Casa de farinha
Eu não sei como seria se não houvesse tanta gente boa nesse mundo...
Apesar dos diabinhos que pairam sobre a terra fazendo maldade, encontramos pessoas generosas, capazes de amar, de se doar para ajudar o outro.
Isto me traz de volta no tempo, me levando para um galpão aberto onde muitas mulheres sentam-se em círculo, todas com uma pequena faca na mão, pernas estendidas, avental sobre a roupa, cantando músicas alegres e contando anedotas muito engraçadas o que faz desse trabalho mais leve e prazeroso.
Ao centro uma “ruma(*)” de mandioca que serão raspadas para ser feita a farinha. De manhã cedo os homens já na roça arrancando e separando as manivas das raízes e os meninos enchendo as carroças e transportando para a casa de farinha.
Depois de todo o processo para a retirada da goma extraída da massa prensada é que é a melhor parte, pelo menos para mim. Enquanto a massa seria torrada sobre um forno quente e o torrador depois de algum tempo ali fica branco de pó, as mulheres preparam a goma para o delicioso beiju. São de variados sabores e formatos.
Na noite fria aquecidos com a quentura do forno enquanto aguardávamos ansiosos pelos beijus quentinhos, recheados de coco, de açúcar, na palha da banana... Eram tantos que nem sei contar, mas sei que eram muito gostosos. De barriga cheia o sono dominava enquanto Morfeu me abraçava aos poucos e ali naquele galpão, protegido por tantas comadres eu ficava sobre a esteira de palha até que tudo terminasse e fosse para minha cama. No dia seguinte, tudo de novo...
(* ) muitas raízes de mandioca juntas.