O valor de um colar ou o preço da ilusão? (parte 2)

- PARTE 2-

Pierre sugeriu que ela fosse com o vestido do teatro, aquele vermelho lhe caía tão bem! Mathilde não queria o vermelho usado. Queria roupa nova. Não era só um evento, era a chance que tinha de se sentir uma fidalga. Que outra oportunidade teria? Pierre ficou pensativo e perguntou: “Quanto custa um vestido?”- “Quatrocentos francos!”- Mas com esse dinheiro eu compro minha espingarda para matar cotovias!”- “Tudo bem Pierre, fique com as suas cotovias!” respondeu desconsolada a esposa. Naquela noite, o ninho do amor mais uma vez era banhado por ares de tristeza. Ele a abraçou e disse: “Que espere as cotovias, amanhã você vai à cidade e compra o seu vestido”. Mathilde mal esperou o dia raiar e partiu rumo a loja mais chique da cidade. À noite mostrou o vestido ao marido e mais triste que antes disse que não poderia ir à festa. "-Como não?” Indignou-se Pierre. “-Agora que você comprou o vestido não vai?” “- Me falta um detalhe importante, não posso ir sem um colar!” “- Oh querida, vá com as flores naturais que você coloca em seu cabelo, ficam tão lindas!” “-Não! Flores não! Que despropósito! Flores no cabelo em festa de gala!” “-Podemos providenciar uma joia falsa”, ele disse. “-Jamais, todos perceberiam!” “-Então porque você não toma emprestado de Jeanne?” “- Ela pode me humilhar e não emprestar” “- Não saberá se não tentar” “- Assim fez Mathilde. Acatou a sugestão do marido e pediu o colar mais brilhante que a lua cheia para sua amiga que prontamente lhe emprestou. No dia da festa arrumou-se como nunca o fizera. O vestido alaranjado com renda preta combinou perfeitamente com o colar. Parecia uma princesa! Dançou com o patrão do marido e o primeiro ministro também lhe convidou para uma valsa. Mathilde estava radiante e a festa foi maravilhosa! No caminho de casa fazia frio e Pierre a cobriu com um xale. Disse à Mathilde que ela agradara e sem dúvida seriam convidados para as outras festas que viriam. Ao chegar em casa Mathilde foi até o espelho se olhar. Ao tirar o xale levou o maior susto de sua vida: o colar não estava mais em seu pescoço! Desesperado Pierre fez o mesmo caminho olhando atentamente para o chão a fim de reencontrar o colar, o que não aconteceu. Chegou em casa aturdido e meio anestesiado. O que fariam? “Temos que repor o colar, mas como? Uma joia daquela custa muito mais do que qualquer coisa que temos!” Pierre sugeriu que Mathilde escrevesse à Jeanne dizendo que o fecho do colar desprendera e que haviam mandado para o conserto. Logo o devolveria. Decidiram por essa saída enquanto ganhavam tempo para emprestar dinheiro e comprar outro. Foram ao ourives da cidade que fez saber ao casal que poderia fazer um igual. O custo seria de 36 mil francos. Ao saber da quantia exorbitante que teriam que arranjar, os dois começaram a tremer, porém, não tinham alternativa. Não queriam ficar desonrados perante a sociedade. Pierre mencionou à esposa o que teriam de fazer: pegaria os 16 mil francos da herança do seu pai e o restante pediria aos amigos. Pagaria aos poucos. Por mais amigos que Pierre tivesse, o máximo que conseguiu tomar emprestado foi 10 mil francos.

(Continua)

Isabel Cristina Rodrigues
Enviado por Isabel Cristina Rodrigues em 30/11/2010
Reeditado em 03/12/2010
Código do texto: T2646268