Uma festa da gota serena...

Estávamos no inverno, em boa parte do nordeste esta estação não se defini pelo frio, mas pela chuva, e para quem reside no litoral de Pernambuco sabe que nessa época elas nunca deixam de vir. Essa história aconteceu num desses dias chuvosos, mais propriamente num sábado, lá no século passado, julho de 1976.

Sabe daquelas noites que são repletas de raios e trovoadas, onde você vê o céu sem estrelas, com muitas nuvens escuras, e definitivamente com a lembrança de um dia inteiro bem chuvoso, daqueles dias tediosos e úmidos o suficiente para encharcar as ruas, árvores, e todos os telhados da cidade? Pois é aquela noite de sábado estava assim, eu já tinha até me conformado.

- hoje eu não vou sair de casa!

Estava me preparando para dormir mais cedo, quando o silêncio da rua é interrompido por alguns gritos que viam do portão na frente da casa de meus pais.

- Lulaaaaá! (meu apelido)

-Lulaaaaá!

Olhei pela janela, vi um colega, o meu xará Luiz, o Luiz Antônio estava segurando um pouco de jornal sobre a cabeça, e se movimentando como quem estava se escondendo das goteiras em baixo da árvore na frente, era por causa da chuva fina que por sorte caía naquele instante.

- Entra Luiz, O portão está aberto! (Gritei enquanto acenava para que o mesmo me visse.)

Aparece-me então o sorridente Luiz, ele estava meio molhado, com várias marcas de goteiras pelo corpo, mas com um tom de voz entusiasmado e com um aspecto visual de pessoa muito feliz.

- Lula rapaz, (falou-me) hoje vai ter um “assustado” (o que hoje chamaríamos de uma festa num domicílio) lá no bairro do Rio Doce, vai ser ótimo, vamos lá “bicho!” (hoje seria “cara.”).

- O que? Luiz são 21h30min, essa chuva não para, nós não temos carro, estou sem grana e o pior estou sem roupa para sair, minha mãe colocou as calças que gosto todas para lavar e ainda estão no varal. (na realidade era apenas uma calça a que me referia, só gostava de sair com ela, a minha especial, primeira e única calça jeans importada Lee, depois dessa só tive US TOP.)

- E daí rapaz? Põe outra, não vamos perder essa não, e aproveita que parou de chover, o céu já está até abrindo, vi umas estrelas e isso é um bom sinal, vai lá se troca, garanto que não vai se arrepender.

- Quem mais vai conosco Luiz? O Adauto, o Eduardo? (lembrei de alguns amigos que sempre saíam junto conosco)

- Não, vamos apenas eu e você! Os caras tão cheios de “frescura” só porque está chovendo um pouquinho. Na verdade eles é que vão perder uma festa muito legal...rapaz, a festa vai ser muito boa! Vamos lá, vai logo se trocar senão agente chega tarde!

Depois de muita insistência e muitos argumentos, me dei por vencido e fui trocar de roupa, afinal era apenas mais um dia chuvoso, e passar um sábado trancado dentro de casa ninguém merece.

Escolhi outra calça, uma que eu também gostava, era de brim branco, só que havia um problema com o botão, digo aquele de metal que fica na parte superior logo após o zíper, pois é, ele havia quebrado. Procurei então por um botão grande que pudesse substituí-lo, mas não encontrei. Pensei um pouco e tive uma idéia, já tinha visto minha mãe usar um prendedor chamado de “colchete” para fechar blusas que tinha, e encontrei dois desse na máquina de costura o que fora uma sorte. Não tive dúvidas preguei-os na calça usando linha e agulha, e como sou prevenido um mais acima e o outro um pouco mais baixo, como segurança, sei lá vai que algum quebra... Pronto! Passei um pouco de “Mens Clube 54” (PS. esse Perfume já foi um sucesso) vesti a calça branca, o meu sapato favorito um “Cavalo de Aço” solado na cor branco e preto e uma camisa social branca com listras verticais pretas (isso mesmo, todo preto e branco, e nunca fui um torcedor Corintiano), mal havia terminado de me trocar e o Luiz já estava no meu quarto chamando.

- Vamos lá Lula! Vamos lá senão começa a chover de novo!

