Burra apaixonada

Há tempos passados um fato inusitado ocorrera no sertão de Paraíba, segundo relatos dos mais antigos que residam por aquelas bandas.

Como a maioria dos rurícolas, residia num pequeno sítio nas cercanias de determinada cidadezinha, seu Lotário, preto velho, septuagenário, já um tanto caído pelos anos, o qual ainda trabalhava de sol a sol. Além dos cuidados com a roça de subsistência, possuía duas vaquinhas mestiças e uma burra já cansada em decorrência dos anos árduos de trabalho.

Logo cedo, antes mesmo do dia clarear, Lotário se dirigia ao pequeno estábulo no sentido de ordenhar as vacas e, em seguida, rumava em direção à cidade para comercializar o leite obtido. Colocava os vasilhames com o leite numa pequena carroça de tração animal, somente regressando ao sítio quando todo o produto da ordenha se esgotava. Entrava ano e saia ano e a rotina persistia. E assim o preto velho ia levando a vida.

Vizinho ao sítio de Lotário morava Zé de Lídia, mulato ainda imberbe, nos seus dezessete a dezoito anos de idade, malandro à toda prova. Vivia às custas do seu pai sem, no entanto, trabalhar. Passava os dias ora passarinhando; ora surrupiando frutas nos sítios dos vizinhos; ora tomando banho num riacho que corria mansamente nas proximidades da sua casa. E só.

Já entrado na pubescência, Zé de Lídia, desprovido de condições financeiras para frequentar o meretrício localizado numa vila próxima, começara estranho relacionameneto com a burra Dondinha do seu Lotário. Logo ao escurecer, ia ele pé ante pé até onde a burra se encontrava. A princípio, na tentativa de angariar a simpatia do animal, stinha o cuidado de oferecer alguns hortaliças furtadas na vizinhança; um pequeno feixe de capim verdinho; tudo na mais torpe das intenções. Desse modo, uma vez conquistada a afeição da burra, Zá de Lídia passou a ter conjunção carnal com a mesma, fato que se tornara repetitivo.Muitas vezes no auge do seu despurodamento asseverava: --- somente não lhe dou um par de sapatos por que voce tem os pés redondos; e outras coisas de tal natureza---. Tudo no maior segredo a fim de que o preto velho não se apercebesse do fato.

Um belo dia, após a ordenha habitual e tendo acomodado os vasilhames com leite na corroça, Lotário se dirigiu à cidadezinha distante poucas léguas do sítio com o propósito de vender o leite.

Seguindo pelo caminho costumeiro e, ao entrar no povoado já com o dia bastante claro, eis que a burra Dondinha, ao avistar Zé de Lídia vindo em direção contrária à sua, inopinadamente, azurrando, levanta as patas dianteiras e como um animal profundamente assustado se desvencilia da corroça provocando uma brusca queda de Lotário juntamente com os vasilhames derramnado todo o leite ladeira abaixo.

Como num passe de mágica o animal se aproxima de Zé de Lídia passando a lamberlhe com sofreguidão.

Naquele momento um grande ajuntamento de pessoas se formara nas proximidades do ocorrido. Dentre os muitos cuiriosos se destaca um homem já idoso, antigo morador daquelas plagas,externando de forma contundente sua revolta.

---Esse sem vergonha --- se dirigindo a Zé de Lídia, procurando justificar o procedimento do animal ---só pode ter andado de safadeza com a pobre burra.

No dia seguinte, o jornalzinho daquela pequena cidade estampava como manchete na primeira página:

BURRA APAIXONADA PROVOCA ACIDENTE

QUASE LEVANDO O SEU DONO Á MORTE.

wellmac
Enviado por wellmac em 14/11/2010
Código do texto: T2614314