UM CAIPIRA QUE SOFREU ACIDENTE DE AVIÃO

Zé Voador um caipira pra lá de analfabeto, morava com sua mulher num casebre de palha. Viviam metidos naquela densa mata misturados aos cânticos dos pássaros silvestres e rugidos dos animais. Distante da cidade sobrevivia do que a mata lhes oferecia alimentando de ervas peixes e caças, eram sadios como coco. Sendo ele mais novo do que ela, a diferença de idade dava-se a impressão de ser mãe e filho.

Zé era apaixonado por avião seu maior sonho era ver um avião aposado no chão como afirmava no seu linguajar caipira.

O matuto conhecia a fundo os segredos da floresta, e sua velha era especialista em fabricar poções afrodisíacas, vendidas aos atravessadores, feirantes da cidade. Uma vez por mês o casal rasgava na canela madruga afora as duas milhas de trilhas tortuosa no meio da mata até atingirem o descampado onde mais três milhas de estrada mal conservada os conduzia até a pequena cidade, também de recursos limitados, mas com um bom hospital publico, onde estagiários em medicina se revezavam atendendo gratuitamente com muito carinho os pacientes que por lá passavam.

Quando o casal chegava à cidade com as peles de animais, garrafadas e ervas preparadas pela velha Firmina, os feirantes se reuniam em torno deles e em pouco tempo seus produtos se esgotavam. Eles faziam suas comprinhas retornando a seu casebre.

Bastava o caipira ouvir o ronco de uma aeronave La estava ele caminhado de papo pro ar tropeçando aqui e ali acompanhando seu trajeto e exclamando – Num vô morrê inquanto ieu num vê estrem aposado no chão mode ieu avuá nele. Firmina logo retrucava – ancê dexa de bestaje donde viu capiau que nun sabe lê andá intreim de granfino?

Logo que os feirantes descobriram a fraqueza e o sonho do caipira começou alimentar sua idéia enfiando minhocas na sua cabeça. E para seu deleite lhe acrescentaram o apelido “Zé Voador” -, entusiasmado até que ele gostou de ser chamado assim sorria largamente de boca aberta mostrando sua capainha inteira.

Um belo dia Firmina muito indisposta decidiu não ir à cidade como de costume Zé Voador viajou sozinho levando seus apetrexos a serem vendidos.

Já bem próximo da cidade ocorreu um acidente Voador caiu num buraco fraturando um braço. Estrada quase deserta sem transito de veiculo, transitavam por ali somente algumas carroças de lenhadores. Contorcendo de dor o pobre caipira não conseguiu escalar o barranco. Dois dias se passaram sem uma vivalma pintar por ali. Preocupada com a demora do marido já no terceiro dia a velha saiu a procurá-lo. O encontrou febril quase sem vida. Ajudada por um lenhador o colocaram em sua carroça, levaram-no ao hospital. Duas semanas entre a vida e morte dizendo coisas sem fundamento e repetido sem parar que nunca mais entraria num avião que avião era armadilha de apanhar tatu. Passado a fase pior, ainda convalescendo o Médico que o atendia notando que já não havia mais risco de vida, resolveu investigar o Zé... -Então seu Zé agora está tudo bem me conte o que ocorreu, como foi que você se acidentou? Seu dotô resurtado do tar de avião seu dotô purim disastre! Como assim desastre você caiu de um avião ou viajou em algum? – Uai sô dotô viajá mêmo intè qui não, mais qui foi disastre de avião foi, juru pur deusu cum essa língua qui a terra ade cumê! Sinhô sabe aquese iguar gaiola de ponha tatu qui passa avuano cumas tabas bateno inrriba mode aposá e carqué lugá?- Ah sim aquele chama helicóptero! Pois é sô dotô võ inspricá mode siô intendê mió. Ieu envia pa istrada pa mode vendê as garrafadas de alevantá os falicidos dos veinhos sanhado qui minha Firmina fais mió de qui tudo mundo. Vêi um danado avuano memu inrriba dieu, alevantei o cucuruto mode gritá cus ome vê cês mim dava garupa mode avuá tomem fui andano cus zóio parriba quando vi tava cumenu terra nu fundo du buracu. Avuá num avuêi mais quebrei meu braçu num disastre de avião issé coisa quiacho das mai mió de bão mode uzôto ficá sabeno e pensano qui avuei de verdade sô dotô!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 06/12/2010
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