Ilustração:ilusão de ótica:omesmo desenho representa uma jovem e uma velha, preste atenção!Convide crianças a descobrirem...




A velha e a Sopa de Pedras, para crianças de Todas as Idades(recontada)



12/10/2006 12h11
Literatura infantil:download grátis:baixe, grave e presenteie!
Imagem:capa de A Indiazinha e o Natal(criada por Baçan).



Amigos:
Meus e-books infantis(O SONO DAS FADAS, Sopa de Pedras, A Estriga,A Indiazinha,Os Anjos de Milinha, O Anjinho da Árvore-as três últimas são histórias natalinas) estão neste site, no link E-livros.
São resultado de um lindo trabalho de Lourivaldo P. Baçan, o Mago das Letras.Adoro essa parceria, pois ele parece adentrar o próprio pensamento no meu imaginário e os livretos ficam lindos!


Vc pode presentear crianças hoje passando-os para Cd ou disquete.
As páginas abrem uma a uma, bastando clicar na capa, à direita, embaixo, sobre a seta,na capa, para abrir e usar o mesmo processo para virar ou retroceder.

E, para agora, aqui e já, uma das histórias infantis, do folclore brasileiro,  recontada e complementada com meu olhar de psicóloga e nesgas de meu imaginário:



A VELHA E A SOPA DE PEDRAS


Clevane Pessoa de Araújo Lopes






Quando eu era pequena, minha mãe contava a
mim e a meus manos a incrível(crível, a bem pensar),a história de um velha mulher que conseguiu fazer um sopa de pedras...
A mulher andava pelos lugares fazendo pequenos trabalhos, como limpar um jardim, lavar roupas ou passá-las,limpar gaiolas, qualquer coisa, pois era sozinha e já não era tão forte ou bonita que pudesse arranjar um verdadeiro emprego...A idade raleara e embranquecera os cabelos, secos como lã velha e encardida.Faltavam-lhe vários dentes...Rugas, como o plissé irregular de um tecido mal cuidado ,cobriam seu rosto apergaminhado, onde manchinhas, sinais protuberantes e pêlos duros como piaçava, a tornavam no mínimo, digamos, difícil de se encarar...
Mas era muito esperta, para compensar a fealdade...ou talvez não fosse tão feia se rica fosse...aí seria uma avozinha de vestidos enfeitados com golas de guipüre, usaria cremes na pele cansada...óculos para corrigir a miopia...meias que lhe escondessem as varizes...
A fome estava a fazer ronronar,como um gato aborrecido, seu estômago vazio...Passou por uma casa e perguntou à mulher que estava à janela:

-A senhora, por acaso, poderia dar-me algo para comer?Estou andando desde cedo e não consegui trabalho...

A outra, que era uma velhinha viúva e sem recursos, respondeu:

_Ah, se você tivesse vindo mais cedo, eu poderia ajudar a matar sua fome com uma sopa de batatas que fervia no meu fogo...mas como não havia com quem dividir, repeti e comi as sobras, pois à noite, tomo apenas chá e como pão torrado, para a digestão não atrapalhar meu sono...Você sabe, como nós, as idosas,temos o sono difícil...

-Ora se sei...então, por favor, pode me dar um pouco de água?
Prestimosa, a outra foi buscar a água.Na verdade, poderia fazer um chá de Melissa para a outra, mas...ela queria almoçar, pensou...

Quando voltou, observando a sede da outra, comentou:
-Eu poderia dizer-lhe que pedisse naquela casa grande ali da esquina, mas a dona é muito pão-dura...

A pedinte perguntou:
-Quais são as outras características dessa mulher que não socorre os pobres?

-Dizem que é muito curiosa, muito mesmo...
Devolvendo-lhe a canequinha de ágata já com sinais de velhice, como as das suas mãos,perguntou(era muito perguntadeira, como podem ver):

-Você sabe como ela trata os pobres que lhe pedem restos?

A outra balançou a cabeça, negativamente:

-Não posso lhe dizer, pois não estou perto para ouvir o que diz, mas daqui da janela, vejo que as pessoas não demoram e saem de mãos vazias...
-Você tem algum serviço para mim?

-Nenhunzinho, porque moro sozinha e sou muito caprichosa...também, não há mais ninguém para desarrumar...

O olhar da velhinha perdeu-se nas lembranças.A outra então, se despediu:
-Então obrigada e até logo...Mas quer apostar como vou conseguir alguma coisa?

-Com quem?Com a mulherzinha da esquina?Qual o quê!Já disse que lá você não consegue “nadica de nada...”

_-Olhe:fique olhando daí da sua janela...
E, decidida, foi até à tal da casa.Olhou pelos vãos do portão de ferro, atentamente...Olhou em volta de si e apanhou três seixos rolados que deviam ter ...rolado dos muitos que ornavam o jardim da casa azul.Colocou-os perto de si, no chão.Bateu palmas.

