CUMPADRE NATALINO
INFELIZMENTE TROCARAM O ANIVERSÁRIO DE CRISTO PELA GASTRONOMIA.
- Bão cumpade?
- Bamo levano.
- E as festança do Natar?
- Sei não cumpade.
- Cumo assim?
- Minha fia fica inté trêis mêis sem vim aqui e quando vem já fica inventano lei.
- Qualé que foi a dagora?
- Saiu de beiço pra cidade dizeno que só passa o Natar cunóis se comprá arve de Natar e peru.
- Mais praquê comprá mais arve no meio desse tanto...
- Isso queu falei.
- Peru praquê quesse tanto de galinha e leitoa?
- Puis antão...
- Esse povo da cidade é cheio das moda né cumpade?
- Nos meu tempo tinha dessas bobage não; no Natar nóis ia pra casa do vô, rezava um terço, cumia uma leitoa e cama.
- Tinha esse tanto de presente não cumpade?
- Que nada cumpade. Meu primeiro presente já tinha lá uns oito ano.
- Ganhô o quê cumpade?
- Uma foto no retratista da cidade dada pelo padrinho de batismo.
- Gostô do presente cumpade?
- Fala não cumpade. Guardo aquela foto inté hoje como se fosse um guiso de cascaver...
- Dá sorte cumpade?
- Uai, sorte sei não, mais quando bato os óio nela me dá um trem tão bão cumpade!
- Saudade cumpade?
- Saudade e lembrança de tê sido munto feliz...
JOSÉ EDUARDO ANTUNES