Apenas Fé

Não quero divulgar o catolicismo, não quero fazer campanha para santos, converter pessoas, ou muito menos tentar inventar histórias fantásticas. Mas é que há coisas na vida que nos impressionam. Coisas que acontecem do nada e que nos fazem pensar em milagres, forças divinas e coisa e tal. E eu, com toda a verdade e sinceridade, digo-lhes já vivenciei algo parecido com isso. Eu já vivenciei um acontecimento que para muitos pode parecer duvidoso.

Para muitos pode parecer apenas coincidência, para outros milagres, e ainda terão alguns que vão chamar isso de mentira,e automaticamente me chamar de mentiroso. Mas eu sei que isso aconteceu. E conto-lhes aqui o fato que me fez ser devoto, e acreditar que a fé, o pensamento positivo e a religião realmente dão forças nos caminhos que temos que seguir.

Eu estava desempregado tinham seis meses. Anteriormente havia trabalhado em um escritório de advocacia que fazia cobranças em nome de um grande banco pelo telefone. Sim, eu era um telemarketing. E só quem já foi um telemarketing sabe o que é ser um... Telemarketing. Um robô telefonista, uma das pessoas mais odiadas e enganadas com desculpas pelo telefone. Por seis meses trabalhei na empresa como estagiário, fiz bons amigos, alguns que hoje se tornaram quase irmãos. Aprendi a odiar meu supervisor. Porém, me vi cansado de ouvir ofensas, e daquela rotina chata de ligar para a casa das pessoas às vezes oito da manhã, para cobrar as dívidas delas. Enfim, resolvi sair dali. Afinal, já havia trabalhado em outras duas empresas, e achei que meu currículo já estava considerável. Puro engano. Achando que por estar no quinto período da faculdade de jornalismo me daria mais chances, não renovei meu contrato, e saí da empresa esperando não ficar mais que duas semanas desempregado... Fiquei seis meses desempregado.

No inicio não senti falta. Acordava tarde, assistia a filmes o dia inteiro, podia ver minha namorada na hora em que eu quisesse... Mas cansou. Já não tinha mais filmes para ver. Já não tinha mais o que fazer. E o pior de tudo. Comecei a me sentir inútil. Mas muito inútil.

Quando bate o desespero, é a hora de sair distribuindo currículos pela cidade. E é outro sofrimento. Andando pelo centro do Rio, depois pela zona norte, e por fim, pela zona sul. Sempre esperando que ao final do dia o telefone tocasse. Quem alguém de fato lesse meu currículo e me convidasse. Até pela internet eu comecei a distribuir. Sites e mais sites, mas ninguém ligava. E a tristeza começa a tomar conta da gente. A sensação de não ser bom o suficiente para emprego algum começa a dominar a gente. E eu estava assim. Triste, mal humorado, sem saber o que fazer, já que nenhuma das empresas ligava nem mesmo para escutar minha voz.

Foi então que numa semana, andando pela zona sul, triste à beça, eu passei em frente a uma igreja. Sabe quando você toma atitudes repentinamente? Uma espécie de reflexo, informação que sua consciência manda como uma bala. Pois é. Ao passar pela igreja, algo disse: ENTRA! Parecia uma voz, sei lá. Mas eu tinha que entrar na igreja. Eu entrei.

O interior dela parecia uma igreja de cidade pequena. Simples, com muitas flores no altar e uma grande escultura de gesso com detalhes dourados e alguns santos espalhados por ele. Santos esses que eu não reconhecia. Ao lado do altar, um figura muito parecida com São Judas Tadeu ficava sobre um pequeno suporte de gesso.ele olhava para frente e sua mão estava entendida para baixo. Acreditei então se tratar de São Judas Tadeu. Comecei a rezar com uma força qual nunca havia tido. Pedi saúde, paz, alegria, e tudo em dobro para minha família.Feito isso, pedi um emprego. Depois de meia hora ali, saí renovado. Como se um peso tivesse caído de minhas costas.

