O PÉ DE CEDRO

A Sombra do frondoso pé de cedro ele passava parte de seus dias de verão, sentado em uma cadeira trançada de taboa, pitando o seu cigarro de palha e contado historias para nós, seus netos. Era uma vida um tanto solitária, os homens da casa, com quem ele poderia se relacionar, dividir seus sentimentos, suas saudades e anseios iam ao raiar do dia para o batente, davam duro na roça e voltavam a tarde e com os trabalhos rotineiros do sitio, ao findar do dia estavam cansado e iam logo cedo, pra cama dormir, visto que no outro dia ao romper da aurora tudo começava novamente e o anoitecer só se prolongava num bate-papo quando um ou outro vizinho aparecia para conversas, sobretudo no verão.

Assim era a vida daquele ancião, a história daquele pé de cedro ele já havia contado muitas vezes, sabíamos de cor e salteado que foi por época do casamento de meu pai quando num dia muito chuvoso, ele estava ajudando na derrubada de uma capoeira para o preparo do terreno para o plantio de uma roça de milho quando a beira da mata do sitio, que hoje não existe mais, ele viu o pequenino pé de cedro a beira do roçado, viçoso com estava, sentiu pena da plantinha e com muito cuidado arrancou e levou para casa de papai, plantando a beira do terreiro, próximo ao poço, lugar onde ele cresceu e reinou por quase quarenta anos segundo seus cálculos.

Pois bem, apesar do pé de cedro fazer parte da historia dele, meu pai certo dia resolveu cortá-lo, pois no local pretendia fazer uma cobertura sobre o poço e com o pé de cedro ali não seria possível a construção de tal benfeitoria. Machado na mão em três tempos a majestosa árvore jazia no chão, seu belo tronco deu uma linda tora que ficou esquecida no terreiro da casa por longo período, ate que certo dia foi transportada para ao povoado de arrasto pelo Mimoso e Malhado, dois bois carreiro que insistiam em permanecer vivo mas que por conta dos trabalhos já prestado, papai não vendia-os de forma alguma, tanto que anos mais tarde acabaram morrendo de velhice.

Dias mais tarde, os mesmo bois agora na carreta, trouxeram da cidade as belas tabuas de cedro que resultaram do beneficiamento daquela tora e sem utilidades para o momento, foram esquecidas no paiol de milho, onde ficaram guardadas por alguns anos.

Vovô velho como era, aproximava dos cento e seis anos pelos informações de seus documentos, porem diziam ter mais idade, haja visto em seu tempo era comum as pessoa serem registradas já adultas e a informação da idade nem sempre correspondia a realidade, mas verdade é que já debilitado pela velhice, veio a falecer.

Naqueles tempos era rotina a confecção da urna funerária na própria casa, tanto é que quando morria uma pessoa, alguém se deslocava até a cidade mais próxima para a compra das mortuárias, ou seja o tecido de cor roxa para forrar o caixão, geralmente o forro esterno era roxo com ramalhetes dourados e o esterno sem estampas, alças para o caixão e se não dispusessem em casa, também a madeira, geralmente de cedro para que o carpinteiro pudesse confeccionar o referido caixão onde o defuntos seria depositado para guardamento e posterior sepultamento no campo santo da cidade, até então o falecido ficava sobre uma mesa, geralmente na sala ou em um cômodo de fácil acessos as pessoas.

Meu avo estava sendo velado na sala, o marceneiro do lugar lá fora preparava o caixão com as tabuas de cedro que estavam guardadas no paiol, quando meu pai desabafou poeticamente:

Dizem que as arvores nos dão tudo a seu tempo,

a flor, a sombra, o lenho e o alimento,

e no ultimo alento, as tabuas para o sepultamento.

Conhecedor que era da historia do saudoso pé de cedro, compreendi que naquele momento a ditado se fez verdadeiro: Vovô plantou e cuidou do pé de cedro abandonado, descansou em sua sobra, demonstrou tristeza por época de sua derrubada e por fim usou de suas tabuas para ir à sua morada eterna.

Triste ou bela sina marcada.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 27/11/2010
Código do texto: T2640679
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