A dona da casa apareceu ,num vestido de cassa,de casa, com um xale de fino crochê nos ombros magros.
-Pronto, o que quer?

-Perguntar, depois de dar boa tarde, porque é mais de meio- dia(sei porque estou com a barriga reclamando a fome)se a senhora tem algum servicinho que eu possa fazer em troca de um bom almoço...

O adjetivo “bom” quase pôs tudo a perder, porque a mesquinha adorava usufruir de serviços pelos quais não precisasse pagar, mas como a mulher falou “bom almoço”, por certo, pensou logo, franzindo a testa e torcendo o nariz afinado, apertando os lábios de canoa, estaria a querer um prato variado e cheio.

-Desculpe, mas já almocei e não sobrou nada, também não tenho nenhum serviço para que faça...Mas de onde vem?

-Moro lá no alto , no morro, saí cedo e...
Assim dizendo, quedou-se a olhar o chão enquanto a outra esperava.

-E?...

-Ah!Uma bela pedra para minha sopa, disse a pedinte, a sopesá-la na mão em concha.

_-Uma pedra para quê?!A outra acreditou não ter ouvido-a muito bem e, abrindo o portão até então fechado,aproximou-se.

Sem responder, a velha abaixou-se e catou a pedra menor.Observou-a como se fosse uma soberba batata.

-Hum!!!Essa está ótima...

-Ótima para quê, hem?

_Ah, e mais uma...

Sem poder conter sua curiosidade peculiar, a outra estava bem perto agora:
_E então, pedras para o que mesmo a senhora disse?

-Para fazer sopa, ora...minha mãe me ensinou que quando queremos fazer comida, basta usar a imaginação...Vou usar estas pedras e assim, farei uma bela sopa...basta pensar que as pedras são legumes...

A dona da casa ficou entre crer e não crer.E se fosse verdade?Afinal, assim, economizaria muitas moedas, pelo menos...para fazer a comida dos criados...

A voz da outra, sempre educada, despertou-a de seus pensamentos:
-Por favor, a senhora deixa que eu lave as pedras?Elas têm de estar muito limpas...

Vendo e apreciando a higiene da mulher, mas principalmente, louca de curiosidade, mandou-a entrar e lavar as pedras na torneira do jardim.Terminada a tarefa,a velhota saiu e pôs-se a procurar alguma coisa no meio do mato que crescia ao lado da casa.Alguma coisa,mas que coisa, perguntou-se D.Etelvina, a sovina.E não se agüentando mais, foi atrás da estriga , indagando a torcer as mãos:
-E agora, o que busca?

-Pedacinhos de carvão para acender o fogo, senão, como a sopa vai ferver?

A outra viu-se “entre a cruz e a caldeirinha”, como diziam lá na terrinha.Poderia dar-lhe uns carvões, mas...fez-se de mouca, foi até ao portão, onde ficou, sem olhar diretamente para as andanças da velhinha,mas a espiar por baixo e para os lados, disfarçadamente...

-Achei, disse a velha e triunfante- brandiu um carvãozinho do tamanho de uma farpa-agora é só procurar mais...

Aí D.Etelvina impacientou-se.Correu ao depósito no fundo de seu quintal e voltou com uma lata cheia de carvões.
-Tome, minha boa mulher, assim a sopa sairá mais rápida...

-Como a senhora é generosa, sorriu-lhe a outra com a boca desdentada,obrigada!

Por não ter sido nunca assim nomeada, a doninha riu-se com gosto:
-Ora não foi nada...Uns carvõezinhos de nada...Com isso, ela queria convencer a si mesma que a ajuda fora mínima.Sempre achara que quem dá esmolas auxilia a vadiagem.Se bem que aquela uma ali, pedira primeiro para trabalhar.

A dona da sopa ajeitou uns tijolos quebrados, aninhou entre eles os carvões e exclamou:
-Nossa!E agora?Não tenho fósforos!

-Espere que eu pego uns para a senhora.Foi à cozinha, retirou da caixa uns palitos e já os vinha trazendo quando lembrou que a outra,para acendê-los precisava friccioná-los na lateral da mesma.Voltou, tirou os muitos palitos da caixinha, colocou-os na gaveta da mesa e voltou.Depois que a outra acendeu o fogo,perguntou, agitada:
_-Mas a senhora vai cozinhar onde?

Ladina, a outra fingindo não entender, sacudiu os ombros e muito calma, disse:

-Aqui mesmo, ora, nesse fogãozinho improvisado...

-Estou falando da panela...

-Pronto, só faltava essa!E não é que me esqueci disso?Vou ver se acho alguma lata, porque onde a senhora trouxe o carvão, tem uns furos e ferrugem.

