AS ESTÓRIAS DE CHICO BUTINA ( PRIMO MILAGREIRO )

Mais um belo dia se inicia na nossa linda e querida cidade de Tatingá.

Para ser mais exato, este dia no calendário, encontra-se definido como 25 de setembro de 1985, o dia mais esperado pelo povo daquela pequena cidade.
Nesta data se comemora o dia de São Tatingá, padroeiro daquela terra cheia de gente boa ( e sacana também é lógico )
Este dia ficou conhecido na cidade, como o dia dos “desejos impossíveis”, ou seja, neste dia qualquer que fosse o seu maior desejo, ele se realizaria desde que fosse abençoado pela boca de um padre.
E assim por mais de 20 anos,todos os desejos foram realizados graças às palavras benditas espressada pela boca do tão saudoso Padre Murilo Eustáquio de Alcantara Baltazar Porfírio da Rocha Salazar da Silva Junior.
Naquele dia, todos pareciam estar mais alvoroçados e felizes que os demais anos de milagres atendidos.
Padre Murilo estava tão eufórico em querer mais uma vez vir a realizar os desejos daquela tão sofrida gente, que fez questão em assumir algumas responsabilidades nos enfeitamentos que estavam sendo aplicados na tão respeitada Igreja de Tatingá.
Como quase todas as obrigações já estavam distribuídas aos responsáveis pela decoração da Igreja, Padre Murilo ficou incumbido de executar a única tarefa pendente na vasta lista de obrigações. Ele realizaria a pintura nas janelas frontais do primeiro andar da Igreja, o que vale lembrar que eram bem distantes do chão.
Sendo assim, ele pega a escada e apóia na parede alinhando a mesma com a primeira de doze janelas que deveria pintar.
Pega a lata de tinta branca, pincel, espátula, lixa, e sei lá mais o que, e acomoda tudo dentro de uma caixa, que de tanta tranqueira deveria estar pesando uns cinco quilos.
Sobe os cinco metros de escada arrastando com dificuldade aquela caixa que na mente dele pesara mais que todos pecados de Hitler.
Chegando ao seu objetivo, Padre Murilo percebe que não teria como apoiar ou pendurar a sua caixa de utensílios, pois a escada era simples e não possuía plataforma ou gancho para este fim.
Foi quando percebeu que a janela à sua frente, possuía uma pequena soleira onde talvez com um pouco de talento e destreza, poderia apoiar aquela caixa cheia de bugigangas.
Dito e feito, Padre Murilo conseguira realizar a façanha, equilibrou a caixa na soleira, mesmo que pela metade de sua base, mas equilibrou.
Inicia-se então os reparos na pintura da primeira janela, e tudo naquele cenário era perfeito...
Pássaros cantando, pessoas felizes e saltitantes andando pelas ruas, crianças serelepes brincando nos balanços da praça, enquanto que outras, com os rostinhos cheio de fragmentos de algodão doce, brincavam em gangorras. Ahhh que harmonia... que tranqüilidade que estávamos vivenciando naquele dia.
Mas como diz um ditado antigo, quando o diabo não pode ir atazanar o paraíso, ele manda um substituto para assim o fazer.
E neste dia, este substituto tinha o nome de Chico Butina.
Chico Butina estava chegando na cidade montado em seu formoso e invejável cavalo de codinome “Barnabé”
O coitado era tão magrelo e sarnento, que nem os mosquitos e carrapatos perdiam tempo em procurar algo para se alimentar naquela desprezível carcaça relinchante.
Calmamente Chico pára perto da Igreja, e desce de sua montaria com o intuito de ajudar nos afazeres daquele templo.
Neste momento, algum moleque espoleta solta uma bombinha próximo ao cavalo de Chico Butina, que ao explodir viera a causar um tremendo susto naquele animal.
Barnabé dispara sem rumo pela calçada, ou melhor, segue em direção à escada que sustentara em seus degraus, o pobre e indefeso Padre Murilo.
Não deu outra, Barnabé passou por baixo da escada e no mesmo instante, arrastou a mesma com seu arreio.
Inevitavelmente Padre Murilo despenca lá de cima sem ter onde se agarrar... A sorte dele era que naquele dia, os anjos estavam de plantão, e como se guiassem o corpo do representante do criador, Padre Murilo viera a cair sobre o toldo que exista na entrada do templo, tendo sua queda totalmente amortecida deixando-o assim sem nenhum arranhão.
Todos que presenciaram a cena, estavam em prantos, todos gritando pela integridade de Padre Murilo. Querendo acalmar os ânimos, padre Murilo diz que está tudo bem e que não estava machucado.
Todos então ficam felizes e mais calmos, pois nada poderia acontecer àquele sacerdote. Se algo de ruim acontecesse, os milagres não se realizariam pelo simples fato de não ter outro padre para bendizer os desejos do povo.
