A TEMPESTADE NO SITIO
Era verão, a tarde estava quente e no céu enormes nuvens se formavam e corriam de lado para o outro, meu avô, homem experiente, observando os fenômenos da natureza tais como a temperatura, o sentido dos ventos e as aparecias do tempo, nos alertou para que não nos afastássemos de casa, pois a tarde prometia temporais que poderiam vir com rajadas de ventos e ate mesmo granizo, portanto neste domingo ensolarado nada de caças de estilingue pelas palhadas e capoeiras das redondezas e muito menos pescas na represa do riozinho que costumeiramente fazíamos a tarde.
Como meu avo previu, não demorou muito para que nuvens negras começassem a levantar no horizonte montanhoso do lugar onde morávamos. Meus pais procuram recolher objetos e alimentos que não pudessem molhar, se protegiam tudo da tempestade eminente e que não tardou chegar com ventos fortes, escurecendo aquela tarde como se fosse noite. Os relâmpagos clareavam a tarde escura e os trovões e raios retumbavam fazendo eco na imensidão do vale, mamãe,cuidadosa que era, logo tratou de proteger os objetos de aço, assim facas e talheres foram recobertos com panos de prato, toalhas cobriam o grande espelhos da penteadeira em nosso quarto, até vovô ensacou a velha espingarda rabo de cutia que mantinha dependurada na parede de seu quarto alegando que estes poderiam atrair raios e todos nós ficamos reunidos em torno do fogão de lenha na cozinha, encolhidos com medo da chuva que caia forte lá fora, como se alguém estivesse derramando água com um pote no terreiro. Momentos de silencio e recolhimento, tanto de nossa parte como dos mais velhos e até dos animais que permaneciam quietos em seus devidos compartimentos enquanto a chuva caia torrencialmente lá fora, era puro respeito a natureza.
Num instante o barulho da chuva caindo no telhado de casa mudou radicalmente, parecia não ser água, mas sim pedras que estavam caindo do céu e realmente eram pedras de gelo que caiam fazendo um barulho estrondoso sendo que, não sei como, algumas conseguiam penetrar dentro de casa. Gelo era novidade naqueles confins de meu Deus, o suficiente para fazer brotar a curiosidade de nós crianças que, perdendo o medo, saímos de nosso aconchegos para catar aquelas preciosidade. Mamãe correu no dispensa, pegou um punhado de sal e jogou em forma de cruz no terreiro, disse que era simpatia para que parasse de chover pedras, se valido ou não, só sei que momentos depois embora a chuva continuasse caindo, as pedras foram raleando até não cair mais.
Assim que a chuva parou, ficando apenas um chuvisqueiro, desentocamos de casa e saímos a correr pelo terreiro, brincando na enxurrada, vasculhando algumas pedras de gelo conservada na grama judiada do piquete e a cata de alguns frangotes ou pintinhos de algumas galinhas que desavisadas ou negligentes não trouxeram a tempo seus filhotes para o galinheiro. Foram muitos que encontramos entanguidos pelos pastos e plantações no derredor de casa. Trazíamos para dentro de casa, mamãe os acolhia, envolvia em uns trapos e punha no calor do fogão de lenha para se aquecessem e se enxugassem a fim de saírem daquele estado que os levaria a morte e a bem da verdade, todos aqueles encontrado com vida, acabaram por se recuperar de forma que não se perdeu nenhum deles.
Em breve a noite chegou, tomamos os nosso banhos e como de costume, o jantar foi servido no fogão onde cada um fazia o seu prato e escolhia um determinado lugar para fazer a refeição, depois nos recolhemos, no outro dia bem cedo ao levantarmos, o sol brilhava forte, sinais da chuva ainda estava por todos os lados e das pedras de gelo, somente a devastação que causou.