A Kombi do Tonhão

Se havia uma coisa que o Tonhão não media esforços para manter impecável era a sua Perua Kombi. Sempre quando ele a encostava ali no ponto de fretamento junto com os outros carreteiros, no comecinho da Rua dos Junquilhos, ao lado da igreja da Vila Alpina, era comum o pessoal vê-lo sempre com uma flanela às mãos dando um trato na sua lataria. Durante a semana ele tirava os bancos da perua para fazer pequenas mudanças ou entrega de alguma mercadoria ali pela redondeza. Já no sábado ou no domingo ele recolocava os bancos que era para levar algumas pessoas que fretavam a perua para algum passeio, geralmente para Aparecida do Norte ou para o litoral. Sua Perua era a mais requisitada pelo simples fato de ser a mais conservada entre as que faziam ponto ali no fretamento.

Outra coisa que o Tonhão adorava era freqüentar os bailes da terceira idade ali no Salão de baile Carinhoso, no Ipiranga, aos sábados e domingo à noite. Ele se produzia todo. Terno, gravata e sapatos de cromo alemão. Antes de ir para lá ele fazia questão de dar um rolê com a sua mina ali pelo Largo da Vila Alpina para que todos o vissem acompanhado da sua gatinha. Ele tinha 72 anos e ela 61. O danado era casado com uma outra senhora, que era evangélica e que por esse motivo não o acompanhava em suas farras noturnas. Ele conheceu a Marina em um dos bailes no Carinhoso e desde então se tornaram companheiros inseparáveis. Ele mesmo dizia que com a sua verdadeira mulher apenas mantinha as aparências, pois há muito que já não dormiam na mesma cama.

Em um sábado à noite o Tonhão encostou a sua Perua do lado oposto a padaria que tem no Largo da Vila Alpina e juntamente com a Marina atravessaram a rua em direção a uma lanchonete que tem do outro lado da praça. No meio do caminho ele a deixou esperando e retornou para a Perua para pegar alguma coisa que havia esquecido. Abriu a Perua, remexeu o porta luvas e depois fechou a porta novamente, retornando para o outro lado onde havia deixado a Marina esperando por ele. Passou por alguns rapazes que estavam conversando próximos a padaria e um deles brincou com o Tonhão.

----Ai Tonhão, não deixa ela sozinha não que a gente rouba ela, heim!

O Tonhão virou-se rapidamente e, colocando a mão na cintura como se estivesse armado, questionou o rapaz:

----Roubar o que Madureira? O que é que você quer roubar?

-----A sua namorada Tonhão! Se você deixar ela ali sozinha nós vamos roubar ela!

O Tonhão ergueu as mãos para o céu e gritou:

----Ah bom! Pensei que fosse a perua que vocês estavam querendo roubar!

A minha namorada pode até roubar, que com o tempo eu supero a dor! Agora a Perua? Pelo amor de Deus eu imploro, não mexam nela não!

O Tonhão atravessou a rua morrendo de rir e foi com a sua mina tomar Guaraná na lanchonete do outro lado da Praça.