UM CAIPIRA NO PALACIO DO GOVERNO
Chico Fria era caboclo preguiçoso como ele só, passava o dia inteiro dentro de casa de papo pro ar e se falassem em trabáio por perto, la vinha ele se pondo a justificá: sou doente, dotor pediu pra mim não abusá e ia desfiando sua desculpas numa agonia de dar dó, saia o Chico de fininho, dizendo que ia pra casa descansá, mas de que cansaço? Parecia inté um fiasco, nem ele memo sabia explicá.
Assim entrava dia e saia dia, Chico nesta mordomia, pra sobrevive apelava pras tramóia, vendia porco, comprava galinha, serviço leves que nem sequer os pano móia, em seu ranchinho ao pé da serra, levava a vida numa maciota, e por sorte sempre aparecia por lá uns marmota, para com o Chico negociá e o pouco dinheiro que ele ganhava, dava muito pra se sustentá, pois solteirão, já que casá o rapaz nunca quis, garantia pra todo mundo que levava uma vida feliz, sem rabo de saia pra ti perturbá.
Mas não façam troça, se pensam que o rapaz era santo, enganam de novo, o malandro tinha lá os seus encantos, arrumava seus enguiços, que pra fugir dos compromissos, usava como desculpa a boca do povo e Chico fria que de bobo não tinha nada, leva uma vida sossegada, alongado em sua choça
Mas por má dos pecado, já diz um famoso o ditado, água mole tanto bate em pedra dura, inté que um dia ela fura, assim aconteceu c’o coitado. Estando ele despreocupado em sua casinha branca, que nem precisava de tranca, pois nada de valor ele tinha. Apesar de preguiçoso, era um homem ambicioso, o sonho de vencer na vida um dia, era o desejo que mais lhe convinha. E num é que no ponto fraco do Chico Fria, foram bulir certo dia e apesar de muita futrica, os sertanejos do lugá, o Chico foram chamá para política, apesá de sê um rapaz isquisito, parecia num tê tino pra isto, mas como a tar emancipação do povoado, era algo tão falado e ponto de honra de todo cidadão, o rapaz não se fez de arrogado e lutando por liberdade, em busca de dignidade para todos do povoado, ganhou a simpatia junto a população.
No corre-corre do eficiente cabo eleitorá, o homem se destaca neste meio, embora não fosse candidato a prefeito ou vereadô, com seu jeito acaboclado, homem calmo e asossegado, ele se desdobra na luta pelo ideá e levando esta bandera pelo povoado afora, o rapaz tornou um respeitado critico, temido inté no palácio do governadô, onde o boato chegou sem demora.
Com a chegada da nova eleição, na caça de votos na região, o Chico então foi chamado para uma audiência, onde sua excelência, autoridade máxima do estado, com medo do famigerado, queria o seu apoio no pleito (em eminência) para sucessão do governo. Chico não se conteve, num belo terno metido, caboclo esquio, bem apessoado, fazendo inveja a qualquer deputado, no gabinete é recebido. Tentando puxar conversa, lá vem seu governadô, homem sábido, muito proseadô, ferramenta do bom político. Astuto como ele só, na qualidade do bom caipira, olha pro teto, olha pros lado e se admira, nunca havia visto tamanho luxo o pobre do Chico. Mas tudo desanda de veiz, com a pergunta que o governadô feiz: E como vai a zona de vocêis? Era o momento oportuno, Chico não agüentando desabafô: Está uma bela porcaria, nóis tâmo numa agonia, puís acredite o sinhô, que só uma puta veia lá ficô, as novinha foram simbora e nois num vê a hora, disso tudo mudá...
... Seu governadô !!!!!