Quando vamos sair ocorre o que mais temíamos, a chuva aumenta o seu volume

- Ta vendo só Lula! Tu demoraste muito bicho! Inconformado Luiz acrescentou: - Não tem guarda-chuva aí?

- Humm... Peraí,... Achei!, Unf! Que pena esta com uma haste quebrada, veja só... (quando o abri, uma haste ficou caída.)

- Ficou ótimo! (disse Luiz) vamos lá, não podemos perder a festa!

- Ô Luiz, a festa é na casa de quem mesmo?

- É uma amiga da Tânia!

- Você a conhece mesmo?

- Claro! Ela é bem legal você vai ver.

Conversávamos enquanto íamos arregaçando a bainha das calças para não molhar muito durante o percurso, e fomos saindo de guarda-chuvas mesmo na esperança de quando chegar ao bairro do Rio Doce a chuva já houvesse parado. Eu Escolhi claro o lado do guarda chuva com as hastes boas, e o Luiz foi erguendo com uma mão a haste quebrada para não se molhar muito. Foi no caminho que nos damos conta de tantas e quantas poças de água existiam, e de que o guarda chuva não era tão grande quanto parecia, lembrando que do bairro de Jardim Atlântico, onde nós estávamos até chegar ao bairro do Rio Doce todas as ruas eram de terra vermelha o que fazia um verdadeiro estrago nas nossas calças, principalmente a minha que era branca.

- Olha a poça aí,... Luiz Pula, Pula! ...OP´s espera aí .PLAFT!..Rapaz..olha aí ..me sujou de novo!

No meio do caminho a chuva fica muito forte, parecia que todas as poças de água haviam virado uma só, agente não sabia definir bem onde era que cada poça começava ou terminava, procuramos então dar mais atenção à chuva que caia sobre nossa cabeça, virou um verdadeiro puxa o guarda-chuva pra lá e para cá, enquanto eu molhava do meio das pernas para baixo, o Luiz Antônio estava com as costas totalmente encharcadas. Finalmente chegamos ao bairro do Rio Doce, e lá já havia calçamento. Nós conseguimos ver um barzinho e paramos para aguardar um pouco até diminuir a chuva e fazer uma avaliação da nossa situação.

- Nossa veja só, estou todo molhado! Meus sapatos... Ouça só.. Shinft! Só tem água rapaz! (Dizia o Luiz apertando os pés contra o chão)

– E minha calça toda molhada, olha só! E os sapatos também estão encharcados! (Eu também me avaliava)

- Você não usa cinto? (perguntou Luiz)

- Puts! é mesmo, quando coloquei a camisa por fora da calça naquela preça toda para sair de casa, terminei esquecendo, ah mais agora vai assim mesmo!

Nesse momento nada mais nos fazia desistir dessa festa, na nossa cabeça tínhamos de fazer nosso sacrifício valer a pena. A chuva fica fina novamente e continuamos nossa trajetória até que chegarmos a bendita festa. A calça era um pouco apertada na cintura, e as poças de água ainda existiam, foi justamente por causa de uma dessas que dei um pulo mais longo para desviá-la que forçou a cintura e quebrou um dos dois colchetes, senti na hora o rompimento porque rapidamente folgou a calça:

- O que foi isso? (Perguntou o Luiz)

- Rapaz sabe o que aconteceu, quebrou um colchete!

- quebrou o que? (até hoje ele não sabe pronunciar o nome da peça)

- Colchete! É que essa calça que estou usando não tem botão, ela tem colchete... Ta vendo, por isso é bom ser prevenido, eu coloquei dois colchetes na calça, e você falando que eu estava demorando, imagine se não faço isso? Eu agora tava ferrado!

Fui salvo pelo gongo, prosseguimos até chegar à casa da Tânia que por sinal não estava mais lá, já tinha ido para a Festa. E para não irmos até lá com um guarda chuva quebrado na mão, resolvemos escondê-lo no jardim da casa de Tânia, bem no meio de um arbusto que ficava próximo ao muro.

- Chegamos! Olha lá é ali!

Paramos na frente a uma casa que estava ocorrendo uma festa, olhei para todos os lados, e para dentro na área da casa, e não vi ninguém conhecido então perguntei ao Luiz:

- Ô Luiz como é o nome da aniversariante?

