SERÁ QUE EU CASO?

___Cê namora mais Chiquinho, a bem uns cinco ano né memo?

___Pois num é Rosa, mai eu num caso se o Chico num pidi minha mão pro pai,

cum aner bem lindo!

___Mai num é bobage sua? Qui importa aner? bão memo é que ele ame ocê!

Cá entre nós, eu acho que Maria não queria casar.

Moça bonita, seus 20 anos, apesar da pouca cultura, era uma menina sonhadora.

Sempre dizia querer vir morar na cidade, fazer um curso noturno, aprender falar melhor!

Chico era da roça, conheciam-se desde crianças,

Com certeza depois de casados, iriam viver ali mesmo.

O pai já havia dito:

___Quando oceis casá, nois fai alí uma casinha boa, pra criarem os fio na natureza.

Maria olhava para o pai, não dizia nada, se concordava ou não...

Um dia Chiquinho chegou para ela chapéu na mão, olhar tímido...

Pigarreou limpando a garganta que teimava em formar um nó...

Ele era assim, cinco anos de namoro e aquela timidez tamanha.

___Maria..imbora casá?

Nói fai a casinha alí no chão do seu pai.

Cava uma boa cisterna, cria umas galinha, inté um capado noi ingorda! bamo?

___Mai...qui deu nocê? casá assim as pressa?

___ Eu amo ocê Maria, nói fica noivo, passa um tempo noi casa!

Foi então que Maria para ganhar tempo...

___Bão... Noi fai assim!

Cê compra um aner de noivado,

Num carece de sê caro, mai tem que tê duas pedra,

Uma azur e otra vermeia, então pede minha mão pro pai,

Daí nóis nóiva.

___Mai... onde eu acho aner assim?

___Acha!!! Se procurá acha!

___Tá bão intão se tem que sê assim... vamo tirá a medida do dedo!

Quando Chico foi embora, Maria sentiu um pouco de remorso.

__Meu Deus, será qui tá certo eu tormentá assim o Chico?

Mior num será eu noivá logo...casá...

Ai ai ai, tenho medo de casá e parí um montão de fio igual a mãe... oito...

bamo ve o que é que dá...vamo ispera ele vim co anér.

Chico cuidou dos afazeres da roça naquele dia com o pensamento no tal anel.

___Duas pedra, uma azur e otra vermeia...Dadonde eu vô acha esse aner?

minhã cedinho vou pra cidade, tenho que achá.

E lá se foi Chiquinho, com parte de suas economias atrás do tal anel.

___Uma pedra azur e otra vermeia... Uma pedra azur e otra vermeia... Diacho!!!!

Chegou à cidade. Naquele horário, boa parte das lojas já estava aberta.

Olhou a vitrine ...cordões, pulseiras, brincos anéis...

___Aner ...num vejo ninhum com duas pedra...vou veriguá!!!

___Bom dia moço ...Cê tem um aner de duas pedra uma azur e otra vermeia?

___Bom dia ...na verdade assim como o senhor quer não, mas temos anéis lindos.

___Brigado moço, mai tem que sê de duas pedra...

E o pobre do Chiquinho procurou, procurou, em vão, em nenhum lugar tinha o tal anel.

Ia voltando pra casa, tristonho, pensativo...falando com seus botões...

___Será se eu cunversá coa maria ela muda de aner?

___O que o sinhor disse? Tá falando cumigo?

___To não, to falando co eu memo, pensando no aner de duas pedra...

___Anér de duas pedra? num será uma azur e outa vermeia?

___Como ocê adivinhô moço?

___ Eu ví o senhor assuntá lá na loja do Portugueis. Pois oia, eu conheço um tal de "orive"

que é bem capai de fazê um aner assim.

___Memo? Poi se ele fizê eu dô um bão agrado procê.

Os olhos do rapaz brilharam na expectativa de ganhar uns trocados.

___Imbora lá intão...

___Imbora!!!

E lá foram Chiquinho e o tal moço falar com o ourives.

___Eu truxe aqui esse home que tá atrai de quem venda um anèr.

___Anel é aqui mesmo, disse o ourives piscando para o moço.

___Mai tem que sê de duas pedra, uma azur e outra vermeia!

___Hummm!!! Assim especial sai mais caro!

___I é? Quanto é?

___Hummm, vejamos... sai pra uns quinhentos reais.

___Virge Maria, tenho tanto dinhero assim não moço.

___Mais quanto o Senhor tem?

___Tenho duzento... meno o que eu prometi pro moço.

___Hummm...Só se for um anel com pedra pequena.

Daí dá pra fazer por esse preço,

___Bão Maria disse que num carecia de sê caro!!!

E pra quando sai?

___Hoje a tardinha tá pronto se o senhor deixar pago.

___Eu dexo, mai fico aqui esperano, num tenho pra donde i memo

e ocê, tem que dá o agrado do moço.

Os comparsas se olharam...

___Vou fazer um anel bem vagabundo pra esse otário, pensou o ourives.

___Cadê o dinheiro a medida...

E o anel foi feito.

___Hoje memo eu peço Maria pro pai dela, ela ai de gostá do anér...

___Maria...Oiii Maria, Veja o que eu truxe!!! O anér côas duas pedra.

___Eita alegria no meu coração, Será que é amor?? Nunca senti isso.

Mai...que vontade pulá no seu pescoço...bejá bejá.

Nem carecia do anér.

Três meses depois, só o tempo de construírem a casa, estavam casados.

Mais três meses...

___ Chuiquinho... To cum desejo de cumê amora!!! Mai tem que sê

Do pé de amora da Durvalina...Eu acho que to prenha!

Chiquinho tomou Maria nos braços abraçou-a longa e ternamente.

___Louvado seja Deus...Minhã cedinho vou buscá as amora.

No mai tardá to aqui de noitinha.