Para frente e para trás.
Fazia um calor terrível naquela sexta feira de dezembro de 1997.Kalisto com seu uniforme laranja,ja havia varrido vária ruas do bairro Floresta em Porto Alegre,suava como um atleta,que por sinal era,sempre em suas folgas corria no mínimo 5km.
Para ele que já havia passado dos quarenta e tantos,o trabalho era negócio sério,apesar de sua profissaõ não ser respeitada.Faltava uma pequena rua para acabar o serviço e ir para casa com o sentimento satisfatório de ter feito o seu melhor.
Essa pequena rua de mão únicase chamava Amirante Barroso,calma,sem tráfego,nem violência,era como um sonho,dava para ouvir o canto dos passáros,sentir o ar puro,já raro na maior parte da cidade.
E foi exatamente nesta rua que viu uma mala grande que outrora foi preta,junto à um poste de iluminação.Encaminhou se até ela,teve pena da pobre mala,velha ,surrada e por fim abandonada.
Abriu o fecho e neste instante o passado voltou com toda força,estava cheio de roupas infantis,pegou as,seis camisas coloridas,três calças de abrigo vermelhas e três bermudas jeans azul marinho.Estavam limpas e com cheiro de sua infância miserável,mas feliz.
Lembrou de seus cinco irmãos,todos negros e magrinhos,que só não andavam nus poruqe recebiam doações que vinham em maioria da igreja mais próxima que fazia campanha por doações de roupas e alimentos.
A vida é "para frente e para trás",foi o que tinha lido em algum lugar,na época não entendeu,mas agora aquilo era muito fácil de compreender,não se vive,sem que em algum momento se retorne ao passado.
Chorando de alegria e no fundo de seu coração uma pontada de tristeza,jogou a mala em seu carrinho de trabalho amarelo já cheio,tinha chegado à hora de fazer sua doação.