- Não lembro agora Lula! Vai olhando e veja se você encontra alguém conhecido por aí.

- Cara você ta brincando! Agente vai entrar de penetra? Porque eu estava olhando e não conheço ninguém aqui. Ela tem irmão?

A festa estava bem animada dava para ver a movimentação, mas todas as pessoas que eu via eram estranhas, sendo assim, continuávamos debaixo de uma garoa que caía e não tinha fim, eu não me atrevi a tentar entrar na festa, até porque havia dois porteiros bem na entrada, eles controlavam abertura e o fechamento do portão.

A essa altura eu já e estou desistindo e dando uma meia volta, quando aparecem lá bem no meio do jardim a Tânia e algumas amigas, eu olho para o lado para avisar ao Luiz, mas ele já estava se dirigindo até o portão de entrada, com uma mão ia forçando o portão para tentar abri-lo, enquanto acenava com a outra mão, ao mesmo tempo chamava por Tânia em voz alta.

- Tânia! Tânia! Vem cá!

- Êi rapaz vamos parando por aí! Você tem Convite? (Diz o porteiro, colocando a mão no peito do Luiz e segurando o portão)

- Moço, pêra ai, Eu só quero falar com aquela menina ali, eu volto logo.

-Não amigo só entra com convite! Você tem convite? Quem é você? (insiste o porteiro barrando a entrada dele.)

- Convite? Claro que tenho é que esqueci, mas eu conheço a aniversariante! (Gesticula o Luiz como se procurasse um convite no bolso.)

- Não, não,não, Pode voltar! E vamos logo saindo do portão que está atrapalhando a entrada!

O Luiz foi praticamente empurrado para sair da entrada, isso o deixou bastante irritado, e o fez voltar para trás estrebuchando.

- Que pessoal mais metido a besta! Custava nada me deixar entrar, só queria falar com as meninas! Estou com ódio desses caras idiotas!

- Luiz Vamos embora!(falei dessa vez até desanimado)

- Agora é que não vou mesmo, de que adiantou agente andar tanto? Ter tanto trabalho? Ah não, nós temos que entrar!

Ia de um lado para o outro olhando para ver se via alguém conhecido, até que acontece um milagre, aparece novamente a Tânia e outras duas colegas.

- Êi, êi, Tânia! (grita o Luiz mais uma vez)

Só que dessa vez ela nos vê, e vem rapidamente ao nosso encontro, chega toda animada, sorrindo, e falante.

- Ôiiii, gente, tudo bem?

- Tânia, agente não tem convite, e nós queremos entrar na festa, fala a aniversariante que conhece agente, ajuda aí vai! (Luiz já foi disparando)

Foi nesse momento que descobri que o Luiz definitivamente não conhecia aniversariante alguma, e já fui encarando-o com ar de irritação.

- Mais rapaz, que sacanagem é essa! Tu me fizesses vir aqui pra pagar um mico desses? Todo molhado de chuva, do lado de fora da festa, sem conhecer ninguém e ainda querendo arrumar um jeito para entrar de penetra?

A essa altura o Luiz sorria muito enquanto ia se afastando... Ele acenava com uma das mãos para que eu parasse... Realmente era uma situação bastante hilária, e quando nós íamos iniciar nossa discussão, ele aponta para frente e diz.

- Olha lá Lula, vai dar certo! (Apontava ele para a portaria, e lá estava a Tânia com a aniversariante conversando com os porteiros mal encarados, provavelmente para que nos deixasse entrar.)

Os porteiros, nós descobrimos mais tarde, eram na realidade alguns familiares da aniversariante e não haviam gostado muito da decisão dela, mas enfim acataram o pedido, e fomos autorizados a entrar na festa. Ainda na entrada fomos apresentados por Tânia a aniversariante, que nos recebeu educadamente.

- Gente essa aqui é a aniversariante!

- Prazer sou a Ellen!

- Prazer, Lula, feliz aniversário e nos desculpe pelo trabalho que demos.

- Que nada, não se preocupe, vamos entrando.