Neste momento, aquele alvoroço todo chama a atenção do sacristão Benito, que se encontrara no primeiro andar da igreja fazendo os retoques de uma das salas. Motivado pela curiosidade, Benito se dirige à janela onde num único movimento vem a abri-la, sem atentar-se que logo à frente dela estava a caixa de bugigangas de Padre Murilo.
Como se fosse guiada por GPS e auxiliada por mira a Laser, a caixa cai diretamente na cabeça de Padre Murilo, que de imediato desmaia sobre a calçada sem ao menos identificar o que viera a atingir sua cuca.
Pronto, começa a gritaria novamente... E o que antes parecia a imagem do paraíso, agora mais parecia a imagem do inferno. Pessoas chorando e tropeçando nas ruas, crianças berrando e caindo das gangorras enquanto que outras estavam com os rostinhos cheio de areia devido a serem atropeladas pelo corre-corre. Era um caos só.
Levaram o padre para o hospital, e logo receberam a noticia que tão cedo o padre não sairia de lá. Segundo o médico de plantão, por pelo menos um mês o sacerdote gozaria dos cuidados daquela instituição.
Na cidade não se falava em outra coisa. Não haveria a noite dos “Desejos Impossíveis” pois não existira outro padre na cidade para realizar esta façanha.
E um chora daqui, outro dali, até que Chico Butina ouvindo todo aquele pranto coletivo, diz que pode ter a solução para aquele problema.
Oia pessoar, meu primu Raimundu é padre aposentadu, si uceis quisé eu ligu prele i Eli vem aqui rezá a missa e abençuar us deseju di todu mundu.
Espera aí Chico, padre aposentado???? Como assim ??? (Pergunta um dos desesperados)
Num sei não uai, só sei qui eli é aposentadu, mais dexa pra lá, é bestera chamá eli, já vi qui uceis num vão querê, i eli nem é da cidadi memo...
Nãooooooooooooooooooooo Chico, pode chamar ele sim, não podemos perder esta noite de grandes milagres. Chame-o aqui, que o receberemos com muito prazer. ( Exclama outro mais desesperado ainda )
E assim, Chico telefona para seu primo que aceita o desafio, deixando todos mais felizes.
A noite chega, e o padre substituto também. Diante do povo, o Primo de Chico Butina diz que aquela noite será de grandes maravilhas, e que em outras ocasiões ele já havia presenciado e realizado grandes milagres em várias outras pessoas.
E todos o aplaudem e o bem dizem, acreditando assim em cada palavra daquele tão simpático visitante.
Padre Raimundo sobe num palanque improvisado, onde sobre ele existia um tapume gigantesco, que ele insistira em chamar de “Tapume dos Milagres”. Segundo ele, quem permanecesse atrás dele ficaria curado de qualquer enfermidade.Todos aceitam a novidade milagrosa, mesmo não aprovando por completo a mudança na rotina de fé daquela tradição.
Raimundo olha para o povo, e diz que seu Dom divido revela a ele que entre todos os ali presentes, existem um aleijado e um gago, que a tempos estavam à procura da tão desejada cura.
E do meio da multidão surgem um homem munido de muletas e outro que prefere permanecer em silêncio. Eles sobem no palanque e se prostam diante de Raimundo.
Levantem-se irmãos, hoje através de meu Dom, lhes concederei a tão desejada cura. Todos choram de emoção, e Raimundo continua...
Irmãos, vão pra trás daquele tapume, lá vocês receberão o que tanto procuram. E na maior obediência, o aleijado e o gago caminham rumo ao tapume sumindo por completo por detrás dele.
Irmão de muletas e irmão gago, estão preparados para receberem a benção que lhes proporcionarei? Pergunta Padre Raimundo.
Sim padre Raimundo, eu estou preparado, responde o aleijado...
Si.. si... simmm PA..pa...piiiiiiiiiiii... pooooooo... paaaaaadre Ra.... iiiiiii,uuuuuuu oooooo mun..mommmm mundo.. eu estou preeeeee...priiiii..prooooo parado . responde o gago.
Pois então neste momento eu os declaro totalmente curados.
E para provar o milagre aqui presente, eu peço para que o irmão aleijado jogue as muletas por cima do tapume, e que venha andando até aqui na frente, pois a partir de hoje você não vai mais precisar delas.
O aleijado então joga as muletas por cima do tapume, e antes que as mesmas toquem chão, todos são surpreendidos por um forte barulho de algo caindo... BUUUUMMMMMMMMMM
O Padre surpreso com aquilo, pergunta para o gago:
Irmão ex gago, o que aconteceu aí atrás do tapume?
E o suposto ex-gago saindo com a cabeça por detrás do tapume responde:

Uuuuuuuuuu aaaalelelelejajajadinnnnnhu CaCaCaaaaaCaiiiiiiuuuuuu!!!!!