Dona Badinhha

Dona Badinha

...Já passara de meia noite e as mãos hábeis de Dona Badinha alinhavava a barra do vestido de Lourdinha, a qual ansiava pelo encontro com o moço que viria do Rio de Janeiro. E ela não poderia deixar de estar bela. Queria impressioná-lo.

A senhora costureira de feições cansadas tinha alento ainda para acompanhar àquela hora, as orações da moça que pedia alem de saúde, muita felicidade e se fosse da vontade de Deus... encontrar a pessoa certa para a sua vida. Sossegada ficara ao observar com os óculos na ponta do nariz, o ar de satisfação de Lourdinha que se contorcia diante do grande espelho, apreciando aquela obra prima.

a moça não cabia em si de tanta felicidade. Amante de música e da leitura, trocava com as amigas, romances e revistas de fotonovelas. Imaginava ser ela agora uma daquelas personagens das quais sua mente estava povoada e que tanto a fascinava e dava-lhe prazer .

Em determinado momento, vendo-a em êxtase lhe veio a mente: não seria melhor se pedisse a Deus que fosse feito a sua vontade, no caso da moça que se embelezava para alguém que de longe viria e do qual só conhecia a fotografia em preto e branco que outrora lhe havia enviado com uma singela dedicatória?

Em um passado recente, foi-lhe confidenciado o desejo de se tornar esposa de Cristo, ( entrar para o convento ) pois os desejos carnais a consumia e queria então oferecer-se em sacrifício àquele a quem mais amara acima de todas as coisas. Porém, na sua discrição, não ousara fazer tal comentário com a menina de rosto rosado e pele alva como a neve. Parecia enfeitiçada face ao momento que se aproximava. Em dado momento perdeu a razão e deixou escapar num sussurro. - Faria qualquer coisa para ter aquele moço. Revelou seus desejos libidinosos e não se importaria se se consumasse o fato.

Dona Badinha suspirou fundo e já não podia nada mais fazer a não ser de joelhos numa fé contrita, pedir a proteção divina àquela doce criatura, sua cliente que era antes de qualquer coisa, uma grande e cara amiga.

( do livro – Memórias de um menino das areias – George Paulo )

GEORGE PAULO
Enviado por GEORGE PAULO em 18/11/2010
Reeditado em 20/11/2010
Código do texto: T2622361