Bom, para não dizer que essa parte havia sido até então a mais tranqüila, quando chega a vez do Luiz ele puxa a mão da aniversariante para dar um beijo e vai logo dizendo:

- Ellen minha linda, eu comprei o seu presente, mas infelizmente na minha pressa por causa da chuva terminei deixando em casa, mas eu prometo que lhe trago depois!

Finalmente entramos, estávamos na festa, era realmente inacreditável depois de tudo que passamos, mal tínhamos dado uma olhada em nossa volta percebemos que como um raio a aniversariante já havia sumido , fomos então conduzidos por Tânia e Betânia, nossas amigas até o salão de dança onde estava tocando “discoteca” Donna Summer & Friends (gênero da época) bem ao estilo de “Bee Gees”.

- Vamos Dançar! (fala o Luiz para a Tânia)

- Está louco sai daqui, me larga! Você está todo molhado!

- Então vou dançar com a Betânia..

- Eu mesmo não, Ai me deixa! Sai daqui! (e assim foi à noite do Luiz)

Realmente o guarda-chuva não foi tão bondoso assim com o Luiz e sua camisa estava encharcada, graças aquela haste quebrada que havia no guarda-chuva que contribuiu bastante para isso, porém independente disso, foram todos para o salão já que a música era para se dançar solto.

Já eu, assim que coloquei os pés no salão vi um sofá de três lugares disponível e não resisti me dirigi para lá, senti que precisava descansar um pouco e assimilar tantas “provações”. Era um sofá por sinal bem baixo mesmo, então vou me abaixando para sentar e tenho quase que me jogar para que atinja o mesmo, foi quando descobri a péssima idéia que tive, no solavanco que deu no momento em que caí rompeu o segundo e último colchete que substituía o botão, sinto de imediato a calça folgando, também num movimento instantâneo levo as mãos para cintura para evitar a calça abrir de vez. Enquanto eu pensava “Deus do céu, e agora?” Sentaram-se duas meninas uma de cada lado, e elas nitidamente ficam incomodadas a me ver ali estranho segurando as calças, meio molhado e com as barras da calça suja de barro, a situação tornou-se mais constrangedora quando uma terceira colega chegou ao lado e disse:

- Nossa estou cansada! Deixe-me sentar um pouquinho aí ? (falou para sua amiga ao meu lado)

Logicamente olhei para o lado e fiz de conta que não entendia nada, porque sinceramente não dava para me levantar sem chamar mais atenção ainda, eu ficava então ali imóvel, esperando o Luiz ou Tânia aparecerem para pedir ajuda. Enquanto estou aguardando escuto alguém me chamando.

- Êi você não vai dançar? (Era a Betânia.)

- Agora não, mas Betânia me faça um favor, consiga com a dona da casa linha e agulha!

- Agulha? Ué pra quê?

- Eu estou precisando... é que caiu um botão aqui e preciso prende-lo.

- Caiu como?

- Caindo! Olhe Betânia faça um favor, chame aqui o Luiz ou a Tânia, ou consiga linha e agulha, mais eu preciso rápido, eu estou aqui e não posso sair.

- Ta bom, ta bom! , espera ai um pouco que já volto.

Na verdade a Betânia sumiu, por um longo período, enquanto isso eu fiquei lá sentado naquele sofá esperando, esperando, até que finalmente apareceu a Tânia.

- Ê Lula! Anima aí! Vai ficar a noite toda sentado é? Anima rapaz vamos dançar!

- Tânia, que bom você apareceu... Eu não posso dançar porque caiu um botão da minha calça. Por favor, vê se você consegue linha e agulha com a dona da festa, mais não suma também porque eu já pedi isso para Betânia e ela não voltou mais...

- Porque você não prende o cinto da calça bem apertado?

-Porque eu não estou com cinto algum!

- Então porque não pede cinto a um colega?

- Tânia, por favor, eu preciso que você fale com a dona da festa peça linha e agulha e tudo estará resolvido, por favor, vai lá!

- Hum ta certo Lula Vou ver se eu consigo, mas acho difícil ter agulha e linha, lá em casa mesmo não tem! Acho que vai ser bem complicado conseguir essas coisas. Logo depois ela também desapareceu, demorou, demorou....e demorou. Foi então quando apareceu o Luiz dançando sozinho e já foi pegando numa das minhas mãos e puxando.

