O Colecionador
Colecionar obras de arte, sobretudo quando se trata de peças antigas, ainda é um hábito mantido por diversas pessoas. Muitas vezes diante de uma ânsia incontida de enriquecer suas coleções, cada vez mais, não medem sacrifícios. Para tanto, percorrem centenas de quilômetros se deslocando para cidades as mais distantes numa busca incessante de peças as mais valiosas pertencentes as famílias antigas que, por ignorar o seu valor, não se apercebem do quando representam.
Isto posto, tais colecionadores se vêm diante de peças de inestimável valor onde seus humildes proprietários, sem noção do valor, se desfazem das mesmas não apenas por desconhecimento como, acima de tudo, pelas dificuldades financeiras enfrentadas. Daí, na maioria das vezes, tais peças são adquiridas por preços irrisórios.
Foi o que ocorreu, certa feita, com um colecionador numa pequena cidade do interior para onde se deslocara. Em lá chegando, percebeu um homem de idade avançada sendo numa tosca cadeira de balanço frente a um modesto casebre, tendo ao seu lado um gato bebendo leite contido num prato de porcelana chinesa extremamente raro. Exímio conhecedor de peças de arte e sem se deixar trair pela emoção que lhe invadira, se dirigiu ao referido ancião dando início ao que, deantemão, parecia ser uma simples conversa despretenciosa.
No decorrer da conversa imaginara, sem a menor sombra de dúvida, que deveria ser uma fácil aquisição daquela raridade uma vez acreditar tratar-se de um homem ignorante o qual desconhecia o real valor daquele objeto desejado. Ledo engano, pois o ancião era muito mais esperto do que parecera.
Conversa vai, conversa vem e, num determinado momento assevera que gostaria muito de fazer uma surpreza a sua mulher, dando-lhe como presente aquele gato para que o mesmo lhe fizesse companhia durante suas constantes ausências propondo, então, que o velho lhe vendesse o referido animal. Diante da proposta, o velho pondera que não gostaria de se desfazer daquele animalzinho, uma vez que na condição de viúvo e sem filhos o gato representava sua única companhia. Mesmo diante da irredutibilidade do velho em não lhe vender o gato, o colecionador de obras de arte duplica a oferta inicial de 100 mil réis. Após reiterada insistência o velho resolve se desfazer do animal, asseverando que o mesmo iria lhe fazer muita falta pois se tratava da sua única companhia.
Concluída a negociação por 200 mil réis e pago em espécie, o homem de posse do animal lamenta não ter onde colocar o leite para alimentá-lo e, despretenciosamente, solicita que o velho lhe ceda aquele prato.
Foi nessa altura que o velho demonstrando toda sua perspicácia se nega em dar-lhe o citado prato uma vez que devido a ele já tinha vendi mais de 15 gatos somente naquela semana.