Na subida da Brigadeiro

Quem mora em São Paulo e ouve alguém se referir a subida da Brigadeiro, imediatamente já associa a frase a Corrida de São Silvestre que é conhecida mundialmente por ser um evento que conta com a participação de milhares de pessoas, inclusive com vários atletas internacionais.

A Corrida de São Silvestre é realizada sempre no último dia do ano à tarde e percorre as principais vias da paulicéia desvairada.

A largada é dada na Avenida Paulista, próximo ao prédio da Gazeta, em seguida desce a Consolação, entra na Avenida Ipiranga, depois à esquerda na Avenida São João, e vai embora até o Bairro das Perdizes, depois retorna pela Avenida Rio Branco, atravessa o Viaduto do chá e logo a frente começa a subida da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio. Meu irmão, é ai que o bicho pega. E como diria o nosso querido Luiz Gonzaga se ainda estivesse vivo: “É uma subidona arretada da porra”.

E como acontece em todos os anos, tem sempre três ou quatro atletas que chegam emparelhados ali no começo da subida que tem quase três quilômetros até o seu topo, quando então atingem a Avenida Paulista e entram nela a direita, de onde já se avista logo à frente a linha de chegada. Porém é sempre na subida da Brigadeiro que a corrida começa a se definir, e aquele que tem mais fôlego vai deixando os adversários para trás e acaba vencendo a competição.

Todo ano é sempre a mesma coisa, porém é de arrepiar quando vemos um brasileiro em meio a aquele pequeno grupo de atletas chegando a aquele ponto do percurso e o narrador quase aos berros anunciando:

---- “Vocês ai de casa preparem o coração. Estamos chegando na subida da Brigadeiro e temos um brasileiro entre os primeiros colocados."

Nesse momento é que a gente descobre quem é que tem garrafa para vender, e é muito legal quando vemos alguém de verde e amarelo entrando na Avenida Paulista segurando uma pequena bandeira do Brasil, que alguém da platéia lhe entregou, e atravessa a linha de chegada em primeiro lugar. Isso nos dá uma sensação de alma lavada e por alguns minutos, entorpecidos por aquele momento mágico, esquecemos todos os dissabores ocorridos durante o ano e acabamos entrando, também, no clima da festa produzido pelo narrador que chega a quase estourar os pulmões ao repetir dezenas de vezes que: --"É do Brasil! É do Brasil!".

Pois bem, mudando a conversa de alhos para bugalhos, e ao mesmo tempo tendo tudo a ver com a subida da Brigadeiro, encontrei-me dias destes com o Ari Negrão, próximo a Igreja de São Rafael, ali na Moóca, e depois de alguns minutos de conversa perguntei se ele havia participado da festa dos veteranos da Vila Alpina que ocorre todos os anos no mês de outubro com o pessoal que já pendurou as chancas há um bom tempo. Ele respondeu que sim e por incrível que pareça, nesse ano, todos que saíram na foto do ano passado compareceram a festa. Felizmente ninguém morreu.

Na realidade até eu fiquei surpreso, pois todos os anos quando nos encontramos para essa confraternização recebemos a notícia que alguém da festa anterior não compareceu ao evento por ter falecido. E diante da minha surpresa, ele, com aquele seu jeitão sossegado e gozador, não deixou por menos:

----Olha Ferretti... Morrer não morreu ninguém não! Mas pelo que eu pude observar tem um par deles que já começaram a subir a Brigadeiro. Falta só um fiapinho pra atravessarem a linha de chegada.

Depois de muita risada nos despedimos e cada um seguiu o seu caminho em sentido contrário a Brigadeiro.