- Vamos lá anima aí bixo! Ta cheio de meninas querendo dançar, anima aí, Hô! HÔ! Hô!

- Espera aí, espera aí! (gritei enquanto ele me levantava num puxavante, e com muito esforço eu ia conseguindo segurar as calças com a outra mão, mas o pior foi porque forçou demais o Zíper quebrando o puxador).

- Luiz, espera aí! Para com isso rapaz! Estou aqui numa má situação, e tu estás piorando ainda mais!

- Ôche Lula o que foi?

- Lembra do colchete que coloquei nas calças? Aquela porcaria quebrou! E tu me puxasses agora e terminou quebrando o Zíper também!

-Quebrou o quê?

- O Colchete, e o Zíper!

- Cô o quê?

- O botão! Luiz pode ser o botão! O botão da calça quebrou e agora ela está solta! Preciso consegui alguma coisa para prender as calças, ela está caindo entendeu? E eu estou sem cinto, Você tem um cinto aí para me emprestar?

- Mas Lula eu não uso cinto também não!

- Luiz, então veja se você ver a dona da festa, ou Betânia, ou mesmo a Tânia, qualquer pessoa que consiga linha e agulha, ou até um cinto emprestado! Traga alguém aqui que possa me ajudar, por favor!

- Se eu soubesse que você queria falar com a Betânia eu tinha trazido ela aqui, estava dançando solto com ela! Aliás, só consegui até agora dançar com ela e solto, porque as meninas ficam reclamando da minha camisa que está molhada. Isso é uma bosta mesmo não sei como secar essa porcaria!

- Mas Lula, e se tu fechar o Zíper não da para segurar não? Tu baixas a camisa e ninguém vai ver.

- P..merda! Não acredito nisso Luiz, será que você não entende... Não dá nem para andar direito será possível? Não dá para fechar não rapaz! Quando você me puxou agorinha quebrou o Zíper também e piorou a situação. Eu preciso de linha e agulha! Mostrei discretamente para ele a calça totalmente aberta.

- Nossa! Como foi acontecer isso rapaz? He,He,He,He, Olha não se preocupa não, eu vou conseguir alguma coisa, vou ver se aquela menina tem um irmão e pedir uma calça emprestada.

- Não Luiz! Luiz! Espera aí..eu só preciso de um pouco de linha e agu....AH.. Deixa pra lá!

Demora mais um longo tempo e retorna: o Luiz a Tânia e a aniversariante Ellen, e ela pergunta:

- é esse aí?.

-É....hi hi hi ! (todos com ar de rizos)

- Olhe não dá para conseguir linha e agulha! Hoje é impossível, ta tudo fora do lugar não sei onde está nada! E eu não tenho irmão do seu tamanho, por isso não vai dar para conseguir uma calça e nem uma camisa para o Luiz, é que ele é pequeno ainda!

- E cordão? Você tem algum cordão em casa? Pode ser também corda! Qualquer coisa que possa amarrar servirá para mim! É só para prender mesmo! (Falei quase desesperado.)

- Olha vou ver, mais não dar para prometer nada... Meu Deus! Onde vou arranjar cordão? (saiu falando com a Tânia e as duas sorrindo.)

A seguir, finalmente me apareceu a Betânia junto com uma senhora bem velhinha, onde a mesma me entrega um bolo de cordão azul listrado, daqueles muito usado em padarias, só que ele estava todo enlinhado.

- Olha moço só consegui esse cordão! Serve? (fala uma senhora com a cara amarrada.)

- Serve! Serve! Eu dou um jeito muito obrigado! A propósito onde tem um banheiro aqui?

- Você sobe a escada é a segunda porta a direita. (a senhora apontava para o pavimento superior)

- Obrigado!

Fui rapidamente adentrando, subindo as escadas até chegar ao banheiro que estava vazio, entrei, fechei a porta, e iniciei a difícil tentativa de desenlinhar aquele bolo de cordão. Mal iniciei o processo, uma criança começa a bater na porta e fica gritando escandalosamente.

- Deixa eu entrar! Tóc ,tóc, tóc, Quero fazer Xixi!, Tóc ,tóc, tóc, Deixar eu entrar! Tóc ,tóc, tóc, Manhêê, Tóc ,tóc, tóc,

- Quem está aí? (Era uma voz de mulher.)

