz!

O pai resmungou lá de dentro:

_ E que frescura é essa de vocês ficarem correndo com medo de luz?!!!

Após as explicações, foram todos dormir, se é que conseguiram. No dia seguinte ficaram sabendo que se tratava de uma visagem que a maioria das pessoas do lugar já conhecia e não fazia mal a ninguém, mas já havia assustado uns quantos!

Muitas eram as hipóteses para a existência da visagem:

- Uma alma de vítima de acidente de trânsito que ainda em sofrimento não aceitava a morte;

- Uma fortuna escondida de alguém que morrera sem antes avisar a alguém. E outras mais.

Sem ter certeza da origem, o certo é que todos da comunidade já estavam acostumados com a luz, souberam depois, e assim também aconteceu com a família de Sabazinho e Miguel.

Passados alguns anos quis saber se aquela luz continuava a aparecer, qual não foi minha surpresa: com os desmatamentos, povoamentos e aberturas de novas rodovias, igarapés secaram e a luz, também, desapareceu.

Bendita era aquela luz!

Aldenir Rocha
Enviado por Aldenir Rocha em 07/01/2011
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