Contos dum Milico I
Todo mundo tem uma estória pra contar. Eu tenho várias.
Meu nome Adson Meireles da Silva, sou Oficial da Polícia Militar Baiana onde sou mais conhecido como Tenente Meireles. Os casos que passo a narrar aconteceram comigo, com colegas ou nem passam de lendas. Conto-os como se verdade fossem e não lhes cobro a obrigação de acreditar.
MÉNAGE A TROIS
Logo que formei fui transferido para uma cidadezinha do interior, pouco mais de quinze mil habitantes. Clima hospitaleiro, fora em outrora importante destino turístico, hoje retrata em si a decadência de quem não soube explorar com sustentabilidade o que a natureza lhe deu.
Ora, saímos da capital, eu Júlio e Galinno, três tenentes cheios de sonhos e expectativas. Mas naquela cidadezinha também havia expectativas sobre como seríamos, principalmente entre os policiais. Em meio a tanta especulação surgia a voz da Sargento Doraline:
- São três meninos. Vou dar conta dos três e quando acabar não vai dar pra fazer hum. Afirmou com sensual confiança. Mas desta promessa trataremos em outro caso.
Doraline era de feições suaves, corpo roliço e se movia como quem desfilava. Morena, cabelos curtos em pequenos cachos distribuídos tinha uma relação aberta com o Tenente Santiago. Santiago era casado e sua família morava em uma cidade não muito próxima dali, e isso lhe facilitava levar esta vida dupla. Ele passava a semana trabalhando e só estava com a família nos fins de semana. Com o passar do tempo Dora e Santiago foram naturalmente se apegando, alugaram uma casa onde passavam juntos todo o tempo de folga. No quartel, todos viam, todavia ninguém se ousava comentar as trocas de carícias, os olhares cúmplices. Pronto, Santiago já não viajava todo final de semana para ver esposa e filhos. Sempre tinha um serviço extra, uma missão ou até mesmo o cansaço era desculpa para ficar com Dora por até um mês seguido.
Já sem pudor, desfilavam nas ruas, mãos dadas, curtindo as noites de luar - todas elas tem luar quando se estar apaixonado. Alerta, conselho, tudo era motivo para briga. De longe sua esposa, já desconfiada, foi incentivada a acreditar que Santiago estava aprontando.
Certo Domingo, rondando com uma viatura, avistei o casal bebendo aos beijos em um restaurante local. quando me distanciei uns cinquenta metros o motorista me falou:
- Comando, vai dar merda. Apontou e completou dizendo - Aquela é a esposa do tenente.
Impossível retornar e naquele lugar não funcionava celular, nem sei se hoje já funciona, impossível também era imaginar o que aconteceria.
Ao retornar para o restaurante, nenhum sinal dos três. Olhei em volta e não havia cadeiras jogadas, cacos de vidro no chão rastros de sangue... Sempre me disseram que a esposa do tenente não era fácil.
O tenente tinha um Gol Bola prata que também não foi mais visto na cidade. Janaína, dona do restaurante, foi quem disse que houve a maior saia justa. Que a mulher se sentou à mesa e sussurrou algumas palavra e entraram no carro, os três.
Eles foram para casa que Dora e Santiago tinham alugado, ali passaram a tarde e boa parte da noite. Noite. Foi de noite que eu vi... Que cena inusitada... Lá vinha Santigo tendo ao seu braço direito sua esposa e Doraline, ainda meio desconfortável, à sua esquerda, todos sorrindo com cara de meio dia. Cumprimentei-o. Ele todo prosa entrou no carro. Doraline, por força do hábito, foi sentar-se do lado dele e foi repreendida: Êpa! Aí não! Podemos dividir o homem, mas o lugar da frente é meu.
E naquela condição a esposa de Santiago permaneceu por um mês inteiro. Toda manhã ele chegava exausto, porém feliz. Suas marcas, verdadeiras assinaturas, nos davam a ideia de quem tinha sido a cada noite, Dora a Esposa ou as duas. A final, na cama tudo bem, mas no carro o lugar da outra é no banco de trás.