O DESABAFO DO CABOCLINHO

O Caboclinho passava seu tempo enfiado em sua pequena propriedade rural cuidando da vida e só deixava a roça vez por outra quando carecia comprar alguma coisa para sua sobrevivência, aquilo que de bom grado, o sitio não produzia, tais como a aquisição de querosene para as lamparinas, açúcar que diga de passagem, ele comprava de saco de 60 quilos e dava para passar quase o ano, uma o outra ferramenta e como a modernidade já havia chegado no pequeno povoado, ele aproveitava estas idas ao povoado para trazer arroz para as maquinas de beneficiamento, aliviando assim a tarefa da esposa de socar arroz no pilão para descascá-los, alem do que na oportunidade fazia uma visita no açougue para saber o preço da arroba de bois e dos capados pois sempre tinha alguns para vender e já que passava por lá, comprava carnes bovina, uma raridade na roça que tinha fartura de carnes de frangos, porcos e alguma caça, mas carne de boi era só adquirindo no povoado.

Muito mesquinho que era o caboclinho acabou desconfiando do açougueiro e por varias vezes chegou em casa, pesou a carne e foi batata, sempre com a diferença de cinqüenta a cem gramas por quilo comprado e isto foi incomodando o caboclinho até que certo dia ao chegar no açougue, ponto de encontro de desocupados da cidade que viviam de maracutáias como compra e venda de gados, de galinhas e até de propriedade rurais e que se intitulavam garbosamente pelo nome de corretor, nesse dia o açougue estava repleto desses indivíduos, parecia até festa, o caboclinho achou oportuno provar para todos ali presente que apesar de caipira, de bobo ele não tinha nada, assim bradou em alta e bom tom de voz:

___ Açouguero, me pêse aí novecentas gramas de carne e quero daquela cortadas assim, bem fininha que é pra bifi?

O açougueiro achando esquisito o pedido do freguês questionou quase que involuntariamente, perguntando num tom de deboche:

___ Ué seu João, porque não leva um quilo? Ou é alguma simpatia?

O caboclinho que estava com esta trapaça enroscada na goela, deu um sorriso maroto e respondeu com simplicidade de sempre mas com a finalidade de que os presentes ouvissem o seu desabafo

___ Que simpatia qui nada homi, é qui num adianta nada pedi um quilo, balança do sinhô só pesa novecentas gramas memo ué. Intão pra incurtá o causo, já peço a quantia certa pra num dá trabaio pro amigo, sô!

As pessoas que ali estavam e que conheciam como ninguém esta mania do açougueiro caíram na gargalhada enquanto o dito cujo foi providenciar o pedido do freguês quietinho pra não mexer mais no vespeiro.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 18/12/2010
Código do texto: T2679013
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.