O defeito do Romildo

Sinceramente eu o achava o cara mais legal da sala.

Caladão, quase não falava nada. E quando falava alguma coisa quase não se ouvia o que ele estava dizendo.

Não consigo entender até agora o porquê de sua família o terem levado a um psicólogo. Diziam que ele tinha alguma deficiência mental só por que era caladão. Taxavam-no de introvertido só por que ele não gostava de ser chato como os outros garotos de sua idade. Eu particularmente achava que quem deveria ter ido para o divã de um psiquiatra era aquele bando de xaropes que não paravam de falar um só segundo durante a aula. O pobre do professor simplesmente não conseguia explicar a matéria só porque um bando de pessoas normais e extrovertidas não paravam de falar um só segundo. E o pior, só falavam merda. Não se aproveitava nada do que falavam. Porém o pobre do Romildo, que ficava quietinho ao seu canto prestando atenção à aula, sem atrapalhar ninguém, é que era o louco. Consideravam-no louco só por que ele não gostava de ser chato.

Não sei se ele ficou chateado com isso. Eu acredito que sim. Os parentes viviam lhe torrando a paciência só por que ele era caladão. Sufocavam-no de uma tal maneira que chegou uma hora que ele se recolheu a um canto e nunca mais a gente viu ele. Até que um dia acharam-no pendurado pelo pescoço a uma corda amarrada no cano do chuveiro. Coitado do Romildo. Na minha opinião foi o cara mais legal que eu conheci em toda a minha vida. Ele não enchia o saco de ninguém. Ele tinha uma paciência danada com a gente. Ficava horas, se fosse preciso, ouvindo alguém derramar suas lamúrias sem nunca reclamar de nada. O Romildo, coitado, só tinha um defeito; ele odiava ser chato.