Causo macabro
Dr. Cabral – médico, clínico geral – quando alguém lhe perguntava se acreditava em fantasmas, sempre respondia:
_ Não creio em espíritos, mas … Aí ele emendava o assunto, contando um fato acontecido em suas andanças pelo interior da cidade de Raposos – MG.
Recordo-me de um causo contado por ele, quando de um atendimento médico a um senhor silicótico, morador do distrito das Cândidas.
Segundo ele, ao voltar deste vilarejo bem rural, pressentia que alguém o acompanhava. Era uma noite fria e a névoa cobria os campos da estrada que ligava aquela cidade ao povoado do Morro Vermelho.
Queria olhar para trás, mas sua capacidade intelectual não permitia que acrediatsse no sobrenatural - afinal de contas, naquela época, quem tinha um diploma de Doutor poderia contar nos dedos, por aquelas bandas.
Enquanto caminhava, julgava que a curiosidade fosse ficando para trás, o pensamento se voltava para a frente, para os obstáculos que a caminhada à noite lhe impunha.
Um calafrio subia, mas era o vento que a noite trás, o responsável – assim ele se apegava para desviar o pensamento.
Quando, praticamente, as Cândidas não mais era vista, o presságio de acompanhante se dissipara; então, Dr. Cabral olhou para trás e nada vira.
_ Tá vendo seu bobo, não há nada, não! Era só impressão! Assim ele falava consigo mesmo.
Pausando bem no alto do caminho, na virada, o Doutor ajeitou seu chapéu na cabeça – protetor do orvalho - e ficou admirando a beleza daquele lugar:
_ Sim, senhor! Que frescor da noite e que imagem bonita! Pensava ele;
Após os minutos de repouso, pôs-se a caminhar, novamente.
De cigarro entre os dedos, pronto par acendê-lo, eis que uma binga lhe aparece e uma chama se fez.
Cigarro aceso, Dr. Cabral, levantou o olhar para agradecer à pessoa que veio ao seu encontro, antes que o mesmo recorresse à algibeira, mas não se viu mais ninguém à sua frente.
Após a contação, ele arrumou a calça na cintura, tirou o chapéu, passou a mão nos cabelos, recolocou-o e repetiu:
_ Não creio em espíritos, mas …