O mais incrível foi que, ao chegar em casa, minha tia me recebeu com a seguinte notícia:

-Rafael, uma tal de Cristina te ligou e disse que você tem uma entrevista de emprego amanhã de manhã, lá em São Cristóvão. Próximo ao Observatório Nacional.

Se eu disser que não fiquei surpreso vou mentir. Pois foi assim que fiquei. Moro do lado do bairro de São Cristóvão. E trabalhar tão perto seria ótimo...Almoçar em casa e tal. No dia seguinte, eu estava lá. Às oito da manhã sendo entrevistado. Com uma confiança qual nunca havia tido numa entrevista. Não estava lá o frio na barriga, a gagueira, o suor gelado escorrendo pelas têmporas. Eu me sentia tranqüilo e certo de eu devia estar ali. A entrevista foi calma, como uma conversa entre amigos. A moça que me entrevistou era muito simpática e bem humorada. Isso também ajudou. E ao sair dali ela disse:

-Hoje é quarta feira né? Na segunda-feira ligo para te dizer se você passou, tá bom?

Eu respondi que sim. Sabia que iria começar aquele tempo de angústia que é esperar uma ligação importante. Toda vez que o telefone tocasse, toda vez que alguém o atendesse, eu ia ficar perto, contando os dias. Contando as horas. Pensando com toda força que logo ela me ligaria.

Saí da empresa e fui até a igreja desconhecida. Agradecer a São Judas. Ajoelhei-me e agradeci. Prometi voltar caso passasse. Prometi dar dizimo em todas as missas possíveis. Voltei para minha casa cheio de confiança. Certa vez assisti ao documentário inspirado no livro O Segredo. Um livro de auto-ajuda que nos faz ver que com pensamento positivo conseguimos o impossível, e que tudo está ao nosso alcance, é só acreditar. É só ter fé. Apenas fé.

Ao chegar em casa. O telefone estava tocando. Fechei a porta rapidamente e o atendi. Suei frio. Era a moça da empresa. Ela que ligaria apenas na semana seguinte, já estava do outro lado da linha me dando a notícia de que eu havia passado na redação e na entrevista. E que começaria na empresa dali à duas semanas, após entregar todos os documentos. Não me agüentava de felicidade. Queria pular, correr. Gritar! Gritar muito! Fui para o quarto e comecei a agradecer a todos os santos que me vinham na cabeça. Rezei mais de vinte Pai Nossos. E após isso, fui contar para minha tia o ocorrido.

Foi então, que ela muito feliz também, me disse que eu devia agradecer ao santo do dia. Mas eu não sabia qual era o santo. Ela foi até a folhinha do calendário e viu. Era dia 24 de junho.

-Aproveita e vai à igreja dele agradecer. - disse minha tia.

Eu não fazia idéia de onde seria a igreja. Na verdade, eu não sabia nada sobre São João Batista. Mas foi então que checando no Google Maps, eu tive uma das revelações da minha vida. Você já deve desconfiar. Mas vou falar assim mesmo. São João Batista. O homem que batizou Jesus Cristo e que tinha sua igreja localizada no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. A igreja em que eu fui pedir emprego, a igreja que eu acreditava ser de São Judas Tadeu.

Todos a quem eu contei essa história se arrepiaram. Muitos duvidaram. E outros que não acreditam em santos, disseram se tratar apenas de pensamento positivo. Para mim, foi uma prova divina de que há santos olhando por nós. E que ajudam aqueles que precisam, aqueles que sabem reconhecer a grandeza do poder de Deus. Sou grato a São João Batista e hoje estou num emprego que me divirto, me dou bem com os demais, e que mesmo com um salário baixo, vou com prazer. Sei que alguém me queria lá. Que posso estar na vida de alguém para ajudá-lo. Ou até para ser ajudado.

E hoje em dia, pelo menos uma vez por semana vou até a igreja de São João Batista, no bairro de Botafogo, agradecer por ter me ouvido e intercedido por mim quando eu já não tinha mais de onde tirar esperanças e forças.

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[PARÓQUIA DE SÃO JOÃO BATISTA

Rua Voluntários da Pátria, 287 - Botafogo, Rio de Janeiro]

FIM

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 04/01/2011
Código do texto: T2709746
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