O nego d'agua

Dentre tantos causos,o que assustou meu irmãozinho mesmo,foi
o causo do tal nego d'agua.
Geraldo,um jovem contador de prosa,exibia um dedo seco,com uma unha enorme.
Dizia ele, ter decepado com um facão quando o nego d'agua tentou virar sua canoa.
Bicho preto feito breu,corpo escamoso,sempre sentado numa pedra,à beira da represa,comendo um peixe.Esse era o tal nego d'agua.
Do meu lado,um corpo queimadinho pelo sol,olhos arregalados de medo.
Era meu irmão assustado com o causo.
Eu era a dona da coragem,adorava ouvir e não acreditar.
Minha irmã cursava a oitava série.
Eu sabia bem o que era folclore,adorava ler os livros que ela trazia da biblioteca.
Sem contar que Monteiro Lobato abrilhantava as manhãs na TV.
Eu amava o sitio do pica-pau amarelo.
Mais como ali não tinha tinha energia elétrica.
Viajávamos a luz do lampião.
Eu também contava meus causos.
E acredite.Teve marmanjo com medo da Cuca.
Na manhã seguinte,canecas na mão,la ia eu e meu irmão rumo ao curral.
Ele com um medão danado.
Eu passava o na conversa rapidinho.
Segura da minha verdade disse a ele.
-Se assuste não.Povo daqui é simples,acreditam no que contam,porque as lendas passam de pai pra filho.
-É um jeito de afastar as crianças pequenas de perigo.
-Criança que tem medo do nego d'agua,não vai à represa...
Eu era uma criança grande.
Pelo menos na irreverência.
Já subidos na terceira tábua do curral,sussurrei bem assim:
Esse aí sim,me mete medo.
Sujeito estranho e encarado.
Sem contar que vive bêbado.
Não conta histórias,nem nada.
Ninguém sabe da onde veio.
De repente, o vaqueiro se vira com cara de poucos amigos e diz:
-Dá os copos.
Bebemos logo o leite da teta e evaporamos dali.
Pulando igual cabritinhos,corremos rumo a represa.
-O ultimo a chegar é mulher do padre!
E la fomos nós nadar com o nego d'agua...
Ah! delicia de vida!
Ana Maria Cristina
Enviado por Ana Maria Cristina em 17/11/2010
Reeditado em 04/12/2010
Código do texto: T2620371
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