CUMPADE TIADORINHO

• TIADORINHO

Seria de bom grado para todo povo brasileiro uma política que mantivesse todo homem do campo em seu habitat sem que para isso os políticos precisem fazer politicagem.

- Cumpade, bamo tomá um café?

- Bamo.

- Cumé que vai a vida?

- Bamo levano.

- Qualé as nuvidade?

- Uai cumpade, lá perto do ponto do leite, onde tão falano que o prefeito vai construí uma escola, o cumpade Zé do Gôlo montô um buteco cá ajuda do prefeito.

- Quê que tem lá cumpade?

- Além de cachaça e fumo, costuma tê farinha, querozene, pelota de sabão, breu e o povo junta prá contá as nuvidade.

- Qualé a mais nova?

- Num sei se cê conhece mais a mais divertida que escutei foi dum tar de Tiadorinho, cê cunhece?

- Não cumpade, mais já sei da fama dele, diz qué malandro queném ele só.

- Puis é, diz quesses dia, ele mais o Sinhô foi visitá o sogro que tem umas terra lá pas banda do Paió Queimado. Só que chuveu muito, o corgo ficou cheio e eles não pôde passá. Já tava iscureceno, ês tudo moiado, pediram posada na casa de um tar Tunico da Sirva. Cumo chegaram dispois da janta, a muié já tinha lavado as lôça, só beberam um gole de café quente e foram durmi. Diz que o Tiadorinho tava numa fome que dava dó. Esperô todo mundo durmi, foi lá no fogão, pegô um pedaço de toicinho quele tinha visto dipindurado na fumaça do fogão, levou pro quarto e os dois cumeu inté lambuzá os beiço.

- E aí cumpade? O tar de Tunico discubriu?

- Discubriu cumpade e foi muito pió. Diz que de madrugada, os dois cumbinaram de saí mais cedo pra num passá vergonha. Quando estavam querendo saí escutaram o Tunico levantá.

- E aí cumpade?

- Diz que o home foi pra cozinha cuá café, deu farta do toicinho e deu um grito danado.

- Gritô o quê cumpade?

- Muié, onde cê pois o toicinho deu passá nas amorróida?

- Credo cumpade...

JOSÉ EDUARDO ANTUNES