Será??

Todo o entardecer sempre no mesmo banco ,sob frondosa árvore, lá estava "seu Quinzinho."

Preto velho, saudável apesar e seus 70 anos, famoso por seus contos, que não sabemos serem reais ou frutos de sua imaginação.

Foi numa dessas tardes que eu querendo espairecer,procurei seu Quinzinho...

_Boa tarde seu Quinzinho.

_Oi fio...Engraçado pois eu num tava pensando em vosmecê agorinha?

_Mesmo seu Quinzinho?

_Pois num é? Tava aquí lembrando de quando eu era rapaz novo, lá nas bandas do sertão, na fazenda do falecido coroné Firmino, Deus o tenha!!.

Ele era bão com seus agregado.

Eu mesmo num tinha oque recramá dele não sinho!!

_E seu Quinzinho lembrava de mim por que?

Sou parecido com o coronel?

Eu sabia que lá vinha história, que será que vem por aí, rs rs.

_ nera não fio...É que lá na fazendo tinha um mulatinho meio poeta, que de vez em quando garrava escrevê.

Assim como sumcê né memo? Coa diferença que suncê é poeta letrado e dos bão.

_Que é isso, assim eu fico encabulado.

_Fique não, é verdade!

_Mai sim...

O tal mulato de nome Severino,uma vei, me chamou esbaforido, suando até pela venta...

_Corre, corre seu Quinzinho, a cobra pegou Carminha.

Carminha era a nossa frorzinha de formosura.

Fia mais nova de Sinhô Firmino mais dona Zuleide., acho que naquele tempo ela tinha uns 6 anos por aí.

Mai sim...,levei um baita susto, tava acustumado co essa proeza das cobra, mas nossa minininha não!

Mar tive tempo de garrá o chapeu de cima do girau.

Corremo que nem loco!

Na porta da casa da fazenda, algum dos agregado, rezava, cabeça baixa... chapéu na mão...

_Credo... parece que a coisa foi feia memo...

Na porta Leoncio, Braço direito de Sinho Firmino, num dexava ninguém entra.

_Tamo frito... sem podê fazê nada!...

Foi aí que eu tive a ideia.

_Severino... vamo lá na janela da sinhá e oce diga um verso...daquele lindo memo que fala de Nossa Senhora.

_Num é ora pra verso Home! tá loco é?

Mas memo assim fumo .

Seu Quinzinho, talvez querendo fazer suspense,

pigarreia, esfrega os olhos, acarecia o queixo...

Eu paciente espero, talvez dando um tempo para que ele imagine sua historia.

_Mai sim...

Severino se ajueio no chão, fechô o zóio e de sua garganta saiu aquela belezura de verso.

Mãe emaculada pura e verdadeira

Que carregou nos braços Jesus pequenininho...

Não permita que a hora derradeira.

Visite este lar, levando nosso anjinho...

_Eita quez palavra bunita, nem parece que saiu da garganta de Severino...

_Mai aí, foi como pensei...

Dona Zuleide, nervosa, chegou na janela, olhou pra nois e feiz um sinar pra nois esperá.

Logo apareceu Getulio dizendo que era pra nóis entrá.

Subimo a escada devagar, mais é como se nosso coração quisesse voá de tanta vontade de vê Carminha, ajudá de argum jeito...

Tem que tê um jeito Nossa Senhora.

Carminha, branca que nem leite, nem viu nois chegá.

Mai dona juleide, garro nossa mão num choro só.

Mais uma vez seu quinzinho coça o quiexo...

_Mai aí...

noi meio encabulado, sem ação, pelo meno eu...pensava...

que eu faço agora?

Foi quando eu pedí pra vê a ferida...

_Sentí um arrepio diferente...uma coisa sem jeito, assim como um gelo entrasse no meu cangote.

_Com sua licença dona Zuleide...Coroné.

_Veja lá o que vai fazer,home...disse o coroné oiando de banda,

mai dona Zuleide,garro e disse.

_Num sei por que eu confio nele!

Foi aí que oiei pro artá de Nossa Sinhora alí no canto do quarto, aquele copo de agua, briô na minha frente.

Sem sabê por que, fui lá peguei a água, moiei a ponta do lençor nela e ponhei em riba da ferida.

Severino de oio arregalado, acho que ele num sabia oque fazê tumem. começô a dizê o verso de novo.

Nisso o dotô médico entro...Fazia era hora que o coroné tinha mandado chamá ele, mai...

Enquanto ele lavava as mão e remechia naquela malinha, Carminha abriu o zoio.

_Mãe...

_Minha filha, obrigada Nossa Senhora...

_Mãe, a cobra mãe...

_Não fale filha, se acalme.

_Mas mãe eu quero te contá meu sonho...

Sonhei que uma moça bonita,colocava num sei que no copo de água do altar e daí Quinzinho foi lá pegou a agua e curou meu dodoi.

_Eita mundão de Deus, será? Fiquei coa cisma.

Então o dotô chego perto da menina, pediu pra ve a ferida, oiô, oiô...

_Parece não ter sido uma cobra venenosa.

Recomendo passar este unguento, caso a ferida venha a doer, e repouso. Foi mais o susto.

_Daquele dia correu a notiça que noi era milagroso,eu mai Severino.

Chegamo a reza criança de mau oiado, pega na barriga de alguma buxuda, mai...

Severino queria sê é memo poeta.

Eu, fiquei na fazenda o tempo que Deus quis...

Vim mora na cidade mai Maria...e tô aqui, lembrano dos acontecido.

_Muito linda sua história seu Quinzinho, mas tenho que ir...Boa noite...Fica com Deus.

_Vai co Ele tumém...Vorte sempre pra nois proseá.

_Volto sim...

No dia seguinte, um forte desejo de ver de novo seu Quinzinho, me fez ir até a praça...

_Seu quinzinho...Boa noite seu Quinzinho...

Nenhuma resposta.

_Toquei-lhe o ombro...Ei Seu Quinzinho acorda...

Mas ele não acordou.

Quis o destino que que eu o encontrasse alí no seu mundinho, palco onde personagens reais ou ficticios,

nunca saberemos, tinham seu lugar de destaque.

Segue em paz amigo,vá com Deus.

RoseRolim