O valor de um colar ou o preço da ilusão? (parte 1)
Optei por escrever esse conto a partir de um filme que assisti no começo dessa semana. Não tenho o nome dele pois comecei a assisti-lo depois que estava bastante adiantado. Achei a história tão interessante que não pude deixar de escrever. Fiz várias adaptações, porém, a questão central foi mantida.
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O VALOR DE UM COLAR OU O PREÇO DA ILUSÃO?
-PARTE 1-
Mathilde e Jeanne eram amigas desde o colégio. Viviam sempre juntas, mas depois de adultas, suas vidas tiveram rumos bem diferentes. Mathilde se casou com Pierre, homem pobre e trabalhador que a amava e sempre procurava lhe fazer os gostos. Mathilde levava uma vida diferente de Jeanne. O acesso aos bens materiais era bem mais limitado que o da amiga. Jeanne passou a habitar o mundo que os pobres chamam de paraíso: roupas caras, joias raras, mansão e criados à sua disposição. Numa tarde, Mathilde foi visitar Jeanne. Chegando lá ficou aturdida com tamanho requinte. Duas coisas lhe chamaram a atenção. Uma delas foi o olhar de submissão da criada que tinha ares de “mil e uma utilidades”, um jeito de obediente de dar gosto! Poderia ser uma varredora de tapete, uma ensaboadeira de costas ou uma carregadora contínua de xícaras de chá. Poderia fazer muito e qualquer coisa. Uma pessoa com aquele olhar jamais contestaria a patroa! Mathilde quis aquilo pra si. Pessoas que obedecessem a seus gostos, suas ordens. Não foi só isso que Mathilde desejou. O colar que Jeanne lhe mostrou tirou o pouco de fôlego que ainda restava em seu pobre coração de pobre. Nunca seus olhos brilharam tanto ao deparar-se com tanta beleza. O colar de Jeanne era preto e tinha pedras que brilhavam mais que a lua cheia. Naquele momento qualquer coisa era menor que aquele colar. Ela foi embora pensando nas diferenças que a colocavam num lugar tão diferente do lugar que Jeanne ocupava. Chegando em casa seus olhos ficaram marejados de lágrimas. Que vida fútil e sem graça! Reclamou com seu marido: “Pierre, hoje me sinto muito humilhada, Jeanne tem joias, mora numa mansão, tem duas criadas enquanto eu, o que eu tenho? Uma empregada que por ironia do destino tem muito em comum comigo!” Naquele momento Pierre jantava legumes cozido. Para ele não tinha coisa melhor. Mathilde se irritava com isso. Era doído pra ela saber que seu marido se contentava com uma vida simples em que sempre se comia cozido no jantar. E ela dizia: “Você precisa trabalhar mais, precisamos de mais dinheiro!” À noite, na cama, Mathilde sequer olhou para Pierre. Enquanto ele desejava adentrar no corpo macio de sua esposa ela deixava claro seu descontentamento. Não queria graça. Seu desejo era o requinte, só. O marido olhou desconsolado. Alguma coisa haveria de mudar aquela situação. A “solução” veio a galope. Na mesma semana o chefe de Pierre lhe convidou para participar de uma festa de gala em sua casa. Pessoas importantes como o primeiro ministro também fariam parte do evento. Pierre chegou em casa eufórico. Não via a hora de contar à Mathilde que ela era convidada de uma festa importante. Ao saber da notícia, Mathilde chorou e disse que não iria pois todos perceberiam que ela era pobre! A menos que o marido lhe comprasse um vestido que fizesse jus à ocasião.
(Continua)