- Um momentinho, Já estou saindo! (falei tentando amenizar a situação, para tentar soltar um pouco o cordão, mas de nada adiantou a peste da menina não parava um só segundo.)

- Deixa eu entrar! Tóc ,tóc, tóc, Quero fazer Xixi!, Tóc ,tóc, tóc, Deixar eu entrar! Tóc ,tóc, tóc, - O que é isso menina? ( voz de uma mulher novamente)

- Manhêê, tem um homem aqui dentro! Tóc ,tóc, tóc. Eu quero fazer xixi!

- Quem está aí?Tem uma criança aqui querendo usar o banheiro! (Agora era uma voz masculina.)

- Só um momento, já estou saindo!

Peguei o cordão de qualquer jeito e passei pelo cós da calça dei um nó, e ficaram várias pontas caídas, peguei essas pontas de cordão soltas e coloquei-as para dentro da calça, a seguir saí do banheiro o mais rápido que pude. Situação bastante estranha, pois havia algumas pessoas a espera que eu saísse isso porque eu não havia passado mais que 3 minutos no banheiro. Assim que abri a porta uma menina foi logo me empurrando e entrando com a sua mãe, do lado de fora um senhor me olhava mal encarado e dizia:

- Porque você não usou o banheiro lá de baixo? Todo mundo ta usando lá!

- Desculpe, mas foi uma velhinha que me falou que o banheiro era aqui em cima!

Não fiquei aguardando mais reclamações desci rapidamente, e ufa! Finalmente estava livre daquela situação e o melhor com as calças bem presas!

Logo ao descer a escada reencontrei o Luiz Antônio com sua camisa ainda bem molhada junto com a Tânia e Betânia, nós demos umas voltas pela casa, tomamos uns refrigerantes, comemos uns bolinhos, cochinhas, e voltamos ao salão para dançar, fizemos uma rodinha e cada um ia uma vez ao centro dançar sozinho, foi tudo muito divertido e me sentia muito a vontade, pois mesmo sem conhecer as pessoas todos eram muito amigáveis sorriam e batiam palmas quando eu fazia meus melhores passos “solo”, até que um sujeito que não conhecia me segurou pelo braço e disse em meu ouvido:

- Deixa de ser bobo que estão te zoando! Colocaram um rabo em você rapaz!

- Rabo?

- É tem um cordão perdurado aí atrás de você!

Rapidamente passo a mão nas nádegas e lá estava alguns pedaços de cordão que haviam ficado soltos quando eu amarrara na cintura para prender a calça, não tive dúvidas puxei os pedaços de cordão para cima introduzindo-os para dentro da calça, isso com todos me observando e sorrindo, envergonhado dei meia volta e disse:

- Luiz, chega vou-me embora! Se quiser ficar pode ficar porque eu estou indo agora! (Saí andando e o Luiz veio logo atrás tentando me seguir, e se explicando.)

- Lula rapaz se eu tivesse visto eu tinha dito a você, eu não vi mesmo..

- Cara, essa foi à pior noite da minha vida! O que poderia mais dar errado hoje?(falei para o Luiz.)

Logo mais a frente descobrimos que o guarda-chuva que havíamos escondido em um arbusto no jardim da casa de Tânia não estava tão bem escondido assim, pois não se encontrava mais lá, alguém encontrou primeiro e o levou.

- Luiz, me faça um favor, não me chama mais para essas festas da “gota Serena”!

- Gota serena? O que é isso?

- Sei lá, só sei que toda vez que meu pai fica nervoso com alguma coisa diz isso!

- Lula quer saber de uma coisa? Acho que não devíamos ter saído hoje de casa mesmo!

E como já era de se esperar, começa a cair uma forte chuva novamente, abrimos uma longa gargalhada e aos poucos fomos revivendo os micos que pagamos naquela noite chuvosa, Só sabíamos que ainda estávamos felizes, pois nem para tudo nessa vida é necessário uma explicação, apesar de todos os eventos, nós nos divertimos bastante, e fortificamos ainda mais nossa amizade... Coisas da adolescência.