Orvalho
Noite fria e cobertor de lã
Uma combinação perfeita
Mas tem dia que é desfeita.
Bem cedinho temos obrigação
Menino pequeno e obediente
Acorda e vai pegar o alazão.
Vasto pasto, vasto chão...
Fazendo atalho,
Vou correndo e espalhando
As gotas de orvalho.
Vou me lamentando
Chorando e gritando
Com o irmão mais novo
Que juntos desafiam
Todos os dias em cada manhã
Os caminhos e pastagens
Por onde os animais
Nas noites frias
Vão se aquecer
Para no amanhecer
Se deixar prender
E no lombo papai colocar
Uma cangalha e dois tonéis
Para o leite dos currais servir
E o fabrico abastecer
As casas dos coronéis.
Coitado do bicho...
E de mim também
Ele: lutando, sapateando
Mesmo sem querer, pisa os meus pés.
Eu: chorando e gritando.
Incompreendido, sou confundido
Com menino preguiçoso,
Fraco ou manhoso... Talvez tinhoso.
Querendo esquivar-se da lida
Da ajuda para a descida
Do tonel da cangalha.
Êta menino que trabalha
Ajudando desde cedo
O pai que cobra sem medo de errar
Na criação que dá,
Mas faz o que pode.
E é muito feliz
Porque o que ele faz é amar.