-Espere, fez a outra, com pressa de ver a magia da sopa de pedras:num instantinho trago-lhe uma.Correu à cozinha.A estrategista ficou a sorrir sozinha...
Veio um caldeirãozinho onde foi colocada a água da torneira do jardim e as pedras que a mulher guardara no grande bolso do gasto avental de sarja.Dona Etelvina voltou à cozinha e de lá, trouxe uma pequena concha amassada.Enquanto a água esquentava,a estriga cantava:
Maruim, Maruim, faça uma boa sopa pra mim...
Maruoa, Maruoa, torne esta sopa bem boa...
Maruenta, Maruenta, deixe-a ser suculenta...

Dona Etelvina, que a tudo observava de forma a nada perder, ia tentando decorar os versinhos ,quando deu um grito:
-Mas e o sal, mulher?!

_-Deixe eu provar...Hum...é, acho que posso colocar mais um pouquinho...

-Mais?Mas eu não vi você colocar nadinha aí...
-E a imaginação?Não conta?

-É verdade!Posso provar?

-Claro...E tendo dito, virou na concha da mão da outra,um mínimo da água ainda morna.
Provando aquele pingo, a dona das coisas que ali estavam, nada sentia, exceto um gostinho muito longe do próprio suor de sua mão, pois quando estava suada, tinha muita sudorese nas extremidades...

-Concordo, vovó:precisa de mais um pouquinho de sal...Vou buscar...
E se foi, pensando que a pobre mulher por já ser idosa, certamente tinha enfraquecido os poderes da sua imaginação.Trouxe um punhadinho de sal e uma folhinhas de salsa que arrancou de um molho sobre a pia.Ofereceu-as dizendo:
-Gosto de salsa na sopa, e a senhora?

-Claro, minha filha.A sopa é o milagre da multiplicação, é a salvação dos pobres:tudo que sobra, pode ser nela colocado...

D.Etelvina fez uma breve contabilidade do que sobrara do almoço:uma fatia de carne assada, duas cenouras, uma batata e um pedaço de pão.Listou para a outra as preciosidades e num fio de voz-porque não tinha o hábito de ser generosa daquele jeito e antes que se arrependesse- arrematou a fala com um balido trêmulo:-...Queeeer?

A dona da sopa aquiesceu distraidamente:
-Não carece, porque estou aqui imaginando uns pedaços de mandioca, de abóbora,uma folhas de couve-manteiga...e por falar nisso, vou imaginar também uma colherinha de manteiga...Dá um gosto!...Mas se quiser trazer suas sobras, vai ficar mesmo muito melhor...Aí, até poderemos dividir nossa sopinha...

D.Etelvina, que era gulosa, estava com a boca cheia de água:o cheirinho da salsa já estava no ar...Foi mais que depressa apanhar tudo a que se referira, ia e voltava correndo, para não perder nadinha daquele milagre.

-Sopa de pedras!!!Ora, quem diria!!!

Quando voltou, com uma travessa de flandres, onde tudo foi sendo picado pela outra, já com o estômago nas costas, como costumava dizer, viu que a velha enquanto olhava a manteiga derreter na fervura, cantava novamente:
Obrigada mãe natureza
Legumes e verduras são “demais”...
Esta sopa é uma beleza...
Não vou ter fome nunca mais...

-Quer provar de novo?Acabo de imaginar mais folhinhas e raminhos de salsa ... Uma pontinha de queijo ralado...Hum...Já está pronta!

D.Etelvina pigarreou e tirou,até hoje não sabe de onde, o convite:
-Olha, então vamos logo lá para dentro, onde há mesa e pratos, porque esse vai- e- vem me deixou cansada e com fome de novo...

Foi colocando sobre o prato fundo das duas ,uma generosa camada de queijo Parmezon ralado, que ela teve a intuição de que nem ia precisar sair, estava empregada...foi saboreando a sopa nutritiva enquanto suava profusamente, que a dona da casa pensou:
-Não vou deixar essa boa mulher escapar!Onde vou conseguir outra que saiba fazer essa deliciosa sopa de pedras?...

Sopa de pedras, sopa de imaginação, sopa de restos, sopa de cooperação......


Bom, já li outra versões, até com o protagonista principal sendo um esperto homem.Na verdade, quando cresci e as li, me espantei porque pensava que mamãe inventara essa história, das quais era boa repassadora...E é bem verdade que quem conta um conto, aumenta um ponto:desta vez, não só como escritora, mas como psicóloga, deixei fluir...
(de Histórias Recontadas)


Clevane Pessoa de Araújo Lopes



(Você pode copiar, repassar, mas cite a fonte...e se quiser recontar a seu jeito,faça uma releitura, como eu e mande uma cópia,teremos prazer em hospedar sua versão-CAMPANHA PELOS DIREITOS AUTORAIS, ENGROSSE ESTE RIO...)


Publicado por clevane pessoa de araújo em 12/10/2006 às 12h11
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